Dia 23 de novembro
Lc 19,45-48
Fizestes da casa de Deus um antro de ladrões.
Este Evangelho narra Jesus expulsando os vendedores do Templo. E cita o
Antigo Testamento: “Está escrito: A minha casa é casa de oração (Is 56,7); mas
vós fizestes dela um antro de ladrões” (Jr 7,11). O episódio é fruto do grande
zelo que Jesus tem pela casa de Deus. “O zelo por tua casa me há de devorar”
(Jo 2,17).
Essa expulsão dos vendedores do Templo é um sinal profético de Jesus
que, por um lado, denuncia a corrupção do culto realizado no Templo, por outro
anuncia o fim da religião da antiga aliança. Isso desagradou os chefes do povo,
que tentaram eliminar Jesus. Esse fim da religião praticada no Templo foi bem
simbolizado na cena acontecida na hora da morte de Jesus: “O véu do templo
rasgou-se de alto a baixo no momento em que Jesus morre na Gólgota” (Mt 27,51).
O próprio Jesus será o novo templo da nova religião que brotará da nova aliança
no seu sangue.
Os nossos templos, altares, ritos e oferendas têm valor cultual, mas não
se bastam a si sós. Para que o culto seja vivo, precisa ser autêntico,
correspondendo à vida da Assembléia celebrante. A vida e o culto devem ser
ligados, senão ele se torna uma provocação a Deus.
“Assim fala o Senhor: Conheço a tua conduta. Não és frio nem quente.
Oxalá fosses frio ou quente! Mas porque és morno, nem frio nem quente, estou
para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,15-16).
Por outro lado, a vivência da fé, sem deixar de ser pessoal, tem de ser
comunitária e celebrativa. A dinâmica da vida cristã é circular: ver >
julgar > agir > celebrar > rever > ver...
Vamos zelar pelo bom ambiente da nossa igreja ou capela, tornando-a
realmente uma casa de oração, de respeito a Deus e de fraternidade.
Assim, com certeza, ela será um manancial da Água Viva da graça de Deus,
onde todos os que entram encontram a paz, o caminho, a verdade e a vida.
Mesmo que venha perseguição sobre nós, como aconteceu com Jesus,
compensa fazer isso, porque “a minha casa será chamada casa de oração”.
Havia, certa vez, uma aldeia de plantas no fundo de um rio. A correnteza
era forte e as plantas se agarravam às pedras com todas as raízes, para não
serem despedaçadas. Era sempre igual a vida das plantas daquela aldeia:
segurar-se nas pedras do fundo do rio, com medo de serem arrastadas pela
correnteza. Todo dia era sempre igual: a luta pela sobrevivência, sem nunca
verem a luz do sol.
Um dia, uma das plantas disse: “Eu não agüento mais! Não tem sentido
viver desse jeito. Eu vou soltar as raízes das pedras, quero ver a superfície
da água.
As outras plantas riram dela. “Você é louca! Se você soltar as raízes, a
correnteza vai despedaçar você contra as pedra das margens. Não invente. Não
queira ser diferente. Sempre vivemos assim, por que mudar?”
A planta respondeu: “Não importa. Prefiro morrer despedaçada contra as
pedras a morrer aqui de tédio aqui, sempre presa a essas pedras”. E, respirando
fundo, soltou as raízes.
Logo a correnteza tomou-a, jogou-a contra as pedras das margens,
precipitou-a nas cachoeiras, machucou-a. Mas a planta resistiu e, bebeu a luz
do sol. Com o tempo, o rio chegou a lugares tranqüilos e ela conseguiu parar
numa margem. Acostumou-se logo a viver bem mais livre, na superfície. Enquanto
isso, as outras plantas continuavam presas às pedra do fundo rio, na mesma luta
e monotonia de sempre.
Jesus veio propor uma mudança, um novo tipo de templo. Mas o povo do seu
país preferiu ficar agarrado às estruturas arcaicas, sem soltar as raízes. E o
pior: Mataram aquela Planta que quis modificar e que Deus mandou à terra para
isso. É sempre assim: quem não quer caminhar procura impedir que os outros
caminhem.
Maria Santíssima é chamada Templo de Deus, porque nela Deus Filho morou
durante nove meses. Peçamos a ela que nos ajude a obedecer ao seu Filho,
respeitando a casa de Deus.
Fizestes da casa de Deus um antro de ladrões.
Padre Queiroz
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