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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

É verdade que poucos irão se salvar? - Diac. José da Cruz

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM 25/08/2013
1ª Leitura Isaias 66, 18-21
Salmo Marcos 16,15 “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”
2ª Leitura Hebreus 12,5-7.11-13
Evangelho Lucas 13,22-30
Diac. José da Cruz

Quando medito este evangelho sempre me lembro do “Miudinho”, apelido de um amigo da minha adolescência, que era bem “robusto” para não dizer que ele era “gordinho”. Por conta da obesidade ganhou fama de ser o molenga da nossa turma onde era sempre o último nas brincadeiras ou "aprontações" que fazíamos. Certa ocasião ficou entalado em um tubo de concreto que ficava no final da rua, por onde entrávamos sorrateiramente por uma galeria em desuso, tendo acesso a um terreno que pertencia a Dona Assunta, e onde deliciávamos com a doçura das mangas e amoras.
O muro era alto e o portão antigo era inacessível, até o dia em que descobrimos a tubulação e passamos a utilizá-la sendo para nós uma aventura porque engatinhando, varávamos coisa de três ou quatro metros por baixo do muro. Ao ficar entalado na galeria, por causa de ser gordinho, e não saindo para frente e nem para trás, Miudinho armou o maior berreiro chamando a atenção da vizinhança e assim, fomos pegos em flagrante pela proprietária do terreno, enquanto que os moradores, com muito esforço conseguiram desentalar o coitado do Miudinho. Decidimos, a partir daquele dia, deixá-lo fora de nossas aventuras porque ele não conseguia ter agilidade para nos acompanhar. O reino do céu é meio parecido com aquele terreno baldio, palco das nossas aventuras e onde curtíamos a doçura da fruta madurinha á sombra de grandes árvores: o acesso é por uma passagem bem estreita...
A pergunta dos discípulos, feita a Jesus, se é verdade que poucos irão se salvar, deve-se ao fato de que a salvação, para eles, era uma espécie de troféu, com que Deus premiava os que faziam boas obras e observavam com rigor a lei e todos os demais preceitos religiosos. Nós cristãos, que pertencemos à igreja, devemos também pensar nisso e perguntar se iremos nos salvar... Jesus nos alerta que a passagem é bem estreita e requer certo esforço de quem se fez discípulo. Há uma porta larga do ritualismo e do seguimento da lei, há eventos religiosos que reúne milhares de pessoas, há igrejas cristãs de todas as denominações, cujos templos ficam lotados de fiéis nos finais de semana. Será que nesta religião sem compromisso, todos já têm o passaporte carimbado para entrar no reino?
Para passar pela porta estreita é preciso se fazer pequeno e ter no coração e na mente esta consciência de que a salvação é dom de Deus e não fruto das nossas obras ou práticas religiosas, quem pensa diferente disso é semelhante ao meu amigo Miudinho e vai acabar ficando “entalado” no seu egoísmo e orgulho. Mas ser pequeno também significa servir aos irmãos e irmãs, a palavra servir vem de servo, escravo, aquele que se rebaixa, que se curva diante do outro, Jesus fez isso no “Lava-pés”, fazendo uma tarefa que pertencia a um escravo, o que prefigurou o rebaixamento final que iria ocorrer em Jerusalém, para onde Jesus caminha decidido a entregar-se por todos.
Portanto, o amor que se rebaixa traduzindo-se em serviço é que faz de nós verdadeiros cristãos, Filhos do Pai, que nos vocaciona para o amor, irmãos de Jesus, servo maior com quem nos identificamos e por quem somos reconhecidos. Os que pensam que já estão salvos, com um pé na vaga do céu, só porque pertencem a esta ou aquela denominação religiosa, e são observantes zelosos de toda doutrina e preceito, irão certamente ficar bem desapontados porque o Senhor não os reconhecerá como diz o evangelho: “Nós não saíamos de sua casa, comíamos e bebíamos na tua presença...”. “Sumam”! Não sei quem são vocês! Não os conheço!”--- dirá o Senhor”.
Fachada e aparência de nada adiantarão, só serão acolhidos no banquete do reino, e reconhecidos pelo Senhor aqueles que o imitando, doarem-se inteiramente aos irmãos e irmãs, não importando qual igreja ou denominação religiosa. Os que estiverem “inchados” de orgulho e auto-suficiência, achando-se os primeiros, porque já estão dentro, irão bater com o “nariz na porta” e verão cheios de espanto e surpresa, os que eram os últimos, adentrarem por primeiro no banquete.

Nunca mais vi meu amigo “Miudinho”, dizem que ele emagreceu eliminando a gordura que tanto o incomodava. Que a religião seja para todos nós um compromisso de vida com Deus e com os irmãos, caso contrário não conseguiremos entrar no reino dos céus, pois como meu amigo Miudinho, acabaremos entalados na soberba e no egoísmo, e não passaremos pela porta estreita! Daí haverá choro e ranger de dentes...

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