Tu és o Messias... O Filho do Homem deve sofrer
muito.
O Evangelho de hoje tem três partes. Na primeira,
Pedro confessa que Jesus é o Messias e Jesus proíbe os discípulos de contarem
isso para os outros. Na segunda, Jesus anuncia a sua paixão, morte e
ressurreição. E na terceira, Jesus apresenta a condição para o seu seguimento:
renunciar a si mesmo e tomar a própria cruz.
Jesus fala da sua condenação, logo após a confissão
de fé messiânica, para afastar a idéia triunfalista que os discípulos tinham do
Messias, junto com os demais judeus. De fato, a figura do servo sofredor (Is
50,5-9 – 1ª Leitura) é a que melhor reflete a missão do Messias.
A repreensão de Jesus a Pedro – “Vai para longe de
mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” – denuncia a
inadequação entre a profissão de fé de Pedro e a sua idéia do Messias. Essa
mesma inadequação acontece conosco cada vez que recusamos a cruz como parte
integrante do seguimento de Jesus. Quantas vezes confessamos o Cristo com os
lábios e o negamos com o nosso comportamento! É a falta de concordância entre a
nossa fé e as nossas obras, denunciada por S. Tiago na 2ª Leitura.
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome
a sua cruz e me siga.” Este é o ensinamento que Jesus nos dá no Evangelho de
hoje. Assumirmos a cruz inerente à nossa vida humana, à nossa missão como
cristãos, na família, na Igreja e na sociedade, renunciando ao egoísmo, à
sensualidade e aos demais desvios do amor verdadeiro. No nossa condição, não é
possível amar a não ser na dor.
O único caminho que nos leva à glória de Cristo é
segui-lo no seu caminho de cruz.
A cruz tem duas hastes, as quais simbolizam a nossa
vida de cristãos: o amor a Deus, haste vertical apontando para o céu, e o amor
ao próximo, haste horizontal apontando para os nossos irmãos e irmãs.
Cristo nunca mandou fazer algo que ele não fizesse
primeiro.
“Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas
quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la.”
Portanto, não se trata de renunciar a vida e sim de salvá-la. Aproveitar desta
vida para alcançar a outra. Não podemos desprezar os valores humanos para
possuir os bens espirituais. O importante é subordinar esta vida à outra. O que
arruína a vida é colocar em primeiro lugar os interesses próprios e egoístas, à
margem do Evangelho. Deus não se compraz no sofrimento, e sim no amor vivido até
na dor, como fez seu Filho.
Com a nossa natureza ferida pelo pecado e inclinada
para o mal, o nosso único caminho de libertação está em assumir a cruz.
Entretanto, o importante não é nos libertarmos de alguma coisa, mas nos
libertarmos para algo mais importante.
Certa vez, um país estava em guerra e havia uma
forte perseguição aos padres. Por isso, eles andavam a paisana, para disfarçar.
Um dia, um pároco, que estava sendo procurado pela polícia, estava na roça, na
casa de uma família da paróquia. Como fazia frio, ele estava na cozinha, na
beira do fogão. O dono da casa estava na roça, trabalhando.
De repente, a polícia chegou e bateu na porta. A
dona da casa foi atender, e o soldado disse: “Nós estamos procurando o padre
fulano. Fomos informados de que ele está aqui, na sua casa”. A mulher
respondeu: “Ele não está aqui. Vocês podem entrar e procurar à vontade”. E ela
foi na frente.
Chegou perto do padre, deu-lhe uma enorme bofetada,
e disse: “Preguiçoso! Vá para o seu trabalho lá na roça!” O padre saiu. Ela
virou-se para os policiais e disse: “Desculpem, senhores! É que esses
empregados de hoje são assim: é só fazer um friozinho, eles param de trabalhar
e vem se esquentar no fogão!” Em seguida, os soldados tomaram um gostoso café
que ela ofereceu e foram embora.
Depois que passou a guerra e acabou o perigo de
perseguição, o padre comentou na igreja: “Puxa! O tapa foi tão forte que vi
estrelas. Mas valeu a pena.
Precisamos ser criativos e espertos na luta pela
construção do Reino de Deus. O Espírito Santo nos indica, na hora, o que
devemos fazer.
S. Pedro também levou uma forte “bofetada” de
Jesus. Mas foi para o seu bem e para o bem do Reino de Deus. E, depois daquela
bronca de Jesus, Pedro aprendeu para sempre a lição de que o Filho de Deus
sofreu e nós devemos sofrer com ele.
Maria Santíssima soube seguir o seu Filho de forma
correta, pois não buscou a cruz como fim, mas a assumiu como meio de amar mais
a Deus e de cumprir a sua missão. Nossa Senhora das Dores, rogai por nós.
Tu és o Messias... O Filho do Homem deve sofrer
muito.
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