21º DOMINGO DO TEMPO COMUM 25/08/2013
1ª Leitura Isaias 66, 18-21
Salmo Marcos 16,15 “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a
toda criatura”
2ª Leitura Hebreus 12,5-7.11-13
Evangelho Lucas 13,22-30
Diac. José da Cruz
Quando medito este evangelho sempre me
lembro do “Miudinho”, apelido de um amigo da minha adolescência, que era bem
“robusto” para não dizer que ele era “gordinho”. Por conta da obesidade ganhou
fama de ser o molenga da nossa turma onde era sempre o último nas brincadeiras
ou "aprontações" que fazíamos. Certa ocasião ficou entalado em um
tubo de concreto que ficava no final da rua, por onde entrávamos
sorrateiramente por uma galeria em desuso, tendo acesso a um terreno que
pertencia a Dona Assunta, e onde deliciávamos com a doçura das mangas e amoras.
O muro era alto e o portão antigo era
inacessível, até o dia em que descobrimos a tubulação e passamos a utilizá-la
sendo para nós uma aventura porque engatinhando, varávamos coisa de três ou
quatro metros por baixo do muro. Ao ficar entalado na galeria, por causa de ser
gordinho, e não saindo para frente e nem para trás, Miudinho armou o maior
berreiro chamando a atenção da vizinhança e assim, fomos pegos em flagrante
pela proprietária do terreno, enquanto que os moradores, com muito esforço
conseguiram desentalar o coitado do Miudinho. Decidimos, a partir daquele dia,
deixá-lo fora de nossas aventuras porque ele não conseguia ter agilidade para
nos acompanhar. O reino do céu é meio parecido com aquele terreno baldio, palco
das nossas aventuras e onde curtíamos a doçura da fruta madurinha á sombra de
grandes árvores: o acesso é por uma passagem bem estreita...
A pergunta dos discípulos, feita a
Jesus, se é verdade que poucos irão se salvar, deve-se ao fato de que a
salvação, para eles, era uma espécie de troféu, com que Deus premiava os que
faziam boas obras e observavam com rigor a lei e todos os demais preceitos
religiosos. Nós cristãos, que pertencemos à igreja, devemos também pensar nisso
e perguntar se iremos nos salvar... Jesus nos alerta que a passagem é bem
estreita e requer certo esforço de quem se fez discípulo. Há uma porta larga do
ritualismo e do seguimento da lei, há eventos religiosos que reúne milhares de
pessoas, há igrejas cristãs de todas as denominações, cujos templos ficam
lotados de fiéis nos finais de semana. Será que nesta religião sem compromisso,
todos já têm o passaporte carimbado para entrar no reino?
Para passar pela porta estreita é
preciso se fazer pequeno e ter no coração e na mente esta consciência de que a
salvação é dom de Deus e não fruto das nossas obras ou práticas religiosas,
quem pensa diferente disso é semelhante ao meu amigo Miudinho e vai acabar
ficando “entalado” no seu egoísmo e orgulho. Mas ser pequeno também significa servir
aos irmãos e irmãs, a palavra servir vem de servo, escravo, aquele que se
rebaixa, que se curva diante do outro, Jesus fez isso no “Lava-pés”, fazendo
uma tarefa que pertencia a um escravo, o que prefigurou o rebaixamento final
que iria ocorrer em Jerusalém, para onde Jesus caminha decidido a entregar-se
por todos.
Portanto, o amor que se rebaixa
traduzindo-se em serviço é que faz de nós verdadeiros cristãos, Filhos do Pai,
que nos vocaciona para o amor, irmãos de Jesus, servo maior com quem nos identificamos
e por quem somos reconhecidos. Os que pensam que já estão salvos, com um pé na
vaga do céu, só porque pertencem a esta ou aquela denominação religiosa, e são
observantes zelosos de toda doutrina e preceito, irão certamente ficar bem
desapontados porque o Senhor não os reconhecerá como diz o evangelho: “Nós não
saíamos de sua casa, comíamos e bebíamos na tua presença...”. “Sumam”! Não sei
quem são vocês! Não os conheço!”--- dirá o Senhor”.
Fachada e aparência de nada adiantarão,
só serão acolhidos no banquete do reino, e reconhecidos pelo Senhor aqueles que
o imitando, doarem-se inteiramente aos irmãos e irmãs, não importando qual
igreja ou denominação religiosa. Os que estiverem “inchados” de orgulho e auto-suficiência,
achando-se os primeiros, porque já estão dentro, irão bater com o “nariz na
porta” e verão cheios de espanto e surpresa, os que eram os últimos, adentrarem
por primeiro no banquete.
Nunca mais vi meu amigo “Miudinho”,
dizem que ele emagreceu eliminando a gordura que tanto o incomodava. Que a
religião seja para todos nós um compromisso de vida com Deus e com os irmãos,
caso contrário não conseguiremos entrar no reino dos céus, pois como meu amigo
Miudinho, acabaremos entalados na soberba e no egoísmo, e não passaremos pela
porta estreita! Daí haverá choro e ranger de dentes...
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