09 de novembro
- Sexta Feira
Dedicação da Basílica de Latrão 09/11/2012
1ª Leitura Ezequiel 47,1-2.2.8-9.12
Salmo 45 (46), 5 “Os braços de um rio alegram a cidade de Deus,
o Santuário
do Altíssimo”
2ª Leitura 1 Cor3,9c-11.16-17
Evangelho João 2, 13-22
"O TEMPLO VIVO" – Diácono José
da Cruz
A casa onde
morávamos, nos anos 60, esquina das ruas Albertina Nascimento com a Tarcísio
Nascimento em Votorantim, era incompatível com a nossa classe social, meu pai
era um simples operário e a casa de cinco cômodos era bonita e espaçosa, a sala
era o espaço onde recebíamos as visitas. Certo dia veio a nossa casa a Dona
Dita, uma senhora humilde que minha mãe gostava muito de acolher, sempre a
ajudando como podia. Minha Irmã havia encerado o corredor e a sala, e a mulher,
ao entrar, pedindo licença, tirou o chinelo sujo de barro, pois havia chovido
àquele dia, mas minha mãe lhe disse: “Olhe Dona Dita, a senhora é muito mais
importante que esta casa , e esta sala limpa e organizada, é justamente para
receber a senhora, por isso pode por o chinelo e fique a vontade”
Lembro-me que nos
meus nove anos, depois que a mulher se foi, perguntei à minha mãe se era mesmo
verdade que a Dona Dita, tão pobrezinha daquele jeito, era assim tão
importante, ao que minha mãe respondeu: ”As pessoas, ricas ou pobres,
inteligentes ou ignorantes, são importantes e devem ser sempre recebidas com
respeito e amizade, porque nelas mora o Deus vivo, é uma ofensa ao nosso Deus,
exigir que um pobre tire o sapato ou o chinelo, para não sujar a nossa casa”.
AH Dona Georgina minha primeira catequista! Como lhe sou grato por ensinar-me
esta lição, apreendida com a Palavra de Deus!
O comentário
simples da minha mãe, é a homilia de hoje, pois Jesus, indignado por terem
feito do templo sagrado um lugar de comércio, expulsa da casa do Pai os
profanadores do templo. Ao afirmar, que o zelo por vossa casa me devora, Jesus
não se refere somente ao templo em si, edificação material, mas ao templo vivo
que é o homem, onde, exatamente como minha mãe me ensinou, está presente o Deus
vivo
Todas as igrejas
cristãs, enquanto lugar consagrado a Deus, onde o povo se reúne para o culto,
deve e precisa ser respeitado como tal, porque se apresenta como sinal dessa
presença real de Jesus em sua igreja. A Festa litúrgica dessa sexta feira, dia
09 de Novembro – Dedicação da Basílica de Latrão, que não quer simplesmente prestar homenagem a
um lugar histórico para a igreja católica, como é a Basílica de Latrão, que no
século IV, quando o imperador Teodósio decretou o Cristianismo como a Religião
oficial do Império, tornou-se a residência oficial do Papa, passando depois a
ser uma Basílica.
Ao celebrar essa
festa tão importante, a Igreja nos oferece esta reflexão da Palavra de Deus,
sobre o sentido do templo, enquanto lugar da presença de Deus, e o templo vivo
onde Deus habita que é no coração do homem, conferindo-lhe uma dignidade
especial, a ponto de Paulo nos dizer, diante de pecados que profanam o corpo –“
Não sabeis que vossos corpos são templos do Espírito Santo?”
É na teologia
joanina que o corpo será compreendido enquanto morada de Deus, templo do Deus
Altíssimo, afirmando e confirmando desta maneira, que lá nas profundezas do
nosso ser existencial, envolvendo todas as nossas dimensões, Cristo Jesus se
faz presente, graças a efusão do Espírito Santo, o Santíssimo, Perfeitíssimo e
Todo Poderoso, vem participar da vida dos homens, não dentro de um conformismo
com o domínio do mal, por causa das fraquezas e da concupiscência da carne,
antes, para os resgatar, apontar-lhes o único caminho que é Ele mesmo.
Nesse sentido a
morte já não existe, o homem tornou-se propriedade exclusiva de Deus, através
da encarnação de Jesus, nada poderá derrotá-lo, nenhuma outra força será maior
do que a graça santificante e operante, que preenche todo o seu ser. Esse
resgate da dignidade humana, esta total renovação e renascimento, é o maior de
todos os sinais que Jesus apresenta aos seus interlocutores neste evangelho - “Destruam este templo e em três dias eu o
levantarei!”
Este Santuário que traz em si o Deus vivo e encarnado na
história, em Jesus de Nazaré, vem sendo todos os dias e de todas as formas
profanado, violentado, banalizado, mercantilizado, feito em ruínas. Não se
discute aqui o caráter sagrado dos nossos templos cristãos, mas o que deve nos
questionar é a essência daquilo que Jesus ensina-nos neste evangelho: que como
cristãos deste terceiro milênio, devemos todos ter este mesmo zelo que nos
devora, pela vida e dignidade dos nossos irmãos. Não estaria na hora de usarmos
o “chicote da indignação”, diante de certas ideologias para quem a vida humana
nada vale?.Poderíamos começar em nossas comunidades, acolhendo todos os que vêm
sendo vítimas desta profanação. (Consagração da Basílica de Latrão) João 2,
13-22.
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