Domingo, 12 de junho de 2016.
Evangelho de Lc 7, 36-50.8,1-3
É muito comum no evangelho de Lucas, encontrarmos Jesus sentado à
mesa com quem o convidasse para comer. Jesus aceita o convite de todos: ricos,
pobres, pecadores, justos, dos que têm saúde e dos doentes, dos preocupados com
as formalidades segundo o costume judeu. Jesus não faz diferença das pessoas.
Jesus chega ser acusado de ser “comilão e beberrão, amigo dos cobradores de
impostos e dos pecadores”. (Lc 7,34).
No evangelho de hoje, encontramos Jesus na casa de um fariseu
importante, preocupado com os ritos, formalidades, etiquetas, chamado Simão.
Jesus entrou na casa do fariseu Simão e sentou-se à mesa. Simão, como anfitrião
tão cheio de regras não cumpriu com os preceitos da hospitalidade, oferecendo
água para lavar os pés, pois naquele tempo andavam descalços ou de sandálias
por caminhos empoeirados, e também não ungiu seus cabelos com perfumes. Simão
acolheu Jesus de maneira fria, sem o calor humano de quem ama, de quem é
bem-vindo em sua casa. Provavelmente, Simão convidou Jesus porque considerava-o
um homem justo e grande mestre, assim poderia ter com ele alta conversa.
De repente, surge na sala, sem ser convidada, uma mulher de má
vida, vida fácil ou pecadora, de condição social boa, com um vaso de alabastro
(perfume) em suas mãos. Procurou Jesus entre os presentes e “colocou-se atrás
de Jesus, junto a seus pés. Começou a chorar e com suas lágrimas lavava os pés
de Jesus. Enxugava-os depois com seus
cabelos e, cobrindo-os de beijos, os ungia com o perfume.” Aquela mulher que
não era dona da casa, nem sequer tinha sido convidada, fez os gestos de
acolhida que Simão, o fariseu, não fez.
Jesus acolhe a mulher com tranquilidade, sem medo, sem nervosismo,
ele aceita seu gesto de modo amigo, trata-a com respeito, sem receio do que
pudessem pensar e falar dele.
Quem era essa mulher?
Ela conhecia Jesus? Já conversara com ele?
Não sabemos seu nome,
sabemos que era uma prostituta. Quem sabe ela já ouvira uma das pregações de
Jesus e deixou-se tocar profundamente, arrependendo de seus enormes pecados. O
certo é que ela sentiu o grande amor que Jesus tinha por todos, especialmente
pelos pecadores, por ela, que tinha consciência do seu pecado. Provavelmente a
mulher se sentiu acolhida, amada por Jesus e não desprezada como os outros
faziam com ela. Percebeu em Jesus a misericórdia do Deus que perdoa. O amor de
Deus precede o amor humano. Deus ama, por
isso perdoa. A culpa que trazia nos ombros era pesada e sentiu que Jesus
poderia perdoá-la, aliviá-la do peso que carregava, pois Jesus era um Mestre
diferente dos outros.
Sentindo grande
gratidão por Jesus, ela corajosamente entrou na casa do fariseu Simão, para se
encontrar com Jesus. Ela sentiu o imenso amor que veio dele e queria demonstrar
também o seu amor, sua gratidão. Quem muito foi amada e perdoada, muito amou.
Simão não tem a mesma
atitude de Jesus, duvida em seu pensamento que Jesus seria um profeta. Simão
era um fariseu cumpridor da Lei, escravo da Lei, só que se achava perfeito, sem
erros. Mas não havia nele nem amor, nem misericórdia, nem compaixão pelos
fracos, pelos pecadores. O nome “fariseu” quer dizer separado, pois se achava
puro, santo porque cumpria a Lei. Por se considerar santo, puro era separado
dos pecadores, santo de um lado, pecador do outro.
Simão conhecia a
mulher, sabia quem era ela e pensava consigo mesmo: “Se este homem fosse
profeta, saberia que a mulher que o toca é pecadora”. Os judeus supunham que
profeta tinha o dom de adivinhar. Portanto, o fariseu concluiu que Jesus não é
profeta, pois se deixa tocar por uma pecadora, para os judeus esse fato o
tornaria impuro... Simão não reconhece em Jesus, que ele veio revelar a
misericórdia de Deus. Se julga santo, piedoso, acredita que não precisa do
perdão de Deus, vive encantado consigo mesmo por cumprir a Lei. Quem não sente
necessidade do perdão de Deus, não é perdoado, se torna ingrato e se fecha ao
amor de Deus.
