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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

HOMILIAS PARA O NATAL


NATAL DE JESUS
Terça-feira dia 25 de Dezembro de 2012

Deus se encarnou no humano para nos tornar divinos.
FELIZ NATAL, IRMÃOS!

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noite feliz
em que deus se fez homem e veio habitar entre nós

Glória a Deus no mais alto dos Céus. Nasceu o Salvador!
Neste momento de alegria e confraternização entre as famílias, os cristãos celebram o nascimento de Jesus.
Na Igreja, esta celebração é realizada em três missas: a missa da noite de Natal conhecida pelo nome de “missa do galo” – Luz nas trevas; a Missa da aurora – Transformados pela Luz; e a missa do dia de Natal – A palavra de Deus se fez Carne.
Segundo o profeta Miquéias, o Messias nasceria em Belém, uma pequena cidade da Judéia.
Maria já estava para dar a luz a Jesus, quando o Imperador César Augusto, que governou Roma entre 30 a.C. e 14 d.C., ordenou que fosse feito um recenseamento. Seu decreto tem duas finalidades: recrutar homens para o exército e garantir o pagamento correto dos impostos nas regiões dominadas por Roma, isto é, arrecadar taxas sobre pessoas livres e escravas, homens e mulheres.
José, por ser da família de Davi, precisou se deslocar com Maria, sua esposa, de Nazaré na Galiléia até a cidade de Belém na Judéia, pois conforme os costumes, cada um devia se alistar com seus familiares na cidade de origem de seus antepassados.
Durante os dias em que estavam em Belém, cumprindo as profecias, nasce Jesus em Belém, uma pequena aldeia, e não em Jerusalém, a capital. Não nasce em um luxuoso quarto, por falta de vagas nas hospedarias, mas sim em um estábulo, e é colocado em uma manjedoura.
A Boa Nova do nascimento do Salvador não é anunciada primeiramente aos poderosos, e sim aos pastores, pessoas que por serem pobres e não terem condições de pagar impostos eram marginalizadas.
Lucas ao descrever o nascimento de Jesus, mostra o contraste: o Filho de Deus que era esperado cheio de poder e glória por todo o povo hebreu, nasce o mais humilde dos humildes, cercado de pobreza. E os primeiros a receberem a boa notícia de seu nascimento são os mais simples entre os povos.
Um anjo do Senhor se encarrega de comunicar a novidade à humanidade, e escolhe os pastores, pessoas que não são bem vistas pela sociedade por não respeitarem as propriedades alheias, invadindo-as com seus rebanhos.
O povo do Messias são essas pessoas marginalizadas pela sociedade, e são eles que recebem a comunicação da Boa Notícia e são encarregados de transmiti-las ao povo.
A salvação não vem de Augusto ou de Roma, mas nasce de um povo sofrido, marginalizado, nasce o Rei Pastor em Belém, na cidade de Davi.
A salvação de Deus chegou para todos, mas o relato do nascimento de Jesus mostra que ela começa pela periferia, pelos pobres, oprimidos e marginalizados a fim de lhes trazer a paz, ensinando que a maior riqueza é a simplicidade e a grandeza do coração, a generosidade das ações, a boa vontade e o amor ao próximo.
Natal é, portanto, tempo especial para rever os sentimentos de fraternidade, união e partilha fazendo nascer no coração o que realmente enriquece o cristão, “Amar como Jesus amou”.

Natal. É dia de ser bom. É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, de falar e de ouvir com mavioso tom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças. É dia de pensar nos outros e, também, nos que padecem, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem” (António Gedeão). Por quê?
Porque “nasceu para nós um Menino, um filho nos foi dado. Traz nos ombros a marca da realeza. Foi-lhe dado o nome de Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai dos Tempos Futuros, Príncipe da Paz” (Is 9,5). “Nasceu hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11). “Maria deu à luz um Filho, e José deu ao Menino o nome de Jesus” (Mt 1,25). Mais tarde, José levará o Menino e sua Mãe para o Egito. Era preciso protegê-lo da maldade de Herodes. Foi lá que o Menino começou a crescer e se desenvolver, até que a Sagrada Família voltasse e se estabelecesse em Nazaré, na Galileia.
Falamos com muita naturalidade do Menino Jesus, de Maria e de José. Chamamos esta família de Sagrada, porque sabemos que Jesus é Deus, Maria é virgem e José, um homem justo. Temos familiaridade com as coisas divinas, e isto é bom porque aproxima o humano do divino. No entanto, para quem não está habituado com a fé cristã, falar de uma moça virgem que tem um filho não deixa de ser estranho. Mais estranho ainda é afirmar que seu filho é Deus e que, portanto, Maria é Mãe de Deus. De fato, estamos tratando de realidades aparentemente tão fora de propósito, que parecem lendas inventadas com algum propósito duvidoso. É tudo tão fora do normal que não pode ter sido invenção humana. Dentro do normal é aceitar um único Deus criador, todo-poderoso, puro espírito, que sustenta a criação e nos espera na vida do mundo futuro. Dentro do normal é aceitar uma família na qual nasce um grande líder religioso, escolhido e abençoado por Deus, que funda uma corrente espiritual em benefício da humanidade.
No entanto, recebemos a revelação de que no verdadeiro princípio, sem nada antes, existia desde sempre a Palavra que saía da boca de Deus e, sendo por Deus gerada, era Deus como Deus, e que esta Palavra, sem deixar de ser Deus, se fez homem, desceu ao nível dos seres humanos e começou a morar e viver entre nós. Vindo de Deus e sendo Deus, Ele mostrou o íntimo de Deus, que é Amor, tão real que é também uma pessoa como Deus e a sua Palavra. Os filósofos da Antiguidade podiam saber que só era possível existir um princípio de tudo, uma causa incausada ou um motor imóvel. A inteligência humana, porém, não era capaz de imaginar um Deus tão grande, capaz de se aproximar de nós e da nossa realidade gratuitamente para que conhecêssemos o Amor.
A partir de então somos portadores de uma revelação, causa de alegria para quem a recebe. Em nós mesmos essa alegria é tão grande que não podemos deixar de partilhá-la, como fez o próprio Deus ao vir partilhar conosco a sua Existência infinita. Só nos resta sermos menos indignos de tão grande graça. Só nos resta vivermos unicamente para Ele.
