14 de novembro - quarta feira
QUARTA FEIRA DA 32ª SEMANA DO TC 14/11/2012
1ª Leitura Tito 3, 1-7
Salmo 22 (23)
“O Senhor é meu Pastor, nada me falta”
Evangelho Lucas 17, 11-19
A FÉ
COR DE CINZA– Diácono José da Cruz
Às
vezes entre os próprios cristãos há uma anedota de que, para a pessoa ser
crente, tem que ser direita, séria, a Fé nesse caso é avaliada pelas atitudes,
deixou de fumar, de beber, de levar uma vida devassa, dizem que a pessoa então,
virou crente, e qualquer não participação da mesma, em algo que signifique
diversão e descontração, lá vem alguém com a piadinha desrespeitosa: “ Esse aí
virou crente”
Penso
que ter uma nova atitude, a partir do momento em que se encontrou Jesus
Salvador, e o proclama-se Senhor da nossa Vida e da nossa História, é válida e
deve ser respeitada, principalmente em meio a uma sociedade marcada pelo
ateísmo.
Essa
Fé cor de cinza que eu quero aqui abordar, vai além dessas aparências que
possam sinalizar uma vivência cristã na vida das pessoas. É exatamente a Fé
daqueles nove leprosos que não voltaram, recebendo a crítica do evangelista
Lucas nesse evangelho do 28º Domingo do Tempo Comum.
Provavelmente
em nossas igrejas cristãs, nos sentiremos exortados por essa palavra, para que
tenhamos sempre a atitude do Leproso que voltou para dar glória a Deus, pelo
dom da sua cura. Certamente muitos pregadores irão dar enfoque à virtude da
gratidão, dizendo que diante de Deus devemos ser gratos, no que não estão
errados, no fundo a mensagem seria mesmo essa. Mas tenho como proposta fazer
uma reflexão ainda mais profunda, válida para todos os que se declaram e se
sentem cristãos: qual a diferença entre os nove que não voltaram, e aquele que
voltou?
Até
o momento em que encontraram Jesus, eles eram exatamente iguais, vítimas da
mesma desgraça, a lepra, uma doença que acabava com a alegria de viver, porque
o homem, longe do seu semelhante, isolado de seus irmãos, se transforma em um
“Bicho Triste”. Banido da sociedade, da família e da comunidade.
O
texto não fala que um suplicou mais do que o outro, ou que um gesticulou, ou
ficou de cabeça baixa, ou que alguém entre eles, se ajoelhou, simplesmente
pararam á distância e clamaram por misericórdia. Vendo-os Jesus disse “Ide
mostrar-vos aos sacerdotes”. Até aqui, portanto, nenhuma diferença, tudo
exatamente igual, mas aconteceu que enquanto caminhavam ficaram
purificados....aqui começa a diferença de atitudes....e a Fé começa a ter uma
cor.
Os
dez se deram conta de que algo de extraordinário tinha acontecido com eles, a
partir daquele momento não eram mais leprosos, poderiam voltar de imediato ao
convívio dos familiares, dos amigos, e da comunidade, acabou-se a confinação, o
isolamento, a vidinha triste do acampamento de Leprosário, se tinham esposas ou
mães e pais, irmãos e irmãs, quem sabe alguma noiva, tudo havia agora se
renovado, a vida recomeçava com um horizonte novo e promissor. A cura não era
mais uma promessa, mas realidade palpável e concreta, pele limpa, mãos e rosto
intacto e sem deformações monstruosas. Podiam comemorar e extravasar toda
alegria presentes na alma e no coração.
Com
certeza, os dez sentiram naquele momento toda essa euforia , entretanto, na
comemoração, só um deles teve a ousadia de “extrapolar”, não havia como deixar
fora desse clima de Festa, Aquele que realizara tal prodígio, seria impensável
para ele, prosseguir o caminho sem antes festejar a cura com aquele que o havia
curado, mas junto com a alegria também o sentimento de gratidão,Simplesmente
porque acaba de ser curado. Não damos glória a Deus porque somos bons cristãos,
praticantes da religião, cumpridores das obrigações cristãs, mas damos Glória a
Deus, porque o seu Amor é grandioso e infinito, e em Jesus o Filho de Deus, já
podemos sentir esse amor extremamente misericordioso.
Imagino
que no caminho de volta esse homem fez a maior festa, cantando, dançando, dando
murros no ar para extravasar a sua incontida alegria. A sua Fé tinha a cor da
alegria, era uma Fé contagiante, marcada antes de tudo pelo encanto que
começara a sentir pela pessoa de Jesus, por isso o Senhor irá lhe dizer “Vai, a
tua Fé te salvou”. Os outros nove continuaram curados da lepra, mas este
estrangeiro acabara de descobrir que somente Jesus, Salvador e Redentor
consegue dar um sentido novo á nossa vida, somente ele é a razão de se viver.
Provavelmente
procurou o Sacerdote, representante da Instituição, que iria apenas confirmar
aquilo Jesus realizara em sua vida, o verdadeiro rito manifesta aquilo que é
essencial, sinalizando o agir Divino.
Em
todos os domingos, nós cristãos temos um encontro privilegiado com Jesus em
nossas comunidades, sua palavra nos encanta e a Ceia Eucarística que é o seu
Corpo e Sangue, passa a fazer parte do nosso Ser Existencial, O Mistério da
Força da Eucaristia nos desinstala de nós mesmos, nos leva a buscar a comunhão
com as pessoas que nos cercam e com quem convivemos na Comunidade, na Família e
na Sociedade.
Qual
a cor da Fé que manifestamos em nossas celebrações? Se for a do rito formal de
uma liturgia “quadrada” que sufoca em nós a alegria de manifestar o amor de
Deus, se for a de um formalismo religioso vivido em uma igreja das
obrigatoriedades e preceitos, ela será sempre CINZA como a dos nove Leprosos,
que preocupados com o aspecto legalista da relação com Deus, esqueceram ou não
quiseram comemorar com Aquele que é a causa, a razão e o sentido desta Vida
Nova que nos libertou da tristeza do pecado.
Fé
que se fecha em nossas igrejas, não irradia alegria de ser amado, e não
contagia as pessoas com quem convivemos, será sempre cor de CINZA, e nossas
celebrações serão sempre enfadonhas, monótonas, não vemos a hora de acabar,
para voltar ao Leprosário do nosso egoísmo, do mundinho religioso que
inventamos, onde nada mais enxergamos além do próprio umbigo. Essa Fé não salva
e nem cura ninguém, nem a nós mesmos...
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