QUINTA FEIRA DA 22ª SEMANA DO TC 05/09/2013
1ª Leitura Colossenses 1, 9-14
Salmo 97(98), 2ª “O Senhor fez conhecer a sua Salvação”
Evangelho Lucas 5, 1-11
“CHAMADOS
PARA O DESAFIO” -Diac.
José da Cruz
Não sei se os quatro primeiros discípulos, André, Pedro, Tiago e João,
estavam de bom humor ao serem chamados por Jesus á margem do Lago de Genezaré,
quando trabalhavam duramente limpando suas redes dos “enroscos” que havia
nelas, após uma noite de pescaria fracassada. É bom lembrar que tratava-se de
um trabalho profissional e não de uma pescaria de lazer, como é uma prática
mais perto da nossa realidade.A proposta de Jesus ao grupo de pescadores
parecera descabida, ele pedia-lhes para que insistissem em uma tarefa, que não
dera certo ao longo de uma jornada inteira de trabalho noturno, de um jeito
diferente, jogando as redes onde ele fosse indicar.
Ora, que profissional aceitaria orientação de um estranho em seu
trabalho? O horário era desfavorável, quem conhece o litoral sabe que os barcos
pesqueiros trabalham à noite, e que de manhã é hora de contabilizar os ganhos
com a descarga dos peixes na praia. A proposta vinha como um desafio e
implicava em aceitar ou não a palavra de Jesus. Após terem aceitado, fizeram
conforme o Senhor lhes ordenara e o resultado fora surpreendente: as redes não
resistiram a quantidade de peixes apanhados, sendo necessário partilhar a
tarefa com companheiros da outra barca.
Nas barcas de nossas comunidades o resultado do nosso trabalho nem
sempre é o que esperamos, pois é preciso estar sempre preparados para o
fracasso das “noites” em que as redes voltam vazias, com “coisas indesejadas”
que somos obrigados a ‘limpar”, buscamos a santidade de uma vida em comunhão,
na justiça, partilha e fraternidade e acabamos encontrando fofocas, intrigas,
divisões, coisas que estão em nossa rede embora não façam parte da vida da
comunidade, não as queremos, ninguém as deseja, mas elas estão lá, exigindo um
trabalho de superação que requer muita paciência e compreensão. Quem já tirou
enrosco de uma linha de pesca ou de uma rede, sabe que não é tarefa das mais
fáceis. E de repente, em meio a essa tarefa somos chamados como os primeiros
discípulos à “irmos mais fundo”, avançando para águas mais profundas. Será que
o nosso papel na comunidade é só ficar consertando as coisas que não deram
certo? Claro que não!
A missão primária da igreja não é a excessiva preocupação com si mesma,
sua estrutura e seu funcionamento, mas sim em anunciar aos de fora o evangelho
de Cristo. Por experiência própria e muitas vezes por puro comodismo, achamos
que o trabalho proposto por Jesus não dará nenhum resultado e na maioria das
vezes em que o nosso coração nos pede mais ousadia na missão, acabamos preferindo
as águas sempre rasas da nossa comunidade, grupo, pastoral, movimento ou
associação onde é sempre muito fácil falar de Jesus e do seu evangelho, pois
todos gostam, aceitam e até aplaudem!
As pessoas vêm até nós e assim passamos o nosso tempo “pescando” no
aquário, onde até causamos espanto e admiração, não pelo resultado do trabalho,
mas apenas pela nossa performance e desempenho. Não foi para isso que Jesus
chamou os discípulos e nem é para isso que o Senhor nos chamou. Ser missionário
é sair do nosso “mundinho” conhecido e entrar na realidade das pessoas, lá onde
elas estão e vivem, feiras livres, shopings, grandes avenidas, condomínios
residenciais de alto luxo, favelas e áreas verdes onde o medo do narcotráfico
mata qualquer esperança, nos hospitais, presídios, asilos etc. E se acharmos
que a tarefa é muito grande para as nossas modestas possibilidades, então
podemos começar pelas nossas famílias e ambiente de trabalho.
O verdadeiro missionário vai sempre além de suas expectativas, do seu
conhecimento, da sua bagagem e experiência, ele sabe que sempre há o risco de
um fracasso, mas arrisca-se de maneira corajosa porque é o Senhor quem
determina. “...em atenção á sua palavra, vou lançar as redes”.
Quando assim o fazemos, acabamos nos surpreendendo com o resultado e
rapidamente, como Pedro, descobriremos que não foram nossas aptidões, mas sim a
graça de Deus que realizou a missão, dando os frutos em quantidade muito maior
do que esperávamos.E ao tomarmos conhecimento de que a graça de Deus, derramada
por Jesus Cristo, move-se e age mesmo em cima de nossas fraquezas e erros,
somos tomados pelo medo de nos entregarmos totalmente a Deus. Então aí só nos resta um caminho: confiar em
Jesus e vivermos somente á luz da fé, na certeza de que doravante faremos não
do nosso modo, mas do modo dele, mesmo que isso signifique ir contra a nossa
lógica e razão.
Essa atitude requer uma ruptura até mesmo com aquilo que nos pareça ser
essencial, os primeiros discípulos abandonaram na praia as redes e o barco e
seguiram a Jesus, pois é impossível edificarmos o reino de Deus do nosso modo.
Pensemos em nossa vocação e nos perguntemos em que águas andamos
“pescando”. A resposta irá exigir de nós uma atitude, a partir do evangelho.
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