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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Jesus curou um surdo-Dehonianos


14 Fevereiro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
V Semana - Sexta-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Reis 11, 29-32; 12, 19
Naqueles dias, 29quando Jeroboão saía de Jerusalém, o profeta Aías de Silo encontrou-o no caminho. Aías estava coberto com um manto novo, e estavam só os dois no campo. 30Então, Aías tomou o manto novo com que se cobria e rasgou-o em doze pedaços. 31E disse a Jeroboão: «Toma dez pedaços para ti, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: 'Eis que Eu vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar-te-ei as dez tribos. 32Ficar-lhe-á, porém, uma tribo por causa do meu servo David e da cidade de Jerusalém, que Eu escolhi de entre todas as tribos de Israel. 19Israel esteve em revolta contra a casa de David até ao dia de hoje.
O autor sagrado apresenta a divisão do reino como um castigo pela apostasia idolátrica de Salomão. No capítulo seguinte, Jeroboão, um dos funcionários de Salomão, pede a Reboão que reduza os impostos. Reboão recusa o pedido de um modo surpreendente: «já que meu pai vos carregou com um jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pesado; meu pai castigou-vos com açoites; pois eu vos castigarei com azorragues!» (1 Rs 12, 11). E assim ficou aberta a porta ao cisma político. O profeta Aías anuncia simbolicamente esse facto ao rasgar o manto em doze pedaços. O seu gesto profético é uma advertência e uma denúncia motivada pelas injustiças sociais que Jeroboão herdou de seu pai. O profeta, e a sua acção, são sinal da presença de Deus e anúncio da sua intervenção na história do povo. Trata-se de uma intervenção salvífica, porque Deus não se diverte a rasgar «mantos novos», mas é Aquele que faz novas todas as coisas. Este texto mantém ainda hoje a sua actualidade por causa da nostalgia ecuménica que nele percebemos. A divisão do reino davídico tem paralelismo na divisão da Igreja cristã.
Evangelho: Marcos 7, 31-37
Naquele tempo, 31Jesus deixou de novo a região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. 32Trouxeram-lhe um surdo tartamudo e rogaram-lhe que impusesse as mãos sobre ele. 33Afastando-se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. 34Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou dizendo: «Effathá», que quer dizer «abre-te.» 35Logo os ouvidos se lhe abriram, soltou-se a prisão da língua e falava correctamente. 36Jesus mandou-lhes que a ninguém revelassem o sucedido; mas quanto mais lho recomendava, mais eles o apregoavam. 37No auge do assombro, diziam: «Faz tudo bem feito: faz ouvir os surdos e falar os mudos.»
Desta vez, Jesus cura um surdo tartamudo, cuja capacidade intelectual estava condicionada pela sua deficiência. Por isso, ao tocar-lhe os órgãos doentes com saliva, Jesus não quer fazer magia à maneira dos taumaturgos da época, mas apenas dirigir-se à consciência daquele que ia ser objecto do prodígio. Noutros casos bastavam as palavras. Aqui, tratando-se de um surdo tartamudo, são precisos gestos. E Jesus fá-los.
É o segundo milagre que Jesus faz em território pagão e este texto, exclusivo de Marcos, pretende continuar a descrição da actividade missionária da primeira comunidade cristã e assinalar a abertura dos pagãos à fé em Jesus Cristo.
O assombro dos que presenciam os milagres de Jesus lembra-nos Gn 1: «E Deus viu que tudo era bom», mas também Isaías: «O mudo gritará de alegria» (Is 35, 6). Em Jesus realizam-se as promessas de salvação. Não se trata, pois, de triunfalismo político-messiânico, mas de um reconhecimento gozoso da eficácia desalienante da presença do reino de Deus.
Meditatio
Onde chega Jesus, chega a salvação, que cria novas relações, finalmente libertadas, entre os homens e Deus, e entre os próprios homens. Jesus, em terra de pagãos, faz ouvir os surdos e falar os mudos. São milagres físicos que simbolizam milagres espirituais iniciados no baptismo, e que podem ser motivo de reflexão e de oração para nós. Sendo participantes da humanidade sofredora, não é difícil dar-nos conta de que as feridas mais graves das pessoas, hoje, dizem respeito sobretudo às relações. Daí o isolamento, o clima de suspeição e de medo em que tantas vivem.