Rosangela Barboza

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“Um Menino nasceu para nós: um Filho nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus’”. Estas palavras, lidas na leitura da missa da noite, dão bem o sentido da presente celebração. Nasceu para nós um Menino; foi-nos dado um Filho! Vamos encontrá-lo pobrezinho e frágil, deitado na manjedoura, alimentado por uma Virgem Mãe, guardado por um pobre carpinteiro. Mas, quem é este Menino? Quem é este Filho? Agora, com o sol já claro e alto, podemos enxergar melhor o Mistério: meditemos bem sobre o que celebramos na noite de ontem para hoje, no que professamos neste dia tão santo!
Este menininho, a Escritura nos diz que ele é a Palavra eterna do Pai: esta Palavra “no princípio estava com Deus... e a Palavra era Deus”. Esta Palavra, que dorme agora no presépio, depois de ter mamado, é aquela Palavra poderosa pela qual tudo que existe foi feito, “e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”. Esta Palavra tão potente, feita tão frágil, esta Palavra que sempre existiu e que nasceu na madrugada de hoje, esta Palavra que é Deus, feita agora recém-nascido, é a própria Vida, e esta Vida é a nossa luz, é a luz de toda humanidade. Fora dela, só há treva confusa e densa! Sim, fora do Deus feito homem, do Emanuel, não há vida verdadeira! O Autor da Carta aos Hebreus, na segunda leitura, diz que, após ter falado aos nossos pais de tantos modos, Deus, agora, falou-nos pessoalmente no seu Filho, “a quem ele constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo”; somente a ele, o Pai disse: “tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Por isso, somente eles nos dá o dom da vida do próprio Deus!
Eis o mistério da festa de hoje: nesta criancinha nascida para nós, Deus visitou o seu povo, Deus entrou na humanidade. Que mistério tão profundo: ele, sem deixar de ser Deus, tornou-se homem verdadeiramente. Deus se humanizou! Veio desposar a nossa condição humana, veio caminhar pelos nossos caminhos, veio experimentar a dor e a alegria de viver humanamente: amou com um coração humano, sonhou sonhos humanos, chorou lágrimas humanas, sentiu a angústia humana... Ele, Filho eterno do Pai, tornou-se filho dos homens para salvar toda a humanidade, “tornou-se de tal modo um de nós, que nós nos tornamos eternos!”
Ó criatura humana, por que temes com a vinda do Senhor? Ele não veio para julgar ninguém. Não nasceu para condenar. Por isso ele apareceu como criancinha e não como um rei potente; pode ser encontrado na manjedoura, não no trono. Seu chorinho é doce, não afugenta ninguém. Sua mãe enfeixou seus bracinhos frágeis: por que ainda temes? Ele não veio armado para punir. Ele está aí franzino para ficar junto de nós e nos libertar! Celebra, pois, a chegada do teu maior Amigo! Canta Aquele que foi sempre, no sono e na vigília, esperado e ansiado, o guarda de Israel, o consolo da humanidade, o alento do nosso coração. Ele chegou, finalmente! Chegou para nunca mais nos deixar, porque desposou para sempre a nossa pobre humanidade! São Jerônimo, com palavras cheias de ternura, medita sobre este mistério: “O Cristo não encontra lugar no Santo dos Santos, onde o ouro, as pedras preciosas, a seda e a prata reluziam: não, ele não nasce entre o ouro e as riquezas, mas nasce num estábulo, na lama dos nossos pecados. Ele nasce num estábulo para reerguer os que jazem no meio do estrume: ‘Ele retira o pobre do estrume’. Que todos os pobres encontrem nisso consolo! Não havia outro lugar para o nascimento do Senhor, a não ser um estábulo; um estábulo onde se achavam amarrados bois e burros! Ah! Se me fosse dado ver este estábulo onde Deus repousou! Na realidade, pensamos honrar o Cristo retirando o presépio de palha e substituindo-o por um de prata... Para mim tem mais valor justamente o que foi retirado: o paganismo merece prata e ouro. A fé cristã merece o estábulo de palha. Pois bem! Ouvimos a criança choramingar no estábulo: adoremo-la, todos nós, no dia de hoje. Ergamo-la em nossos braços, adoremos o Filho de Deus. Um Deus poderoso, que por longo tempo, bradou alto dos céus e não salvou ninguém: agora choramingou e salvou. A elevação jamais salva; o que salva é a humildade! O Filho de Deus estava no céu, e não era adorado; desce à terra e passa a ser adorado. Mantinha sob seu domínio o sol, a lua, os anjos, e não era adorado; nasce na terra, homem, homem completo, integralmente homem, a fim de curar a terra inteira. Tudo o que não assumisse de humano, também não salvaria...”
É este o mistério do Santo Natal! Tenhamos o cuidado de não parar nas aparências, de não ficarmos somente na meiga cena do Menino, com a Virgem e são José! Este Menino é o Emanuel, o Deus-conosco! Este Menino veio como sinal de contradição, pois diante dele ninguém pode ser indiferente: ou se o acolhe, ou se o rejeita: “A Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não quis conhece-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram. Mas, a todos os que a acolheram, deram a capacidade de se tornarem filhos de Deus...” Pois bem: acolhamo-la, a Palavra que se fez Menino, Filho que nos foi dado! Se o acolhermos de verdade, na pobreza do dia-a-dia, no esforço de uma vida santa, então poderemos cantar com o salmista: “Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça. Os confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai!”
Vamos todos! Sejamos testemunhas da graça deste dia, da novidade desta festa. E cumpram-se em nós as palavras da Escritura na leitura da missa de hoje: “Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação e diz a Sião: o teu Deus reina! O Senhor consolou o seu povo! O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão dever a salvação que vem do nosso Deus”. Sejamos mensageiros dessa paz, dessa boa nova, sejamos testemunhas do Menino, irradiemos a graça do Santo Natal!

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Que sejas bem-vindo, Santo Menino!
“Um Menino nasceu para nós: um filho nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado ‘Mensageiro do Conselho de Deus’” (Is. 9,6).
No noite de ontem, na madrugada deste hoje, contemplamos como Igreja um mistério inaudito: um Menino nos nasceu, pobre e frágil de uma Virgem Mãe. Quantos vieram a esta igreja foram inundados pela paz desse Menino, descido do céu no meio da noite. Agora, passada a noite, vencida a aurora, com o sol já alto, aproximemo-nos, inclinemo-nos para ver melhor: Quem é Aquele que repousa nos braços da Virgem Maria?