Assim somos todos nós, temos uma dívida impagável com Deus. Só o
amor infinito de Deus, revelado em Jesus, pode pagar a nossa dívida morrendo na
cruz.
Jesus, sabendo o que Simão estava pensando não esperou o fariseu
dizer nada, contou-lhe uma historiazinha que revelava o pensamento do fariseu
Simão. Assim Jesus se apresenta como um verdadeiro profeta, o verdadeiro
Messias, que Simão e seus companheiros não haviam reconhecido.
Jesus disse então ao fariseu: “Simão, tenho uma coisa para te
dizer”. Simão respondeu: “Fala, mestre”!41“Certo credor tinha dois
devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinquenta.42Como
não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o amará mais?” 43Simão respondeu: “Acho que é
aquele ao qual perdoou mais”. Jesus lhe disse: “Tu julgaste corretamente”.
44Então Jesus virou-se para a
mulher e disse a Simão: “Estás vendo esta mulher? Quando entrei em tua casa, tu
não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com
lágrimas e enxugou-os com os cabelos. 45Tu
não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de
beijar meus pés. 46Tu
não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47Por esta razão, eu te declaro:
os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito
amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor”. 48E Jesus disse à mulher: “Teus
pecados estão perdoados”.49Então, os convidados começaram a
pensar: “Quem é este que até perdoa pecados?” 50Mas
Jesus disse à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz”.
Jesus quis dizer com essa história que o amor é a causa do perdão.
E o perdão é por motivo de amor. Muito é perdoado a um devedor, só porque amou
muito, e ele passa a amar mais ainda depois que lhe é perdoada a dívida.
O amor levou aquela pecadora arrependida a chorar publicamente suas
faltas. Jesus lhe perdoou. E porque recebeu o perdão, ela passou a amar de
verdade e com muita intensidade. Ela precisou muito da misericórdia e compaixão
de Deus. E porque recebeu plena misericórdia, tinha razão de sobra para ser
agradecida e amar intensamente a Jesus. A prostituta muito amou, por isso
foram-lhe perdoados os muitos pecados e se tornou uma discípula de Jesus.
Esse evangelho termina mostrando que o grupo de discípulos de Jesus
não era só de homens, mas havia mulheres, verdadeiras discípulas, que
colaboravam muito com o grupo.
Somos imperfeitos, esse é o nosso estado normal de ser. A Lei de
Deus nos orienta como viver, mas a Lei precisa de uma grande parcela de amor da
nossa parte. Porque “a Lei é para o homem, e não o homem para a Lei.” Se não
colocarmos amor, misericórdia, compaixão na Lei, ela não terá o resultado
esperado por Deus, será uma Lei morta. Todos nós precisamos do amor, da
misericórdia e da compreensão de Deus, porque não somos capazes de observar os
mandamentos perfeitamente. Somos pecadores, vivemos num mundo de pecadores, por
isso Jesus espera de nós solidariedade uns com os outros, com verdadeiro amor.
Ninguém é justificado pela Lei que não conseguimos cumprir
corretamente e de forma perfeita, o que nos justifica é a fé em Jesus Cristo, o
amor, a gratidão por ele ter morrido por nós. Nosso compromisso de cristãos é
de formar comunidades guiadas pelas Leis e no amor de Deus. A Lei é para
libertar e dar vida e não escravizar.
Não podemos nos tornar juízes dos outros, frios no relacionamento
com nossos irmãos, agindo assim não enxergaremos a pessoa criada à imagem e
semelhança de Deus, mas só a Lei. Precisamos ser como Jesus amar o outro,
acolher, ter compaixão, porque se alguém está no erro, no pecado, longe de
Deus, ela precisa de conversão, e para se converter precisa do nosso imenso
amor.
Pensemos com sinceridade: - nas nossas comunidades como tratamos os
pecadores? – Acolhemos ou rejeitamos? – Como nós nos comportamos diante deles:
como Jesus ou como Simão? – Nos achamos perfeitos e só os outros são pecadores?
Abraços em Cristo
Maria de Lourdes
Bela reflexão
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