Sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Exaltação da Santa Cruz
Santos do Dia: Cereal e Salustiana (casal cristão, mártires), Cormac de Cashel
(rei, bispo), Crescenciano, Vítor, Rosula e General (mártires da África),
Crescêncio de Perúgia (menino de onze anos, filho de Santo Eutímio, mártir),
Materno de Colônia (bispo), Notburga do Tirol (leiga virgem).
Primeira leitura: Números 21, 4b-9.
Olhavam para a serpente e ficavam curados.
Salmo responsorial: 77, 1-2.34-38.
Não esqueçais as obras do Senhor.
Segunda leitura: Filipenses 2, 6-11.
Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai.
Evangelho: João 3, 13-17.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu filho único.
Olhavam para a serpente e ficavam curados.
Salmo responsorial: 77, 1-2.34-38.
Não esqueçais as obras do Senhor.
Segunda leitura: Filipenses 2, 6-11.
Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai.
Evangelho: João 3, 13-17.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu filho único.
Estamos na festa da “Exaltação” da Santa Cruz. É um sinal que
identifica mundialmente o cristianismo, como a meia lua identifica o Islan ou a
estrela de seis pontas, formada por dois triângulos eqüiláteros, identifica o
judaísmo.
Na mentalidade mágica, a cruz teve na historia quase tanto valor
como o Cristo, que nela foi crucificado. “O sinal da cruz” foi espantalho para
o demônio, afastou maldições, “persignando” a todos os devotos, foi traçada
milhões de vezes no ar, derramando graças e bênçãos.
Na religiosidade popular, Cristo foi, sobretudo, o sofredor, o
condenado, açoitado, crucificado, homem das dores, morto entre sofrimentos
insuportáveis. A cruz foi o sinal da dor, tanto de Cristo como da dor
universal. Para os cristãos, o sofrimento de Cristo tem referencia universal. A
inevitável dimensão dolorista da cruz, faz com que sua “exaltação” não deixe de
implicar problemas.
Alguns agentes de pastoral, com freqüência, querem esquecê-los,
não referi-los, olhando para outra parte, falando de outra coisa. Nem sempre
este método evasivo é o melhor serviço que se pode prestar ao povo cristão.
Cremos que é melhor enfrentar os problemas face a face, dando-lhes nomes e
limites. É o que procuramos fazer. O primeiro grande perigo é essa mesma
“exaltação” da cruz, pela qual se exalta o sofrimento pelo sofrimento, como se
tivesse um valor cristão por si mesmo. Ainda se conserva uma imagem de Deus
dolorista e amante do sofrimento, que parece alegrar-se quando vê o sofrimento
das pessoas, ou que somente concede sua graça ou sua benevolência em troca de
sofrimento.
Muitas promessas da religiosidade popular são feitas sobre esse
esquema: eu me sacrifico, ofereço a Deus uma dor e como pagamento recebo uma
recompensa de Deus pelo favor solicitado. Este Deus, ante o qual vale o
sofrimento, não é um Deus cristão; a exaltação de uma cruz que inclui uma
imagem de Deus assim não seria uma exaltação cristã.
É um gravíssimo problema essa teologia que ainda está aí,
segundo a qual Deus enviou seu Filho ao mundo para sofrer, e sofrer
horrorosamente, porque Ele seria o único capaz de oferecer uma reparação
infinita à dignidade ofendida pelo ser humano em um “pecado original” (que
historicamente não aconteceu)... Sem fundamento real no evangelho, esta
teologia apareceu com a passagem dos primeiros séculos, e foi Santo Anselmo de
Canterbury (século XI) quem lhe deu a configuração com a qual chegou até nossos
dias nos livros de catequese infantil.
É a visão clássica da “redenção”: a morte redentora de Jesus na
cruz, “paga” com seu sofrimento ao Pai, a fim de que este restabeleça a boa
ordem de suas relações com a Humanidade.
Estreitamente unido a esta teologia está o “sacrifício” de
Cristo na Cruz. Uma teologia que, por uma parte, hoje evidencia uma imagem de
um Deus inaceitável. Por outra parte, trata-se de uma teologia que ainda
figura, inexplicavelmente, nos documentos oficiais... Celebrar a Exaltação da
Santa Cruz sem abordar estes problemas pode ser mais cômodo, porém não mais
sincero nem mais proveitoso ou pedagógico. A cruz de Cristo não deveria ser
utilizada como símbolo de tudo aquilo que em nossa vida humana há de limitação
estrutural ou de finitude natural.
Essa é uma dimensão natural de nossa vida humana (“as cruzes da
vida”) e a cruz de Cristo não tem nada de “natural”, mas que têm tudo a ver com
a história. Na cruz de Cristo, se não queremos cair em mistificações, não
entram suas dificuldades e limitações humanas, nem as nossas: enfermidades,
limitações, acidentes, nem a má sorte. Isso não é a cruz de Cristo, e sim
avatares e peculiaridades da vida humana que devem ser superados com a graça e
boa vontade.
A cruz de Cristo não foi um “desígnio de Deus”, mas um desígnio
muito humano. Jesus, por sua parte, tampouco buscou a cruz: “Afasta de mim este
cálice” e nunca deverá ser buscada, por si mesma, por parte de seus discípulos.
Aquele “Ave Crux, Spes única!” (Salve Cruz, única esperança) do adágio
clássico, é preciso tomá-lo com cautela na forma de entendê-lo. Nem Deus, nem
Cristo “amam a Cruz”, nem nós devemos “amá-la”, mas, ao contrário, devemos
combatê-la.
A tarefa do cristão, como a de Jesus, é combater a cruz,
libertar do sofrimento o ser humano, fazer todo o bem possível. Claro que, ao
lutar contra a cruz, ocorre que se levanta a animosidade dos que estão
interessados egoisticamente nos mecanismos de opressão, pessoas e estruturas
que impõem uma cruz sobre quem luta para libertar dela o ser humano. Outro
adágio moderno e correto diz: “Busque a Verdade, a Cruz você já a tem”. Não
devemos buscar a cruz, mas também não podemos retroceder um milímetro na
Verdade e na luta pela justiça por medo da cruz que nos será imposta.
Definitivamente, o que necessitamos exaltar não é a cruz, mas a
coragem de Jesus, que optou pelo Reino e pelo amor, sem temer a cruz que
certamente lhe seria imposta. A exaltação da fidelidade de Jesus à causa do
reino é o verdadeiro conteúdo dessa festa.
Algumas pessoas se assustam diante de releituras críticas.
Parece uma atitude negativista. Preferem que se fale somente do positivo e que
o demais fique esquecido, como se fosse superado. Não compartilhamos dessa
opinião. Estamos em um momento de transição teológica, uma transição lenta por
causa dessa falta de sentido crítico na teologia e na homilia. Se os pregadores
assumissem como tarefa habitual a análise crítica de todo o pensamento que
ainda alastra o cristianismo, teríamos condição de dialogar melhor com o mundo
atual. Por outro lado, toda renovação do pensamento e da vida, necessita de um
momento de “desconstrução” sem o qual não é possível uma verdadeira
renovação.
Oração: Deus, nosso Pai, concede-nos o dom de saber encontrar nos dias
de hoje o sentido profundo de nossa missão cristã, para que nos comprometamos
com tudo o que implica sermos fieis a teu projeto na sociedade em que vivemos e
sejamos construtores do teu reino. Por Cristo, nosso Senhor.
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