Ele é o prometido aos nossos pais, ele é o anunciado pelos profetas, ele é o esperado por Israel: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo”. Atenção! Este Menino não é simplesmente humano, não é uma pessoa qualquer: por ele o Pai criou o universo! Escutai: “Ele é o esplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser. Ele sustenta o universo com o poder de sua palavra. Ele foi sentou-se à direita da majestade divina, nas alturas”. Só a ele o Pai diz: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei!” Caríssimos, ele, esse Menino, não é um mensageiro de Deus, não é um portador qualquer: Ele é a própria Palavra de Deus; aquela pela qual o Pai criou tudo. Escutai, pasmos de admiração: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio estava com Deus. Tudo foi feito por ela, e sem ela nada se fez de tudo que foi feito”. Compreendei, sem sombra de dúvidas, sem rastro de hesitação: esse Menino é Deus! Essa Palavra, esse Filho, esse Menino é a fonte de toda a vida do mundo,é a fonte da nossa vida e o único que pode saciar o nosso coração. Ouvi ainda: é sobre a Palavra! “Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens!” Ela, a Palavra, o Verbo, veio para nos iluminar, veio assumir a nossa vida humana para nos encher da sua vida divina; ele tomou o que é nosso – fraqueza, mortalidade, fragilidade – para dar-nos o que é seu – força, imortalidade, vigor! Ele veio para encher a nossa vida de graça e de verdade, num mundo que nos ameaça com tantas desgraças e com uma vida ilusória e mentirosa...
Pois, que sejas bem-vindo, Santo Menino! Que sejas bem-nascido, ó Santo Emanuel, Deus-conosco! Pensando em ti, repetimos com unção as palavras de Santo Isaías profeta: “Como são belos andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação e diz a Sião, diz à Igreja: ‘Reina o teu Deus’! O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus”.
Mas, caríssimos, neste dia de tanta luz e paz, a mesma Palavra de Deus que nos enche de doçura traz uma nota de treva, traz já uma ponta de cruz. Ouvi com cuidado e sábio realismo: “A Palavra estava no mundo – e o mundo foi feito por meio dela – mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não a acolheram!” É quase inacreditável, mas ainda hoje – e sobretudo hoje! - estas palavras são tristemente verdadeiras! O mundo aí fora não acolheu Aquele que nasceu para nós; o mundo continua envolto em trevas; Maceió continua envolta em trevas! Basta que saiamos daqui e veremos como a nossa paz será desmentida pela futilidade, pela decadência moral, pela soberba prepotente de um mundo cheio de si e satisfeito com sua própria treva! O mundo não o acolheu – que dura e cruel realidade! O mundo o perseguiu por Herodes, o exilou na fuga para o Egito, o mundo o contestou nos escribas e fariseus, o mundo o julgou e condenou como blasfemo em Caifás, como louco em Herodes Antipas, o mundo lavou as mãos ante ele e o crucificou em Pilatos! O mundo ainda hoje nele cospe com o aborto e o desprezo pela vida humana, o mundo o flagela com o consumismo e a impiedade, o mundo o crucifica com a imoralidade e a destruição da família... Que Mistério de piedade: Deus veio a nós, nasceu para nós! Que Mistério de iniqüidade: o mundo o rejeitou, o mundo o desprezou, o mundo o renegou, o mundo transformou o seu Natal numa festa de consumo porco e desprezível!
Mas, nós, cristãos, temos a graça de acolhê-lo, de contemplá-lo, de nele crer, de ouvir sua Palavra e comungar com imensa alegria e gratidão seu Corpo e Sangue nascido, morto e ressuscitado por nós! É verdade que o mundo não o acolheu, mas, ouvi: “A todos que o receberam, deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus isto é, aos que acreditam em seu nome, pois estes não nasceram do sangue nem da vontade da carne nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo!”São para nós estas palavras estupendas! Por que nele cremos, porque o acolhemos, nascemos nas águas do batismo, recebemos o seu Espírito Santo e fomos tornados filhos de Deus, filhos nele, o Filho unigênito e bendito!
Eis, irmãos, quão grande é, por causa dele, a nossa dignidade; quão grande nossa esperança, quão grande nossa responsabilidade! Não reneguemos com o nosso modo de viver a realidade tão grande que nos foi dada! E, como por nós mesmos, nada podemos, a não ser sermos infiéis, terminemos essa meditação com a oração da segunda Missa da Solenidade de hoje, a Missa que a Igreja celebrou na Aurora, quando o céu começava a clarear: “Ó Deus onipotente, agora que a nova luz do vosso Verbo encarnado invade o nosso coração, fazei que manifestemos em ações o que brilha pela fé em nossas mentes!” Pedimos por Aquele que, nascido eternamente do vosso seio como Deus, hoje nasceu, humano, da Virgem Maria, como o sol nasce da aurora. Ele, que é Deus convosco pelos séculos dos séculos.
  
Mais uma vez, a volta do ano trouxe-nos a santa celebração do Natal do Senhor nosso Jesus Cristo. Historicamente, o natalício do Cristo nosso Deus ocorreu há dois mil anos atrás; no entanto, na potência do Santo Espírito, o Natal acontece hoje misticamente, nos santos mistérios que celebramos com piedade e unção. Cada um de nós que participa desta celebração sagrada, conserve no coração esta certeza: nos gestos, nas palavras, nos ritos da Santa Liturgia, a graça do santo Natal do Senhor faz-se realmente presente e verdadeiramente inunda a nossa vida! Para nós, aqui reunidos, o Natal é hoje, o Natal é agora!
