Todas as pessoas verão a salvação de
Deus.
Este Evangelho, do segundo domingo do
advento, tem duas partes. Na primeira, o evangelista situa bem, na história
nacional e internacional, a preparação do povo feita por João Batista, para que
as pessoas possam receber a Boa Nova trazida por Jesus. A preparação consistia
na prática da penitência, no arrependimento dos pecados e na conversão. Na
segunda parte, o evangelista apresenta um resumo da pregação de João Batista.
Ele repete as profecias de Isaías,
que chamam abertamente para uma mudança de vida, e o faz através de
comparações: endireitar as veredas, aterrar os vales, rebaixar as montanhas e
colinas, tornar retos os caminhos curvos, aplainar os caminhos acidentados...
Tudo isso, a fim “preparar o caminho do Senhor”. Assim, “todas as pessoas verão
a salvação de Deus”.
Precisamos aplainar as desigualdades
injustas, tapar os buracos da fome, da ignorância e da pobreza, arrasar o
orgulho, construir pontes de reconciliação. Reconhecendo que somos pecadores,
podemos levantar para a esperança os ânimos nossos e das pessoas decaídas.
Tudo parte da conversão pessoal que,
segundo João Batista, deve ser concreta e atingir a nossa vida individual, o
nosso ambiente e a sociedade, construindo uma nova estrutura.
A graça quer agir em nós no advento
como uma pedra lançada em um lago: as ondas vão se alargando e atingindo a
nossa família, o nosso ambiente de trabalho, de estudo... até chegar à mudança
de estruturas sociais. O amor a Deus e ao próximo é o motor de tudo isso.
O mais importante e a fonte de tudo é
a conversão pessoal, a mudança de coração, de mentalidade e de comportamento. A
vida humana não se transforma através de mudanças estruturais, mas através do
testemunho de pessoas transformadas. O futuro melhor forja-se no coração de
cada um.
Foi a gente simples do povo que
melhor respondeu ao imperativo da conversão que o profeta anunciava. Os pobres
são vazios de si mesmos e respondem mais generosamente ao chamado do alto.
Hoje, preparar o caminho do Senhor
está cada vez mais difícil, porque, no nosso meio, a indiferença religiosa e a
multiplicação de seitas diluem a força que vem do alto. Contudo, muitos
profetas atuais têm operado maravilhas, apressando a vinda do Senhor.
Somos peregrinos da esperança,
atravessando o deserto da vida, rumo à casa do Pai e nossa casa definitiva. Nós
olhamos sempre para frente, procurando descobrir novos passos a dar.
Numa época de mudanças sociais
profundas como a nossa, temos de examinar seriamente a nossa sensibilidade ao
Evangelho. Que bom seria se João Batista aparecesse hoje, fazendo-nos apelos
concretos e nos convidando à conversão!
E João Batista, como todos os
profetas, nos ensina não só com as palavras, mas com a sua vida. Ele morava no
deserto, que é um dos piores lugares para se viver, devido ao calor, à falta de
vegetais e qualquer tipo de distração. Assim, o deserto faz com que a pessoa
automaticamente olhe para o céu e se lembre de Deus.
Também a roupa de João, feita de
pelos de camelo, não era nada confortável. Tudo o forçava à penitência.
Outro exemplo admirável de João é a
sua coragem de falar a palavra certa, na hora certa, para a pessoa certa e sem
rodeios nem medo.
Se agora no advento, fugirmos um
pouco da nossa vida confortável e barulhenta, buscando a oração e a
contemplação, certamente Deus nos ajudará a nos preparar bem para o Natal, o
qual será iluminado pela mesma estrela que iluminou a gruta de Belém.
Outro exemplo de João é que ele comia
gafanhotos. Gafanhoto é bom para a saúde, mas não é nada agradável de se comer.
O cristão penitente come o que e quanto precisa para ter uma boa saúde.
Certa vez, faleceu o guardião de um
grande mosteiro. Guardião é o monge responsável por toda a administração
material do mosteiro, cargo que fica logo abaixo do superior. Aquele monge
havia exercido essa função durante longos anos, acumulando larga experiência.
Não era fácil, agora, encontrar o seu substituto.
Por isso o superior convocou uma
reunião com todos os monges e, num ambiente de grande expectativa e
responsabilidade, introduziu o assunto: “Precisamos escolher o novo guardião do
mosteiro. Tendo em vista a exigência dessa função, precisamos ser criteriosos
na escolha. Por isso, resolvi fazer o seguinte: vou colocar um problema. Aquele
que conseguir resolver o problema mais rapidamente, será o novo guardião”.
O superior ausentou-se da sala e,
pouco tempo depois, voltou. Trazia um jarro grande, muito antigo e de rara
beleza. Trazia também uma rosa amarela, muito bonita. Colocou o jarro e a rosa
em cima da mesa, no centro da sala, e disse: “Eis o problema!”
“Mas como, o problema?” – pensava
intrigado cada monge consigo mesmo. Um pesado silêncio caiu na sala. Ninguém
ousava se mexer. Alguns até duvidaram da sanidade mental do superior.
De repente, um dos monges levantou,
aproximou-se do jarro e da rosa amarela e, com um golpe, quebrou o jarro
precioso e machucou a flor!
Os outros monges prenderam a
respiração e soltaram um “ai” incontrolável. O superior do mosteiro,
serenamente, falou: “Você será o novo guardião do mosteiro!”
Um problema, mesmo que seja um
problema bonito, é problema e precisa ser resolvido. Nós criamos determinados
hábitos que se tornam problemas. Advento é tempo de enfrentar com decisão e
firmeza os nossos problemas, a fim de superá-los.
Na gruta de Belém, Deus derrotou
definitivamente o mal. E lá os visitantes encontravam o Menino Jesus nos braços
de sua Mãe. Que nos prepare bem para o Natal.
Todas as pessoas verão a salvação de
Deus.
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