Segunda-feira do tempo de Natal
2 Janeiro 2017
Segunda-feira do tempo
de Natal
Lectio
Primeira leitura: 1
João 2, 22-28
Caríssimos, 22 quem é,
então, o mentiroso? Quem é, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é
o Anticristo, aquele que nega o Pai e igualmente o Filho. 23Todo aquele que
nega o Filho, fica sem o Pai; aquele que confessa o Filho, tem também o Pai. 24*Quanto
a vós, procurai que em vós permaneça o que ouvistes desde o princípio. Se em
vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no
Filho e no Pai. 25*E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna.
26Escrevo-vos isto a propósito
dos que procuram enganar-vos. 27Quanto a vós, a unção que dele recebestes
permanece em vós, e não tendes necessidade de que ninguém vos ensine; mas, tal
como a sua unção vos ensina acerca de todas as coisas .e ela é verdadeira e não
engana. permanecei nele, de acordo com o que Ele vos ensinou.
28*E agora, filhinhos,
permanecei nele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos plena confiança e
não fiquemos cheios de vergonha, longe dele, por ocasião da sua vinda. 29*Se
sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça
nasceu dele.
Em finais do século I,
a Igreja viveu uma fase de grandes tribulações: os “anticristos” negavam que
Jesus fosse o Messias, o Filho de Deus. A mentalidade gnóstica não podia
admitir que o Verbo tivesse verdadeiramente incarnado. Mas negar essas verdades
era, para João, excluir-se da comunhão com Deus e da vida. Era ser
“anticristo”.
O verdadeiro cristão
deve permanecer fiel à Palavra escutada desde o princípio, isto é, ao mistério
pascal na sua totalidade (morte e ressurreição) ensinado pelos apóstolos. É
essa a fé que permite estar em comunhão com o Filho e com o Pai (v. 24). Viver
em comunhão com Deus é possuir a promessa da «vida eterna» feita por Cristo (v.
25). O crente recebeu a «unção» do Espírito no Baptismo (v. 27). Por isso pode
resistir às falsidades dos “anticristos”, viver o Evangelho e aguardar a vinda
de Cristo. O Espírito dá-nos a força interior da sabedoria, torna-nos
discípulos invencíveis e dá-nos confiança em relação ao dia do Senhor (v. 28).
Evangelho: João 1,
19-28
19Este foi o
testemunho de João, quando as autoridades judaicas lhe enviaram de Jerusalém
sacerdotes e levitas para lhe perguntarem: «Tu quem és?» 20Então ele confessou
a verdade e não a negou, afirmando: «Eu não sou o Messias.» 21E
perguntaram-lhe: «Quem és, então? És tu Elias?» Ele disse: «Não sou.» «És tu o
profeta?» Respondeu: «Não.» 22Disseram-lhe, por fim: «Quem és tu, para podermos
dar uma resposta aos que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo?» 23*Ele declarou:
«Eu sou a voz de quem grita no deserto: ‘Rectificai o caminho do Senhor’, como
disse o profeta Isaías.»
24Ora, havia enviados
dos fariseus, que lhe perguntaram: 25«Então por que baptizas, se tu não és o
Messias, nem Elias, nem o Profeta?» 26João respondeu-lhes: «Eu baptizo com
água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis. 27É aquele que vem depois
de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.» 28*Isto
passou-se em Betânia, na margem além do Jordão, onde João estava a baptizar.
João Baptista, que se
encontra em Betânia, além do Jordão, dá testemunho de Jesus perante a delegação
enviada pelas autoridades de Jerusalém. À pergunta: «Tu quem és?», João afasta
todo e qualquer mal-entendido sobre a sua pessoa e a sua missão declarando não
ser o Messias esperado. Declara também não ser Elias, nem qualquer profeta,
personagens aguardadas para o tempo messiânico, provocando desorientação nos
seus interlocutores. Depois apresenta-lhes a sua verdadeira identidade: «Eu sou
a voz de quem grita no deserto» (v. 23) e prepara o caminho a Cristo (cf. Is
40, 3). Ele não é a luz, mas apenas uma lâmpada que arde e dá testemunho da luz
verdadeira. Ele não é a Palavra incarnada, mas apenas a voz que prepara o
caminho pela purificação dos pecados e a conversão do coração. Finalmente
declara: «Eu baptizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis»
(v. 26).