Assim, podemos, cheios de admiração, escutar o Evangelho que nos anuncia: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós!” Em outras palavras: o Filho eterno do Pai, Luz gerada da Luz, Deus verdadeiro gerado eternamente do Deus verdadeiro, para salvar o mundo com a sua piedosa vinda, hoje nasceu homem verdadeiro, homem entre os homens, de Maria, a Virgem! Caríssimos, quem poderia imaginar tal mistério, tal surpresa de Deus, nosso Senhor? A Liturgia oriental exclama, admirada: “Vinde, regozijemo-nos no Senhor, explicando o mistério deste Dia. A Imagem idêntica do Pai, o Vestígio de sua eternidade, toma forma de escravo, nascendo de uma mãe que não conheceu o casamento, e sem mesmo sofrer mudança! O que ele era, permaneceu: Deus verdadeiro; o que não era, ele assumiu: tendo-se feito homem por amor dos homens” (Grandes Vésperas do Natal). Eis o mistério: o Menino que nos nasceu para nós, o filho que nos foi dado, é Deus perfeito, é o Filho eterno, através de quem e para quem tudo foi criado no céu e na terra. Ele não é uma pessoa humana; é uma Pessoa divina, a segunda da Trindade. Este menininho é adorável: dever receber toda nossa adoração, toda nossa louvor, todo nosso afeto. No entanto, sendo Deus perfeito, hoje, ele saiu do seio da Sempre Virgem Maria, como verdadeiro homem, homem perfeito, com um corpo igual ao nosso, com uma alma igual à nossa, com uma vida para viver igual à nossa pobre existência! Quanto amor, quanta bondade, quanta humildade!
Neste Deus hoje nascido da Virgem, a nossa humanidade foi unida ao próprio Deus. Hoje a força do pecado começou a ser quebrada, hoje a doença da nossa natureza humana, tão propensa ao pecado, ganhou seu verdadeiro remédio, hoje, fazendo-se homem mortal, o Salvador nosso veio trazer a medicina que cura a nossa morte! Bendita seja a sua gloriosa vinda, o seu virginal nascimento! Adoremo-lo! Afirmemos com a Igreja, na sua santa Liturgia: “Foi depositado num estábulo Aquele que contém o universo. Ele descansa numa manjedoura e reina nos céus. É o Salvador dos séculos, o Rei dos Anjos, Aquele mesmo que a Virgem amamentava (liturgia romana).
Por tudo isso, nunca percamos de vista a graça que recebemos pelo dom da fé! Vivemos num mundo confuso, de mentiras, de idolatrias, de confusão. O homem pensa poder fazer sozinho a sua vida, encontrar do seu modo a felicidade, fazer de seu jeito a sua própria existência. A Solenidade de hoje nos recorda que a humanidade precisa de um Salvador – e esse Salvador é Jesus, nosso Senhor! Ele é a nossa única Verdade, ele, o nosso único Caminho, ele, a verdadeira Vida! Não queremos outros mestres, não admitiremos outros senhores, não buscaremos outras verdades. Mais que nunca, nesta quadra tão difícil da história, quando o cristianismo e a Igreja de Cristo são tão caluniados e perseguidos, tão denegridos pelos meios de comunicação... hoje, quando ser cristão tem se tornado motivo de chacota e mangação, queremos, uma vez mais, e com todas as nossas forças, proclamar nossa total e incondicional adesão ao nosso Deus e Senhor Jesus Cristo! Por isso, amados nos Senhor, o Filho de Deus fez-se homem: para que o homem possa ver e ouvir claramente o que é ser homem, o que é viver de modo verdadeiramente digno, livre, maduro e feliz! O mundo nos propõe uma liberdade torpe, fundada nos caprichos, na loucura de fazer aquilo que se quer; o mundo nos tenta convencer que cada um é a sua própria medida, é o dono de sua própria vida; o mundo atual nos ensina a viver entregue às próprias paixões, aos próprios desejos... Aí estão: famílias destruídas, filhos sem pais, um rio de abortos e infelicidade, jovens sem esperança, uma sociedade sem valores nem critérios verdadeiramente dignos do homem criado à imagem de Deus... Mas, outro é o caminho que o Salvador hoje nascido nos aponta. Aprendamos com ele, o homem perfeito; sigamo-lo sem medo, coloquemos aos seus pés a nossa vida e a nossa liberdade, os nossos desejos e os nossos afetos. Deixemos que sua santa lei de amor e graça inunde nosso coração, penetre nas nossas famílias, modele o nosso modo de viver! Então, seremos realmente humanos, seremos realmente livres, seremos realmente felizes!
Alegremo-nos pela hodierna solenidade! “Que desapareça toda enfermidade: hoje, o Salvador apareceu. Não haja guerra, cale-se a discórdia: hoje, a verdadeira paz desceu do céu. Desapareça toda amargura: hoje por todo o universo os céus destilam mel. Fuja a morte, pois hoje a vida nos é dada do céu... Hoje, os cegos recobram a vista, os surdos ouvem, os coxos e os leprosos são curados, aqueles que estavam na tristeza estão na alegria, os enfermos encontram a saúde, os mortos ressuscitam. Somente o Diabo e seus demônios – e o mundo que os serve – tremem de cólera, pois sua derrota é a restauração do gênero humano. Hoje, o Cristo nos apareceu como Salvador” (Homilia de um Anônimo do século V).
Eis, pois, quantos motivos para nossa alegria, quantos, para nosso júbilo! Que pessoalmente e em família, celebremos de modo santo e devoto a Vinda do Nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo, a quem seja dada a glória com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos dos séculos.
dom Henrique Soares da Costa
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Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo:
o Verbo se fez carne habitou entre nós e nós vimos a sua glória
Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação. O povo andava na escuridão, mas um dia viu uma grande luz. Uma luz resplandeceu sobre os que moravam nas sombras da morte. Surgiu a justiça e se acendeu a salvação. O jugo que oprimia o povo foi abatido. O Salvador chegou. A nossa cidade não estará mais abandonada. Como são belos os pés de quem anuncia a paz e o bem, e prega a salvação. Foi assim que Deus falou outrora pelos profetas. Agora ele nos fala por seu próprio Filho. Nasceu-nos hoje um Menino, um Filho nos foi dado. É o Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz. É a graça de Deus que se manifesta e traz a salvação para todos.
No meio de tantas notícias ruins, uma Boa Notícia nos é dada, causa de grande alegria: Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor por todos nós, pois hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Cristo Senhor. Este é o seu sinal: um recém-nascido, envolvido em faixas, deitado numa manjedoura.
Ele aparece na forma de um recém-nascido, pequeno e frágil. Não havia para ele um lugar nas pousadas e os seus não o receberam. É este o que vem realizar as esperanças de Israel, chamar as nações a participar da mesma herança, tirar o peso das costas do povo, queimar as botas das tropas de assalto? Sim, é ele, aquele que se entrega por nós desde a sua concepção e seu nascimento para nos resgatar de toda maldade e fazer para si um povo que lhe pertença e que se dedique a praticar o bem.
