"Nasceu para nós o
Deus-Menino"
O sentir medo faz parte do ser humano, principalmente na relação
com Deus onde todos os personagens do Antigo Testamento, desde os patriarcas até os profetas, sentiram
medo quando Deus se revelou para confiar-lhes uma missão. O pecado e o
sentimento de culpa nos fazem ainda mais medrosos diante de Deus, no Novo
Testamento percebe-se que constantemente os discípulos são dominados pelo medo
em muitas situações, na experiência que fizeram com Jesus, e em todas essas
situações o próprio senhor irá lhes dizer “Não tenhais medo...”. Temos medo
daquilo que não conhecemos, temos medo de algo que é muito maior que nós, temos
medo de tudo aquilo sobre o qual não temos controle e nem a compreensão.
Temos medo das forças da natureza, medo presente em tantas fobias e
traumas sofridos na infância ou adolescência, mas temos muito medo
principalmente de Deus, infelizmente muitos fazem da experiência com Deus uma
relação baseada no medo... de não ser amado, perdoado, compreendido e aceito.
Qualquer rejeição nesta vida é dolorosa, mas o pensamento tenebroso de que Deus
possa nos rejeitar algum dia, nos causa grande pavor e angústia, independente
de termos ou não uma prática religiosa, e pertencermos a uma Igreja.
Os pastores eram pessoas rejeitadas pela sociedade e religião,
considerados impuros e incapazes de alcançarem à salvação, nem no templo podiam
entrar e ninguém confiava em suas palavras. Eles representam neste evangelho da
Noite de Natal, todas aquelas categorias de pessoas excluídas, marginalizadas,
consideradas lixos da humanidade, irrecuperáveis e desprezadas, pessoas de tão
baixa qualidade que não compensaria trabalhar para recuperá-las socialmente e
moralmente. Cada um de nós conhece alguém nessas condições, talvez membro da
nossa família, ou que more perto de nós, pode também ser alguém da comunidade,
que muitas vezes olhamos com o canto dos olhos.
Nesta noite de natal Deus fez uma revolução, deixou de lado as
noventa e nove ovelhas de Israel e se manifestou na pastagem, em primeiríssimo
lugar aos homens desqualificados e desprezados, que diante de tanta rejeição
social e religiosa, já tinham gravado no coração e na mente, que o Messias
Salvador viria somente para os justos praticantes da lei de Moisés, por isso, o
primeiro sentimento que lhes invade o coração diante do anjo do senhor que lhes
apareceu naquela noite é justamente o medo, talvez de um castigo ou condenação.
Não é este por acaso, o sentimento que temos quando pensamos em nossa morte?
“Na tenhais medo! Eu
vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje na cidade de
Davi, nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor...”
Nasceu para vós - não nasceu para os que se consideram justos,
santos e zelosos cumpridores da lei, é um salvador que fala a nossa linguagem,
que tem a nossa carne, que é pobre e rejeitado, como os pastores, nem tinha um
lugar confortável para nascer. O sinal confirma essa proximidade de Deus com os
homens, trata-se realmente do Emanuel, “Deus conosco” – não se trata de uma
criança com super poderes, mas de um menininho pobre, deitado entre as palhas
de uma manjedoura, envolto em faixas e que precisa dos cuidados de um pai e
mãe, como qualquer criança. É o mistério da Encarnação em toda a sua beleza,
manifestada naquela noite em Belém, em que Deus se vingou do Pecado cometido no
Paraíso do Eden, quando o homem foi tentado pela serpente a ser igual a Deus.
Natal é a loucura de um Deus, que amando apaixonadamente o Ser humano,
percebendo que este jamais chegaria a ser igual ao Divino, decidiu rebaixar-se
e quis ser um homem, para que a humanidade se Divinizasse. Por isso é Mistério...incompreensível
e inaceitável na pós modernidade onde o homem busca incansavelmente a sua
ascese na vida profissional, nos estudos, em uma carreira bem sucedida,
conseguindo poder, fama e prestígio. Rebaixamento e aniquilamento são palavras
proibidas para quem quer ser feliz nesta vida.
Os pastores são os primeiros a perceber a novidade “Nesse dá para
confiar, é um dos nossos! É igual a nós! É pé no chão! Capaz de sonhar os
nossos sonhos, de ter no coração as nossas mesmas esperanças”
Todo o céu se alegra e os
anjos cantam os louvores de Deus. Anjos que estão em plena sintonia com o seu
projeto, que para manifestar o grande amor pela humanidade pecadora, envia seu
Filho Divino, da mesma natureza e essência, que livremente aceita o
rebaixamento. Por ser livre, o homem optou pelo pecado e pela ruptura com Deus,
por ser livre, Jesus Cristo o Homem Deus, optou pela Salvação do Homem, resgatando
a comunhão com Deus.
Ato salvífico que manifesta ao mesmo tempo toda glória e louvor a
Deus, transmitindo também a paz aos homens por ele amados. A paz que derruba as
barreiras entre Deus e os homens, a paz que abre o nosso coração para o amor e
a graça trazida por Jesus de Nazaré! Não há mais razão para ter medo! Deus nos
provou o seu grandioso e inefável amor, nesta NOITE FELIZ!
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