O baptismo de João é
apenas um rito para dispor ao acolhimento do Messias; não é ainda o baptismo
dos tempos da salvação. João aproxima a sua pessoa da de Cristo para realçar a
dignidade e a grandeza de Jesus, cuja vida tem dimensões de eternidade: João
não é digno de lhe desatar a correia das sandálias, de lhe prestar os mais
humildes serviços… João quer suscitar a fé em Jesus nos seus ouvintes, porque
só Ele é o Salvador. O Baptista é apenas o precursor, aquele que vai à frente a
preparar os caminhos.
Meditatio
João convida a que
permaneçamos no Filho e no Pai. A relação com o Pai e o Filho é comparada a uma
«unção». A unção permeia, penetra nos tecidos, nos corpos. Assim, quem crê no
Filho, possui-O e possui também o Pai, não precisando de mais nada, porque tem
o Mestre interior que não mente.
Para acreditar, é
preciso ser humildes como João Baptista. O homem temperado na solidão do
deserto esconde-se e desaparece à sombra d´Aquele que Se apresenta ao mundo. A
sua missão foi exactamente dar testemunho. João não negou a Cristo; negou a si
mesmo.
Dificilmente negamos a
Cristo directamente; mas podemos negá-Lo afirmando-nos a nós mesmos.
O Cristão de hoje é
chamado a ser anunciador do Evangelho e da palavra de Jesus, a voz que grita
com a sua vida a verdade de Cristo, apesar da pobreza e da fraqueza que
experimenta em si mesmo, nas suas palavras e métodos pastorais.
O cristão é aquele que
se define em função de Cristo. Dá testemunho d´Ele, prepara- Lhe a missão. Não
procura centrar as atenções em si, mas em Cristo e no Evangelho.
A humildade é o
caminho da caridade e a condição para um testemunho apostólico abençoado por
Deus. Para vir até nós, Deus percorreu o caminho da humildade (cf. Fil 2,
6-11). Não temos um caminho diferente para irmos até Ele. A humildade
permite-nos permanecer em Deus.
A humildade é condição
para um apostolado verdadeiro, que põe Cristo no centro das atenções. Não foi
sem razão que Jesus nos mandou aprender d’Ele, não a pregar ou a fazer
milagres, mas a ser "mansos e humildes de coração" (Mt 11, 29). A
mansidão e a humildade de coração hão-de caracterizar, de modo particular,
aqueles que se intitulam Sacerdotes do Coração de Jesus, ou querem viver a
espiritualidade dehoniana.
Oratio
Senhor, ensina-nos a
sermos como João Baptista, verdadeiras testemunhas de Ti e do teu amor no meio
dos nossos irmãos. Como João, queremos empenhar a nossa voz, as nossas forças,
toda a nossa vida para que a humanidade inteira Te reconheça presente e activo
no meio de nós, se decida em teu favor e tenha comunhão contigo e com o Pai.
Senhor, reforça a
nossa fé em Ti, único Salvador da humanidade. Faz-nos experimentar o poder do
teu Espírito, que é a nossa força e o nosso apoio no apostolado. Ensina-nos a
não presumirmos das nossas forças e métodos apostólicos, sabendo que só Tu,
pelo teu Espírito, podes tornar fecundo o nosso trabalho e as nossas
estratégias pastorais.
Senhor, dá-nos
consciência de que somos instrumentos simples e pobres nas tuas mãos, que só a
tua graça torna capazes de ser úteis na construção do Reino da justiça e da
paz. Amen.
Contemplatio
A igreja apresenta-nos
o exemplo do Precursor, para nos preparar a receber o nosso Deus que vem curar
o nosso orgulho e salvar-nos pela humildade do presépio. É efectivamente grande
a humildade do Precursor e ela brilha nas respostas aos Fariseus. Ele conquistou
os corações, para o devolver a Deus, com as suas austeras virtudes e a sua
heróica penitência. A sua santidade lembra e ultrapassa a dos maiores profetas.
O próprio Nosso Senhor haveria de proclamar a grandeza dos seus méritos e da
sua missão que muito tinham pressagiado o seu nascimento. Apesar de tudo, deu a
mais humilde resposta aos Fariseus que lhe vêm perguntar se é Elias ou um dos
profetas. Ele centra as atenções no Salvador: «Sou a voz que clama no deserto:
endireitai o caminho do Senhor» E quando insistiram, pôs-se aos pés do seu
Salvador: «Aquele que deve vir depois de mim, era antes de mim e eu não sou
digno de lhe desatar as correias das sandálias».
Não procura estima
para si, não procura louvores, não pensa em si mesmo senão para se humilhar
(Leão Dehon, OSP 2, p. 555).
Actio
Repete frequentemente
e vive hoje a palavra:
«No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26)
«No meio de vós está quem vós não conheceis» (Jo 1, 26)
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