Ele é manso, humilde, discreto, silencioso. Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite ia a meio do seu curso, foi então, que a Palavra onipotente desceu do céu e do trono real, e veio habitar entre nós. Somente olhos contemplativos podem ver o Menino. Somente ouvidos de fé ouvem Palavra que desce no meio do silêncio.
É Natal. Alguns vão à igreja para celebrar o nascimento do Menino Jesus. Outros não irão. Alguns até trabalharão ativamente para que ele seja esquecido e não seja mencionado. Outros viverão a alegria de um encontro, sem saber o que estão festejando. Há, porém, homens e mulheres de fé que o receberam e o guardam em seu coração, e se tornaram fermento na massa, sal da terra e luz do mundo.
cônego Celso Pedro da Silva
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Deus entre nós
A encarnação é o supremo ato de amor de Deus, que assume a condição humana, transformando-a pelo dom do amor pleno. Em Jesus não é assumida apenas a sua corporeidade individual, mas a condição corpórea de toda a humanidade, integrada em todos os valores de dignidade, justiça e verdade, que, no amor, são revestidos de eternidade. "Deus é amor, e aquele que permanece no amor, permanece em Deus, e Deus, nele" (1 Jo. 4,16). A encarnação real, amorosa e eterna, vivificante e eterna, de Deus entre os homens e mulheres, pequenos e humildes. O prólogo do evangelho de João apresenta a origem divina de Jesus como a Palavra eterna que procede de Deus, faz-se carne, morando entre nós, e, por graça, torça-nos filhos de Deus filhos de Deus e eternos.
José Raimundo Oliva
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A liturgia deste dia convida-nos a contemplar o amor de Deus, manifestado na encarnação de Jesus… Ele é a “Palavra” que Se fez pessoa e veio habitar no meio de nós, a fim de nos oferecer a vida em plenitude e nos elevar à dignidade de “filhos de Deus”.
A primeira leitura anuncia a chegada do Deus libertador. Ele é o rei que traz a paz e a salvação, proporcionando ao seu Povo uma era de felicidade sem fim. O profeta convida, pois, a substituir a tristeza pela alegria, o desalento pela esperança.
A segunda leitura apresenta, em traços largos, o plano salvador de Deus. Insiste, sobretudo, que esse projeto alcança o seu ponto mais alto com o envio de Jesus, a “Palavra” de Deus que os homens devem escutar e acolher.
O Evangelho desenvolve o tema esboçado na segunda leitura e apresenta a “Palavra” viva de Deus, tornada pessoa em Jesus. Sugere que a missão do Filho/”Palavra” é completar a criação primeira, eliminando tudo aquilo que se opõe à vida e criando condições para que nasça o Homem Novo, o homem da vida em plenitude, o homem que vive uma relação filial com Deus.
1ª leitura – Is. 52,7-10 - AMBIENTE
Entre 586 e 539 a.C., o povo de Deus experimenta a dura prova do Exílio na Babilônia. À frustração pela derrota e pela humilhação nacional, juntam-se as saudades de Jerusalém e o desespero por saber a cidade de Deus – orgulho de todo o israelita – reduzida a cinzas. Ao povo exilado, parece que Deus os abandonou definitivamente e que desistiu de Judá (alguns perguntam mesmo se Jahwéh será o Deus libertador – como anunciava a teologia de Israel – ou será um “bluff”, incapaz de proteger o seu Povo e de salvar Judá). Rodeado de inimigos, perdido numa terra estranha, ameaçado na sua identidade, sem perspectivas de futuro, com a fé abalada, Judá está desolado e abandonado e não vê saída para a sua triste situação. Quando, já na fase final do Exílio, as vitórias de Ciro, rei dos Persas, anunciam o fim da Babilônia, os exilados começam a ver uma pequenina luz ao fundo do túnel; mas, então, a libertação aparece-lhes como o resultado da ação de um rei estrangeiro e não como resultado da ação libertadora de Jahwéh… Ora, isso agrava mais ainda a crise de confiança em Jahwéh por parte dos exilados.
É neste contexto que aparece o testemunho profético do Deutero-Isaías. A sua mensagem (cf. Is. 40-55) é uma mensagem de consolação e de esperança (os capítulos que recolhem a palavra do Deutero-Isaías são, precisamente, conhecidos como “Livro da Consolação”); diz que a libertação está próxima e é obra de Jahwéh.
O nosso texto está integrado na segunda parte do “livro da Consolação” (cf. Is 40-55).
Aí, o profeta (que na primeira parte – Is. 40-48 – havia, sobretudo, anunciado a libertação do cativeiro e um “novo êxodo” do Povo de Deus, rumo à Terra Prometida) fala da reconstrução e da restauração de Jerusalém. O profeta garante que Deus não Se esqueceu da sua cidade em ruínas e vai voltar a fazer dela uma cidade bela e cheia de vida, como uma noiva em dia de casamento. É neste ambiente que podemos situar a primeira leitura de hoje.
MENSAGEM
Para revitalizar a esperança dos exilados, o profeta põe-nos a contemplar um quadro, fictício mas sugestivo quanto ao significado: à Jerusalém desolada e em ruínas, chega um mensageiro com uma “boa notícia”. Qual é essa “boa notícia” que o mensageiro traz? Ele anuncia “a paz” (“shalom”: paz, bem-estar, harmonia, felicidade), proclama a “salvação” e promete o “reinado de Deus”. A questão é, portanto, esta: Deus assume-se como “rei” de Judá… Ele não reinará à maneira desses reis que conduziram o Povo por caminhos de egoísmo e de morte, de desgraça em desgraça até à catástrofe final do Exílio; mas Jahwéh exercerá a realeza de forma a proporcionar a “salvação” ao seu Povo – isto é, inaugurando uma era de paz, de bem-estar, de felicidade sem fim.
Num desenvolvimento muito bonito, o profeta/poeta põe as sentinelas da cidade (alertadas pelo anúncio do “mensageiro”) a olhar na direção em que deve chegar o Senhor. De repente, soa o grito das sentinelas… Não é, no entanto, um grito de alarme, mas de alegria contagiante: elas vêem o próprio Jahwéh regressar ao encontro da sua cidade. Com Deus, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, cheia de alegria e de festa. O profeta/poeta convida as próprias pedras da cidade em ruínas a cantar em coro, porque a libertação chegou. E a salvação que Deus oferece à sua cidade e ao seu Povo será testemunhada por toda a terra, como se o mundo estivesse de olhos postos na ação vitoriosa de Deus em favor de Judá.
