Padre Reginaldo Ghergolet
O Evangelho desse Domingo também faz parte do discurso de despedida de
Jesus em João no qual ele deixa seu legado e as propostas de vivência da fé
para seus discípulos e a nós. Depois de ter ensinado o mandamento do amor de
domingo passado, agora ele mostra que por meio disso ele quer, com o Pai, fazer
morada no coração dos discípulos. Essa morada é simples, requer apenas guardar
suas palavras para que ele e o Pai estejam presentes.
Não é difícil entender a mensagem principal. Quem vive o Evangelho, quem
ama, Deus permanece nele e sua vida é um reflexo de Deus. Diante disso podemos
fazer uma reflexão de como está nossa vivência do Evangelho. Será que Deus está
em mim, em minhas palavras, em minhas ações?? Será que leio ouço Jesus e
transmito em meus atos e ações?? Esse deve ser o termômetro da vida do cristão.
Quando saio na rua as pessoas ficam felizes com a minha presença, me
cumprimentam, fazem questão de conversar comigo. Será que elas gostam de me
ouvir falar, de ficar perto de mim. Será que minha presença é agradável e minha
estada é sempre quista pelas pessoas?? Se isso acontece, certamente estou
vivendo o Evangelho, o mandamento do amor. Não é por causa de mim, mas por
causa da presença de Deus segundo a promessa de Jesus. “Faremos morada e o
amaremos” Jô 14,23. Se assim agimos, é porque Deus está em nós e transforma os
lugares que passamos. Assim nunca estaremos sozinhos, mas rodeados de pessoas
que percebem Deus em nós. Se nossa vida não é assim, é porque estamos longe de
viver o Evangelho, de ouvir e guardar as palavras de Jesus. Então é hora de
conversão.
Jesus ainda promete o Espírito Paráclito, o defensor. Lembrando apenas
que no tempo que o Evangelho foi escrito havia muita perseguição à Igreja como
hoje também temos. É Paráclito quem defendia os cristãos. Naquele tempo não
avia advogado como hoje nos julgamentos. Assim, o condenado contava com a sorte
torcendo para que alguém se levantasse e se colocasse a seu lado para o
defender. Esse era chamado o “paráclito”, o que se colocava ao lado.
A promessa de Jesus também tem esse sentido. Para o cristão basta uma
preocupação, viver o Evangelho. Não importa o que os outros vão pensar, o que
vão falar. Não é preciso se preocupar com a defesa por que o Espírito se
encarrega disso. É também o Espírito que vai ensinar os caminhos a seguir
recordando os fatos passados, os acertos e erros. É Ele que vai indicar o
caminho e esse surgirá em nossa mente após a reflexão de tudo o que aconteceu.
É o Espírito do discernimento.
A presença de Deus, da trindade, na pessoa que vive o Evangelho traz a
paz. Não uma paz como o mundo oferece, mas a paz verdadeira. Não é uma ilusão
de que tudo está bem, mas a coragem de enfrentar a realidade e procurar o que é
reto, o que é coerente com o Evangelho. Essa é a paz de Jesus que pede para não
perturbar o coração em momento algum porque é sua presença juntamente com o Pai
e o Espírito nosso maior consolo.
É nisso que devemos acreditar, é assim que devemos viver. Num tempo de
crise, de perseguição da Igreja pelos meios de comunicação, num tempo que
pensamos em abandonar Jesus devemos perceber que sua presença é essencial para
nossas vidas. É o Espírito que guia a Igreja, que deve guiar nossos passos, é
ele o Paráclito. Nossa vida deve estar pautada somente no Evangelho. “Quem vive
o Evangelho nunca está só” porque Deus está caminhando com ele. A solidão não
tem espaço na vida de quem ama, de quem ouve e segue Jesus. É assim que deve
ser a Evangelização.
Finalizo com o pensamento de cardeal Van Thuam em seu livro “Testemunho
da Esperança” quando um jovem inglês lhe pediu que deixasse um legado para a
Evangelização da juventude nos tempos modernos. Ele disse ao universitário:
“Siga Jesus, as pessoas verão você seguindo Jesus e irão atrás de você”. Ouvir
e praticar o Evangelho é estar com Jesus, é segui-lo. Eis o segredo de uma
evangelização fecunda. Eis o caminho da paz. Com Jesus e seu Evangelho temos o
Pai e o Espírito, somos morada da Trindade e nunca estaremos só porque muitos
estarão seguindo Jesus por meio de nós.
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