28 de Novembro
Evangelho - Lc 21,12-19
Todos vos odiarão por causa de mim. Mas vós não
perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça.
Neste Evangelho, Jesus nos previne sobre as
perseguições que seus discípulos sofrerão, até dentro de casa e pelos parentes
mais próximos. A orquestração do ódio crescerá tanto que todos e todas em nossa
volta posicionar-se-ão contra nós. Mesmo assim, garante Jesus, não nos
atingirão, porque Deus está do nosso lado.
Nessas horas, devemos evitar duas coisas: 1ª)
Praticar a violência, a vingança, ou qualquer outro desvio do Evangelho. Pelo
contrário, serão ocasiões de testemunharmos a nossa fé. “Sede cordeiros no meio
de lobos”. “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” 2ª) Esta é a mais
comum: desistir ou diminuir o fervor e a dedicação, fazendo uma espécie de
negociação com os perseguidores. As duas posições são sinais de falta de fé, ou
de fé fraca.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morre,
fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24). “Quem não pega a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem busca salvar a sua vida,
perdê-la-á; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará” (Mt
10,38-39).
Se pegamos um ferro quente e o mergulhamos na água
fria, acontece o choque térmico, espirrando água para todo lado. Assim é o
cristão, vivendo no meio do mundo pecador. Ele não provoca; é a própria vida
dele ou dela que gera o choque, resultando na perseguição.
Podemos ampliar o sentido da palavra perseguição e
incluir todas as dificuldades, confrontos de idéias e dificuldades que
encontramos: atritos, oposições veladas e silenciosas, antipatias...
“Os Apóstolos saíram do tribunal muito contentes
por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do nome de Jesus” (At
5,41). A perseguição e o desprezo nos identificam com Cristo e assim nós nos
tornamos colaboradores no seu sacrifício pela redenção. Isso nos causa alegria,
evidentemente.
“Naqueles dias, começou uma grande perseguição
contra a Igreja que estava em Jerusalém. Todos, com exceção dos apóstolos, se
dispersaram pelas regiões da Judéia e da Samaria. Entretanto, aqueles que se
tinham dispersado iam por toda a parte levando a palavra da Boa Nova” (At
8,1.4). Está aí um exemplo do que Jesus falou no Evangelho de hoje: “Esta será
a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”.
“Todos os que querem levar uma vida fervorosa em
Cristo serão perseguidos” (2Tm 3,12). 87“Felizes os que são perseguidos por
causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de
mim. Alegrai-vos e exultar, porque é grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,10-11).
O mundo pecador segue, não a Deus, mas a outro
chefe. E faz parte do ser humano se opor a quem vive ao lado e tem outra
cabeça, outros princípios, outros valores, outra vida. O primeiro esforço é de
cooptação; se não consegue, surge a perseguição aos cristãos.
Entretanto, numa sociedade de maioria católica como
a nossa, geralmente não atacam abertamente a Igreja Católica. A tática é atacar
cada cristão ou cristã individualmente, e de forma disfarçada:
ridicularizações, apelidos...
Jesus pede: “Não planejeis antecipadamente a
própria defesa; porque eu vos darei palavras tão acertadas que nenhum inimigo
vos poderá resistir ou rebater.” Como é bom sentir esse apoio numa hora de
aperto! “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. Isto é: nada
vos sucederá sem que o Pai, em cujas mãos estais, o disponha para o vosso bem.
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”
Está aí o objetivo de todo o discurso de Jesus: levar-nos à firmeza.
Muitos querem um cristianismo “soft”, sem cruz, e
que apresenta o céu com portas largas. Até religiões são fundadas nessa linha.
Mas a religião de Jesus, aquela que tem as chaves do céu, é um caminho
estreito.
Havia, certa vez, um pequeno povoado de pescadores,
na beira da praia. De repente ele começou a diminuir a passos largos. Todo
final de tarde, um monstro aparecia no mar e fazia vítimas! O povo vivia em
pânico! Ia diminuindo de dia para dia. Aquele mostro oprimia e destruía o
povoado, paralisando de medo as pessoas.
Um dia, chegou um sábio àquele povoado e logo ficou
sabendo das histórias do mostro que aparecia na praia e atacava a aldeia. O
povo pediu ajuda ao sábio. Este convocou todo o povo da aldeia para se juntar
na beira da praia, no final da tarde, pela hora em que o monstro costumava
aparecer. Naquele final de tarde, todo o povo se juntou na beira da praia, à
volta do sábio. Ele falou:
“Eu sou meio cego... já não enxergo as coisas
direito. Por isso, quero que vocês falem, que vocês vão dizendo como é o
monstro, quando ele aparecer!”
Todo o povo ficou em silêncio, na expectativa! De
repente, alguém gritou: “É ele! Está aparecendo!” Imediatamente o povo se
atropelou, correndo, fugindo, gritando de medo... Mas o sábio logo gritou
interrompendo a correria: “Não! Ninguém foge! Continuem todos aqui! Continuem
olhando o mostro e falando o que vai acontecendo com ele!” E o povo, morrendo
de medo, segurou a vontade de fugir e continuou relatando a evolução do monstro.
“Aí vem ele! Está aumentando! Vem caminhando na direção da praia! Está ficando
cada vez maior!”
Alguns não agüentavam o medo e saíam correndo. Mas
o sábio logo interrompia a correria, pedindo que continuassem olhando o monstro
e relatando o que estava acontecendo.
“Está... está diminuindo... está desaparecendo...
desapareceu...”
O monstro são os inimigos de Cristo e dos cristãos.
Se não nos unirmos, e tivermos medo, ele ficará cada vez maior e nos devorará.
Mas se nos unirmos e formos corajosos na fé, ele desaparecerá. Às vezes,
pequenos obstáculos da vida podem nos parecer monstros grandes e terríveis.
Nessas horas, se tivermos medo e não nos unirmos, eles nos devorarão na certa.
Maria Santíssima não ficou livre das perseguições.
Imagine o que ela sofreu ao pé da cruz, e em todas as suas dores. Que ela nos
ajude.
Todos vos odiarão por causa de mim. Mas vós não
perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça.
Padre Queiroz
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