ATUALIZAÇÃO
A alegria pela libertação do cativeiro da Babilônia e pela “salvação” que Deus oferece ao seu Povo anuncia essa outra libertação, plena e total, que Deus vai oferecer ao seu Povo através de Jesus. É isso que celebramos hoje: o nascimento de Jesus significa que a opressão terminou, que chegou a paz definitiva, que o “reinado de Deus” alcançou a nossa história. Para que essa “boa notícia” se cumpra é, no entanto, preciso acolher Jesus e aderir ao “Reino” que Ele veio propor.
A alegria contagiante das sentinelas e os brados de contentamento das próprias pedras da cidade convidam-nos a acolher com alegria e em festa o Deus que veio libertar-nos… Se temos consciência da opressão que, dia a dia, nos rouba a vida e nos impede de ser livres e felizes, certamente sentiremos um grande contentamento ao deparar com essa proposta de liberdade que Jesus veio trazer. É essa alegria que nos anima, neste dia em que celebramos a chegada libertadora de Jesus?
As sentinelas atentas que, nas montanhas em redor de Jerusalém, identificam a chegada do Deus libertador são um modelo para nós: convidam-nos a ler, atentamente, os sinais da presença libertadora de Deus no mundo e a anunciar a todos os homens que Deus aí está, para reinar sobre nós e para nos dar a salvação e a paz. Somos sentinelas atentas que descobrem os sinais do Senhor nos caminhos da história e anunciam o seu “reinado”, ou somos sentinelas negligentes
que não vigiam nem alertam e que fazem com que o Deus libertador seja acolhido com indiferença pelo povo da “cidade”?
2ª leitura – Hb. 1,1-6 - AMBIENTE
A carta aos Hebreus é um escrito de autor anônimo e cujos destinatários, em concreto, desconhecemos (o título “aos hebreus” provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e ao ritual dos “sacrifícios” que a obra apresenta). É possível que se dirija a uma comunidade cristã constituída majoritariamente por cristãos vindos do judaísmo; mas nem isso é totalmente seguro, uma vez que o Antigo Testamento era um patrimônio comum, assumido por todos os cristãos – quer os vindos do judaísmo, quer os vindos do paganismo. Trata-se, em qualquer caso, de cristãos em situação difícil, expostos a perseguições e que vivem num ambiente hostil à fé… São, também, cristãos que facilmente se deixam vencer pelo desalento, que perderam o fervor inicial e que cedem às seduções de doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos… O objetivo do autor é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Para isso, expõe o mistério de Cristo (apresentado, sobretudo, como “o sacerdote” da Nova Aliança) e recorda a fé tradicional da Igreja.
O texto que nos é hoje proposto pertence ao prólogo do sermão. Nesse prólogo, o pregador apresenta a visão global e as coordenadas fundamentais que ele vai, depois, desenvolver ao longo da obra.
MENSAGEM
Temos aqui esboçadas, em traços largos, as coordenadas fundamentais da história da salvação. Deus é o protagonista dessa história…
O texto alude ao projeto salvador de Deus. Esse projeto manifestou-se, numa primeira fase, através dos porta-vozes de Deus – os profetas; eles transmitiram aos homens a proposta salvadora e libertadora de Deus.
Veio, depois, uma segunda etapa da história da salvação: “nestes dias que são os últimos”, Deus manifestou-se através do próprio “Filho” – Jesus Cristo, o “menino de Belém”, a Palavra plena, definitiva, perfeita, através da qual Deus vem ao nosso encontro para nos “dizer” o caminho da salvação e da vida nova. O nosso texto reflete então – sem contudo desenvolver uma lógica muito ordenada – sobre a relação de Jesus com o Pai, com os homens e com os anjos (o que nos situa no ambiente de uma comunidade que dava importância excessiva ao culto dos “anjos” e que lhes concedia um papel preponderante na salvação do homem).
Como é que se define a relação de Jesus com o Pai? Para o autor da carta aos Hebreus, Jesus, o “Filho”, identifica-Se plenamente com o Pai. Ele é o esplendor da glória do Pai, a imagem do ser do Pai, a reprodução exata e perfeita da substância do Pai: desta forma, o autor da carta afirma que Jesus procede do Pai e é igual ao Pai.
N’Ele manifesta-se o Pai; quem olha para Ele, encontra o Pai.
Definida a relação de Jesus com Deus, o autor reflete sobre a relação de Jesus com o mundo… O Filho está na origem do universo (e, portanto, também do homem); por isso, Ele tem um senhorio pleno sobre toda a criação. Essa soberania expressa-se, inclusive, na encarnação e redenção: Ele veio ao encontro do homem e purificou-o do pecado: dessa forma, Ele completou a obra começada pela Palavra criadora, no início.
É como “o Senhor” – que possui soberania sobre os homens e sobre o mundo, que cria e que salva – que os homens o devem ver e acolher.
A igualdade fundamental do “Filho” com o Pai fá-lo muito superior aos anjos: os anjos não são “filhos”; mas Jesus é “o Filho” e o próprio Deus proclamou essa relação de filiação plena, real, perfeita. Não são os anjos que salvam, mas sim “o Filho”.
Sendo a Palavra última e definitiva de Deus, Ele deve ser escutado pelos homens como o caminho mais seguro para chegar a essa vida nova que o Pai nos quer propor.
É tendo consciência desse fato que devemos acolher o “menino de Belém”.
ATUALIZAÇÃO
Celebrar o nascimento de Jesus é, em primeiro lugar, contemplar o amor de um Deus que nunca abandonou os homens à sua sorte; por isso, rompeu as distâncias, encontrou forma de dialogar com o homem e enviou o próprio Filho para conduzir o homem ao encontro da vida definitiva, da salvação plena. No dia de Natal, nunca será demais insistir nisto: o Deus em quem acreditamos é o Deus do amor e da relação, que continua a nascer no mundo, a apostar nos homens, a querer dialogar com eles, e que não desiste de propor aos homens – apesar da indiferença com que as suas propostas são, às vezes, acolhidas – um caminho para chegar à felicidade plena.
