DIA 21 DE MAIO
O Filho do Homem vai ser
entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer perguntas sobre o
assunto.
Este Evangelho narra que, em
meio à euforia do povo pelo que Jesus fazia, ele disse aos discípulos: “O Filho
do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”.
Jesus se auto-aplica o título
messiânico de “Filho do Homem” (Dn 7,13), que ele relaciona com a figura do
servo sofredor do Senhor. “Mas os discípulos não compreenderam e tinham medo de
perguntar.” Tal era a distância entre essa afirmação e a expectativa dos
discípulos em relação ao Messias, que nem entendiam essa linguagem de união
entre Messias e sofrimento. Jesus fez tudo para evitar o “escândalo de cruz”,
mas não houve jeito. Só em Pentecostes os discípulos entenderam.
Entretanto, o fato de ter medo
mostra que os discípulos ficavam inseguros ou “perdidos” quando Jesus falava
isso. É a atitude de quem chega perto do mistério, mas não consegue entrar
nele.
Por incrível que pareça, esse
choque de mentalidades entre o pensamento do mundo e o de Cristo continua até
hoje. Quantos ensinamentos de Jesus são totalmente ignorados pelo mundo
pecador. As pessoas conhecem, mas fazem de conta que não conhecem. Isso em
relação ao casamento, à partilha dos bens, ao modo de se comportar diante de
uma agressão etc. O fato de surgirem seitas em toda parte, criando um
“evangelho” diferente do de Jesus, é outra atitude paradoxal do homem moderno.
Todas as seitas são diferentes uma da outra e todas se entendem como a única
verdade de Cristo! Todas têm o seu fundador e data de fundação, e pensam que
foram fundadas por Jesus Cristo!
O discípulo de Jesus não busca
aplausos. Pelo contrário, fica preocupado quando o mundo pecador o elogia
muito, pois a proposta cristã entra em choque com o mundo.
Quando nós não entendermos
algumas palavras de Jesus, vamos nos lembrar que ele é o próprio Deus
encarnado, portanto é fidedigno. Podemos obedecer os seus ensinamentos “como se
víssemos o invisível”.
O melhor é não ter medo de
fazer perguntas, quando não entendemos alguma coisa da nossa fé. É trocando
conhecimentos e experiências que perseveramos e cresçamos na vida cristã.
“Caminheiro, você sabe, não
existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz.” Ser discípulo
de Jesus é caminhar com ele. É no caminho que se aprende, inclusive nas quedas.
É pena que, na hora da cruz, muitos desistem, e outros procuram atalhos, com o
objetivo de evitar a cruz!
Não é aqui na terra que
recebemos retorno pelo bem que fazemos. O discípulo de Jesus continua pobre,
aflito e com fome e sede de justiça. Mas ele ou ela confia em Deus e vai em
frente, vencendo todos os obstáculos.
No batismo, nós nos tornamos
discípulos e discípulas e missionários de Jesus Cristo. Ali começamos a nossa
caminhada, procurando imitar Jesus em tudo. “Quero conhecer o Cristo e
tornar-me semelhante a ele em tudo, até no sofrimento” (Fl 3,10-11). “Já não
sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Assim como Jesus vivia em
Comunidade com os Apóstolos, nós queremos viver sempre em Comunidade. A vida em
Comunidade é, muitas vezes, uma cruz, mas nem por isso vamos abandoná-la.
“Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum” (At 2,44).
A vida em Comunidade é, ao mesmo tempo, difícil e bela. Ela é uma cruz, mas uma
doce cruz.
O que Jesus mais detesta é o
discípulo convencido, que pensa já ter chegado à perfeição cristã. Essas
pessoas são as primeiras a ver o cisco no olho do irmão, sem reparar na trave
do próprio olho.
“Tenho nojo, detesto as vossas
celebrações. Quem pediu para pisardes nos meus átrios? Mãos sujas de sangue!...
No dia do juízo, Sodoma e Gomorra terão sorte melhor que vós!” (Is 1,10-17).
A melhor atitude do discípulo é
jogar-se nas mãos de Deus como uma criança se joga nos braços da mãe. Cuidar
apenas do momento presente, deixando para Deus o futuro e o passado. Ele nos protege
em tudo, inclusive nos indicando o que devemos falar numa hora difícil. Não
perderemos um só fio de cabelo.
Certa vez, um rapaz
universitário, filho único, estava em sua cidade, de férias. Um dia, ele estava
na praça, viu uma briga e foi apartar. Com isso, infelizmente foi atingido por
uma faca e morreu. O assassino foi preso em flagrante. No julgamento, o moço
pegou vários anos de prisão.
Mas o pai da vítima, que estava
presente, pediu a palavra e disse: “Senhoras e senhores, nós, eu e minha esposa
que está aqui ao meu lado, tínhamos um filho só, o qual amávamos muito. Sua
morte deixou em nossa casa uma grande lacuna. Nós dois gostaríamos de adotar
alguém que preenchesse esse vazio e suavizasse a nossa dor. Resolvemos adotar
como filho o próprio rapaz que acaba de ser julgado. Que ele possa pagar a sua
pena morando em nossa casa. É o que pedimos”.
Todos os presentes ficaram
emocionados diante de tal atitude. Os jurados, unanimemente, e o juiz,
acolheram o pedido, e o casal acolheu, como filho, o assassino do seu próprio
filho!
Dá até para imaginar o que
esses pais pensaram: “Esse rapaz fez isso num momento de bobeira. No fundo, ele
é bom. Quem sabe agora, morando conosco, ele se emenda”. Acontece que esse tipo
de raciocínio vale para qualquer assassino, qualquer criminoso. Para alguns, a
gente vai dizer: “Sim, foi um crime premeditado. Mas olhe o passado dele. No
fundo, ele é bom. O que falta é ser amado, para que aprenda a amar”. A
misericórdia caminha por aí. Ela não é ingênua, é real e verdadeira.
A atitude desse casal foi
parecida com a de Jesus. Vivendo no meio dessa sociedade pecadora, os três,
Jesus e o casal, tiveram um amor universal. Não excluíram ninguém do seu amor,
nem mesmo pessoas que lhes fizeram um grande mal. O nosso perdão deve ser completo
e de coração.
Na vida pública de Jesus,
quando ele era aclamado, Maria certamente estava ali por perto, mas não
aparecia. Quando Jesus foi humilhado na cruz, ela esta estava em destaque, de
pé, sofrendo junto com ele as humilhações, mas sem odiar ninguém. Virgem Mãe
das Dores, rogai por nós!
O Filho do Homem vai ser
entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer perguntas sobre o
assunto.
Padre Queiroz
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