Jesus toca nos sentidos do surdo-mudo para lhe tocar no coração. Abrir o coração - effathá! - é a condição para re-ligar os pontos com a Vida. O homem precisa de se abrir a Deus, à sua Palavra, ao encontro com Ele, para se poder abrir ao encontro com os outros, ao diálogo, às relações com todos.
A Igreja tem a missão de continuar, em certo sentido, este milagre de Jesus, fazendo ouvir a todos os povos que são amados por Deus e que, por isso, podem falar. Fazer «ouvir» e fazer «falar» é a missão da Igreja, para que todos os povos possam louvar a Deus. Mas também cada um de nós precisa de ouvidos abertos e língua solta para escutar o Senhor, que nos fala, e proclamar os seus louvores. Ouvir e falar são meios para viver a aliança: escutar a Deus para saber escutar os irmãos, e falar como Deus quer.
Como dehonianos, queremos estar ao serviço das novas relações que Deus quer estabelecer com os homens e entre os homens: «Sensíveis a tudo aquilo que, no mundo de hoje, constitui obstáculo ao amor do Senhor, queremos testemunhar que o esforço humano, para chegar à plenitude do Reino, tem de se purificar e transfigurar constantemente pela Cruz e Ressurreição de Cristo» (Cst 29). «Verificamos que o mundo de hoje se agita num imenso esforço de libertação: libertação de tudo quanto lesa a dignidade do homem e ameaça a realização das suas mais profundas aspirações: a verdade, a justiça, o amor, a liberdade» (Cst 36). Estas novas relações passam pela escuta da Palavra e pela visão das maravilhas realizadas por Deus em Jesus Cristo. É nossa missão proclamar a Palavra e ajudar a todos a se tornarem sensíveis à contemplação do que Deus fez e continuar a fazer nós. No sinal da comunidade religiosa, manifesta-se eficazmente a Igreja-comunidade-comunhão, como realidade social, mas também como mistério divino, como sacramento de novas relações com Deus e com os irmãos. A comunidade religiosa, na Igreja, torna-se sinal de «que a fraternidade por que os homens anseiam é possível em Jesus Cristo» (Cst 65), Aquele que faz ouvir os surdos e falar os mudos.
Oratio
Senhor Jesus, que fizeste ouvir os surdos e falar os mudos, dá-nos a graça de escutar o Pai e de saber falar com os irmãos e irmãs, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. Quantas vezes nos vemos dominados por reacções espontâneas, que dificultam falar como cristãos, e nos levam a falar como pagãos. Nã
o é suficiente ter língua e ouvidos para comunicar como Tu queres que comuniquemos, para entrar em comunhão com os outros. Repete sobre nós a tua palavra: «Effathá!», para que o nosso coração se abra à generosidade para contigo e para com os irmãos e irmãs. Ajuda-nos a permanecer abertos à tua voz e a responder-te generosamente. Amen.
Contemplatio
«Vistes os meus milagres, diz Nosso Senhor, fareis os mesmos, se crerdes em mim. Em verdade vos digo, as obras que faço, aquele que acredita em mim as fará também e até ainda maiores. Curareis doentes, ressuscitareis os mortos, falareis as línguas e convertereis ao Evangelho o universo inteiro. A vossa fé será todo-poderosa».
Tais são as promessas de Nosso Senhor. E eu, creio ter a fé, creio conhecer Nosso Senhor, trabalho pela sua glória, porque é que então as minhas obras são estéreis? É que a minha fé não é bastante viva.
Nosso Senhor pode dizer-me: «Não acreditais em mim com a fé ardente dos santos. Não acreditais na santidade da minha vida, na perfeição dos meus sentimentos e dos meus actos, porque vos aplicais tão pouco a imitar-me; não acreditais com uma fé viva na Eucaristia, porque sois tão frios na minha presença; não acreditais no meu Coração, na sua bondade, na sua generosidade, na sua misericórdia, porque o invocais tão friamente. Daí vem a esterilidade da vossa vida e a inutilidade das vossas obras».
Isto é verdade, Senhor, bem pouco vos conheço até ao presente. A minha fé em vós é quase irrisória. Falo-vos com distracção e negligência. E, por conseguinte, a minha confiança é hesitante e o meu amor tíbio. Mudai o meu coração, dai-me uma fé viva e ardente. (Leão Dehon, OSP3, p. 448s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Faz ouvir os surdos e falar os mudos» (Mc 7, 37).
| Fernando Fonseca, scj |

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