Jesus Cristo é a Palavra viva e definitiva de Deus, que revela aos homens o verdadeiro caminho para chegar à salvação. Celebrar o seu nascimento é acolher essa Palavra viva de Deus… “Escutar” essa Palavra é acolher o projeto que Jesus veio apresentar e fazer dele a nossa referência, o critério fundamental que orienta as nossas atitudes e as nossas opções. A Palavra viva de Deus (Jesus) é, de fato, a nossa referência? O que Ele diz orienta e condiciona as minhas atitudes, os meus valores, as minhas tomadas de posição? Os valores do Evangelho são os meus valores? Vejo no Evangelho de Jesus a Palavra viva de Deus, a Palavra plena e definitiva através da qual Deus me diz como chegar à salvação, à vida definitiva?
Evangelho – Jo 1,1-18 - AMBIENTE
A Igreja primitiva recorreu, com frequência, a hinos para celebrar, expressar e anunciar a sua fé. O prólogo ao Evangelho segundo João (que hoje nos é proposto) é um desses hinos.
Não é certo se este hino foi composto por João, ou se o autor do quarto Evangelho usou um primitivo hino cristão conhecido da comunidade joânica, adaptando-o de forma a que ele servisse de prólogo à sua obra. O que é certo é que o hino cristológico que chegou até nós expressa, em forma de confissão, a fé da comunidade joânica em Cristo enquanto Palavra viva de Deus, a sua origem eterna, a sua procedência divina, a sua influência no mundo e na história, possibilitando aos homens que O acolhem e escutam tornar-se “filhos de Deus”. Essas grandes linhas, enunciadas neste prólogo, vão depois ser desenvolvidas pelo evangelista ao longo da sua obra.
MENSAGEM
O prólogo ao quarto Evangelho começa com a expressão “no princípio”: dessa forma, João enlaça o seu Evangelho com o relato da criação (cf. Gn. 1,1), oferecendo-nos assim, desde logo, uma chave de interpretação para o seu escrito… Aquilo que ele vai narrar sobre Jesus está em relação com a obra criadora de Deus: em Jesus vai acontecer a definitiva intervenção criadora de Deus no sentido de dar vida ao homem e ao mundo… A atividade de Jesus, enviado do Pai, consiste em fazer nascer um homem novo; a sua ação coroa a obra criadora iniciada por Deus “no princípio”.
João apresenta, logo a seguir, a “Palavra” (“Lógos”). A “Palavra” é – de acordo com o autor do quarto Evangelho – uma realidade anterior ao céu e à terra, implicada já na primeira criação. Esta “Palavra” apresenta-se com as características que o “livro dos Provérbios” atribuía à “sabedoria”: pré-existência (cf. Prov. 8,22-24) e colaboração com Deus na obra da criação (cf. Prov. 8,24-30). No entanto, essa “Palavra” não só estava junto de Deus e colaborava com Deus, mas “era Deus”. Identifica-se totalmente com Deus, com o ser de Deus, com a obra criadora de Deus. É como que o projeto íntimo de Deus, que se expressa e se comunica como “Palavra”. Deus faz-Se inteligível através da “Palavra”. Essa “Palavra” é geradora de vida para o homem e para o mundo, concretizando o projeto de Deus.
Essa “Palavra” veio ao encontro dos homens e fez-se “carne” (pessoa). João identifica claramente a “Palavra” com Jesus, o “Filho único cheio de amor e de verdade”, que veio ao encontro do homem. Nessa pessoa (Jesus), podemos contemplar o projeto ideal de homem, o homem que nos é proposto como modelo, a meta final da criação de Deus.
Essa “Palavra” “montou a sua tenda no meio de nós”. O verbo “skênéô” (“montar a tenda”) aqui utilizado alude à “tenda do encontro” que, na caminhada pelo deserto, os israelitas montavam no meio ou ao lado do acampamento e que era o local onde Deus residia no meio do seu Povo (cf. Ex. 27,21; 28,43; 29,4…). Agora, a “tenda de Deus”, o local onde Ele habita no meio dos homens, é o Homem/Jesus. Quem quiser encontrar Deus e receber d’Ele vida em plenitude (“salvação”), é para Jesus que se tem de voltar.
A função dessa “Palavra” está ligada ao binômio “vida/luz”: comunicar ao homem a vida em plenitude; ou, por outras palavras, trata-se de acender a luz que ilumina o caminho do homem, possibilitando-lhe encontrar a vida verdadeira, a vida plena.
Jesus Cristo vai, no entanto, deparar-se com a oposição à “vida/luz” que Ele traz. Ao longo do Evangelho, João irá contando essa história do confronto da “vida/luz” com o sistema injusto e opressor que pretende manter os homens prisioneiros do egoísmo e do pecado (e que João identifica com a Lei. Os dirigentes judeus que enfrentam Jesus e o condenam à morte são o rosto visível dessa Lei). Recusar a “vida/luz” significa preferir continuar a caminhar nas trevas (que se identificam com a mentira, a escravidão, a opressão), independentemente de Deus; significa recusar chegar a ser homem pleno, livre, criação acabada e elevada à sua máxima potencialidade.
Mas o acolhimento da “Palavra” implica a participação na vida de Deus. João diz mesmo que acolher a “Palavra” significa tornar-se “filho de Deus”. Começa, para quem acolhe a “Palavra”/Jesus, uma nova relação entre o homem e Deus, aqui expressa em termos de filiação: Deus dá vida em plenitude ao homem, oferecendo-lhe, assim, uma qualidade de vida que potencia o seu ser e lhe permite crescer até à dimensão do homem novo, do homem acabado e perfeito. Isto é uma “nova criação”, um novo nascimento, que não provém da carne e do sangue, mas sim de Deus.
A encarnação de Jesus significa, portanto, que Deus oferece à humanidade a vida em plenitude. Sempre existiu no homem o anseio da vida plena, conforme o projeto original de Deus; mas, na prática, esse anseio fica, muitas vezes, frustrado pelo domínio que o egoísmo, a injustiça, a mentira (o pecado) exercem sobre o homem.
Toda a obra de Jesus consistirá em capacitar o homem para a vida nova, para a vida plena, a fim de que Ele possa realizar em si mesmo o projeto de Deus: a semelhança com o Pai.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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“Um menino nasceu para nós: um Filho nos foi dado! O poder repousa nos seus ombros. Ele será chamado “mensageiro do conselho de Deus” (cf. Is. 9,6).
