5 de Setembro - Quinta - Lc 5,1-11
Deixaram tudo e o seguiram.
Este Evangelho narra o chamado por Jesus dos três primeiros
apóstolos: Pedro e os dois irmãos Tiago de João. No texto aparecem os três
passos da vocação, que sempre aparecem na Bíblia:
1) O espanto e o assombro do homem, quando se vê em contato
com Deus.
2) A missão concreta confiada por Deus ao homem. A
iniciativa da vocação sempre parte de Deus.
3) A resposta incondicional dos vocacionados ao chamado de
Deus.
O objetivo da vocação, o “para quê”, que é a missão, é
sempre o seguimento de Cristo de uma forma concreta. O chamado à fé, ao
batismo, à crisma, à eucaristia, à vida em Comunidade e à santidade são
dimensões universais que estão em todas as vocações. Os outros aspectos são
específicos, isto é, podem haver para um e não para outro. É o Corpo Místico de
Cristo, do qual cada um de nós é um membro diferente e com função diferente. Todos
os batizados têm, além da vocação universal, uma vocação específica, assim como
todos os membros do corpo têm uma função própria. Podemos comparar também com
um time de futebol, no qual o juiz não aceita dentro de campo alguém que não
tenha uma posição definida. Como é importante nós acertarmos os passos nos
aspectos gerais da vocação e procurarmos descobrir e seguir a nossa vocação
específica!
Há uma continuidade entre aquilo que o cristão fazia e a
missão que recebe. Os três eram pescadores, tornaram-se pescadores de homens.
Assim, na vocação não acontece ruptura ou diferença muito grande entre o que a
pessoa já fazia e a missão que recebe.
“Avança para águas mais profundas”. Para nós significa um
avanço nos nossos métodos e atividades na Igreja. Aqui na margem já não dá mais
peixe, por isso precisamos avançar. Métodos que no passado davam resultado,
hoje podem não dar mais.
“Não tenhas medo”. Avançar para águas mais profundas nos dá
medo. Medo de não dar certo, medo de deixar aquilo que estamos acostumados a
fazer e iniciar algo novo, medo de afundar... Mas, como disse Pedro, “em
atenção à tua palavra”, vou avançar.
Como é importante a virtude da esperança! É ela que nos leva
a dar um passo à frente. O povo fala: “A esperança é a última que morre”. A esperança
é uma virtude que dinamiza todas as outras virtudes. Podemos perder qualquer
virtude, mas que nunca percamos a esperança, pois ela nos leva a continuar na
luta, ainda que tudo ao nosso redor diga “não”.
Quando Jesus pediu que avançassem para águas mais profundas,
Pedro reagiu: “Senhor, trabalhamos a noite inteira e nada pescamos! Jesus podia
ter respondido: Por isso mesmo. Do jeito que vocês estão fazendo, não dá mais
peixe. Que bom se nós obedecermos a Deus e dermos um passo à frente, baseados
na Palavra dele.
“Deixaram tudo e seguiram a Jesus”. Essa é a última etapa da
vocação. O chamado de Deus sempre implica em jogarmos de corpo e alma ao
seguimento dele, deixando tudo o mais. Depois, como Jesus prometeu, ganharemos
cem vezes mais tudo o que deixamos. Deus não aceita dividir espaço com outros
“deuses” ou apegos nossos. Ele nos quer por inteiro, pois estaremos em boas
mãos e não nos vai faltar nada.
Seria interessante nós hoje nos colocarmos diante de Deus em
oração e procurarmos responder: Que tipo de cristão sou eu? Será que somos como
Pedro, Tiago e João que, em obediência à palavra de Jesus, avançaram para águas
mais profundas? Se o formos, com certeza veremos um resultado tão surpreendente
que ficaremos espantados.
Havia, certa vez, um homem que tinha um enorme medo de rato.
Tanto que começou a pedir a Deus que fosse transformado em um rato. Deus
atendeu ao seu pedido e o transformou em rato. Mas agora, como rato, ele passou
a ter medo de gato. Morria de medo de gato. Pediu novamente para Deus e este o
transformou em um gato. Agora sim, pensou. Mas logo surgiu o medo de cachorro.
Não podia nem pensar em cachorro. Nova prece, novo atendimento. Foi
transformado em um cachorro. Entretanto, o problema continuou. Agora ele tinha
medo de onça. Só pensava em onça e nem conseguia dormir. Mais uma vez a prece e
a resposta positiva de Deus. Foi transformado em onça. Mas agora o seu medo era
de homem, pois este, com sua arma, pode matar a onça. Vivia tremendo de medo
dos homens. Pediu desculpas a Deus e lhe disse que queria voltar a ser homem.
Para atendermos ao chamado de Cristo para avançar em direção
a águas mais profundas, não podemos ter medo. “Não tenhais medo”, disse Jesus.
O medo é, às vezes, algo subjetivo e denota falta de fé. Quanto mais fé, menos
medo nós teremos. Ter fé, no fundo, é ter coragem.
Maria Santíssima foi a cristã que deu a melhor resposta
vocacional do mundo. Ninguém a superou, nem Abraão, nem Isaías, nem Ester, nem
os Apóstolos. Maria do “sim”, rogai por nós.
Deixaram tudo e o seguiram.
Padre Queiroz
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