Com santo Agostinho sintetizamos a festa que hoje, com júbilo e contentamento, celebramos: “Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus”. Ser deus é um sonho permanente da criatura humana, desde o paraíso terrestre. Todos nascemos com permanente saudade do céu. Hoje o sonho se torna realidade. Neste dia santo se satisfaz a saudade. Neste dia não somente Deus “desceu” à terra, mas também o homem “subiu” aos céus. Divindade e humanidade se encontram num abraço verdadeiro, feliz, eterno.
Natal é a festa que une a humanidade e a divindade. É a grande festa da manifestação da divindade. É a festa da união, para sempre da humanidade com Deus. Natal uma verdade que nos alegra e nos dá a certeza da vida eterna.
Os anjos na noite santa cantaram: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados”. A terra tornou-se céu, os homens, maravilhados, se põem a caminho, como os pastores, para ver o céu ao alcance de sua mão, na pobreza linda de uma manjedoura.
A primeira leitura (cf. Is. 52,7-10) desta solenidade nos apresenta a alegria da Boa Nova, salvação universal. Os reis de Israel não trouxeram a salvação para o seu povo, mas o abandonaram. Deus, ao contrário, não o abandona. Ele o reconduz e reconstrói a cidade destruída. Ressoa agora a boa-nova: “Deus é rei”, e não só de Israel e de Judá, mas de todos os povos. Ele os outorgará liberdade e paz, se eles quiserem reconhecer e aceitar a sua oferta.
O salmo responsorial nos leva a cantar a bondade e a fidelidade de Deus para com o seu povo.
A segunda leitura (cf. Hb. 1,1-6) nos apresenta as palavras provisórias e a Palavra definitiva de Deus. Em Cristo, plenificaram-se todas as manifestações de Deus. Ele venceu a morte e o pecado: a glória de Deus se manifestou nEle. A fé na sua obra redentora e glorificação junto ao Pai é a base da esperança de nossa própria arrematação.
No Evangelho da Vigília de Natal lemos que “José subiu da Galiléia para a Judéia”(cf. Lc. 2,4). A Palestina estava dividida naquele tempo em três províncias políticas: Judéia(onde se situava Jerusalém, Belém e Jericó); Galiléia (onde ficava Nazaré, Cafarnaum, Caná e o Lago de Genesaré) e a Samaria, entre a Galiléia e a Judéia(com a cidade de Samaria e o famoso Poço de Jacó, em Sicar). De Nazaré a Jerusalém são, mais ou menos, 170 km. Primeiro, se desce até Jericó, atravessando a Samaria e acompanhando o vale do Rio Jordão. Depois, se sobe a quase mil metros, para alcançar Jerusalém. De Jerusalém a Belém são uns 15 km. Maria teria feito a viagem no lombo de um burrinho.
Como sabemos “não havia lugar na hospedaria” (cf. Lc. 2,7): não devemos pensar a hospedaria de Belém como um hotel hoje. A hospedaria era um terreiro cercado de muros de pedra, ao relento. Num dos cantos, pernoitavam os camelos e os burros; noutro, os homens; noutro as mulheres, noutro eram depositadas as mercadorias. Compreende-se que José não tenha querido expor Maria a um parto público. E saiu à procura de uma das muitas grutas existentes na região. E foi assim, na maior das simplicidades, numa gruta sem dono, no meio da noite, abrigado pela dureza da pedra, aquecido pelo carinho de José, envolto na ternura de uma jovem mãe, que nasceu Jesus, o Filho de Deus entre os homens.
Quando Jesus nasceu Otaviano era o Imperador. Jesus nasceu em Belém da Judéia, longe de Nazaré, onde fora concebido e onde era a casa de Maria e José, e nasceu dentro da história dos homens, dentro de um ambiente, dentro de uma família hebréia pobre que devia obedecer, à risca, as leis civis e os decretos das autoridades. Toda a história de Jesus acontece dentro da história da humanidade. Jesus não é um mito, é uma realidade histórica. É Deus em carne e osso humanos. Se a nossos olhos, a grandeza de Deus se apequena, a pequenez do homem se agiganta, tornando-se “participante da natureza divina” (cf. 2Pd. 1,4).
A missa do dia de Natal ressalta a eterna grandeza de Jesus. Poderemos cantar a glória, o Senhorio de Cristo. A Palavra de Deus se tornou existência humana (cf. Jo 1,1-18 ou 1,1-5,9-14). Jesus é tudo o que é manifestação, “palavra” de Deus para nós, desde a palavra da criação, e mesmo antes! Ora, esta manifestação de Deus, sua Palavra é “carne”, existência humana mortal, morando no nosso meio – mas, nesta moradia carnal, nesta existência humana vivida até a morte, se nos revela a glória de Deus, como no seu Templo. E para nós, isto significa decisão: adesão ou rejeição.
Natal é festa dos homens e das mulheres. Festa da alegria porque Deus nasceu para nos salvar. Jesus nos fez, por seus méritos, partícipes da vida eterna. Hoje é um dia muito especial, com festas, com confraternizações, com ternura, com amizade, com perdão, com misericórdia, com acolhida do diferente, com abraço fraterno. Mas não vamos fazer do Natal uma festa profana, pura e simplesmente, só de troca de presentes. Vamos deixar Jesus nascer na nossa vida, com uma conversão sincera, e uma adesão a este Menino que mudou os rumos da humanidade, nos trazendo a paz e a salvação eterna, porque “Nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado (cf. Lc. 2,11)”.
Todos nós devemos nos deixar possuir por Deus, como a sala é possuída de ar e pela luz. Não nos fechemos a Jesus. Contemplando a simplicidade da manjedoura, todos somos chamados a sermos pobres e santos fazendo com que Jesus more em nossas vidas porque o Senhor esteja convosco: ele está no meio de nós!
Jesus veio ao nosso encontro, morar conosco: “Ele armou sua tenda entre nós”(cf. Jo 1,14)
Natal é festa da comunidade, é festa da família: a união da família divina a família humana. Assim,vivamos com intensidade este dia santo na busca do rosto de Deus: um rosto de amor em nosso favor.
padre Wagner Augusto Portugal

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