SEGUNDA
FEIRA TEMPO PASCAL 18/04/2016
1ª Leitura Atos dos Apóstolos 11, 1-18
Salmo 41(42), 3 a “ Minha
alma tem sede de Deus, do Deus vi
Evangelho João 10, 1-10
“UM
ESTRANHO NO REDIL"
Eu achava estranho esse
evangelho do Bom Pastor no tempo pascal, parece que se interrompem bruscamente
as narrativas das famosas aparições de Jesus Ressuscitado ao discípulos , tão
cheias de mistério e encanto, para falar de um assunto que não tem nada a ver,
mencionando palavras repetitivas como redil, porta, pastor, ovelhas....E alguns
adjetivos como, estranho, ladrão, assaltante, que nos faz imediatamente pensar
nos outros, naqueles que são de fora do rebanho, nos que hostilizam a Igreja e
o Reino de Deus, são esses que devemos ter cuidado, mas não ! Jesus fala com os
de “dentro”, ou seja, com a comunidade, e aqui precisamos tomar muito cuidado,
para não nos julgarmos como membros exclusivos de um Rebanho de qualidade
superior a todos os demais, os “queridinhos e prediletos” de Deus.
E uma boa chave de leitura
aparece logo no início do evangelho: Jesus é a Porta!Para entrar no Redil, para
fazer parte da comunidade da Igreja, só há uma porta: Jesus Cristo, é ele que
no dia do nosso Batismo nos introduz na comunidade. Não posso ser Cristão por razões
ideológicas, ou para sentir-me bem com a minha consciência, vivendo em paz, sem
preocupações nesta vida. Não posso tão pouco participar da comunidade e das
celebrações apenas por preceito, pois existe aí o perigo dos nossos interesses
falarem mais alto, conheci dois casos diferentes, em um deles, porque mudaram
as músicas que vinham sendo cantadas, um instrumentista enfiou o violão no saco
e saiu pisando duro, dizendo que nunca mais botaria os pés na igreja, e conheci
um acordeonista, que ao contrário, começando a tocar em celebrações sertanejas,
tornou-se um membro ativo da comunidade e tomou gosto pela vida em comunhão, ai
está a grande diferença entre, ser frequentador da comunidade, e ser um
Seguidor de Jesus de Nazaré. Quem se tornou cristão por causa de Jesus, após
ter feito com ele uma experiência profunda de Vida em comunhão, passou pela
Porta, mas aqueles que são meros frequentadores, e não fizeram ainda essa
experiência querigmática com o Senhor, são os que pularam a janela, entraram as
escondidas pelos fundos, e quando chega a crise, esses mercenários são os
primeiros a darem no pé, porque sentem que vão perder algo.
Mudam de igreja, de
comunidade, de paróquia, de grupo, e nunca se encontram, há os que mudam até de
família, passam a vida procurando a perfeição do cristianismo, e não
encontrando acabam caindo no desânimo e frustração descobrindo mais tarde, que
quem tinha de mudar eram eles, e não as pessoas.
Quando nossos interesses
falam mais alto que as coisas do Reino de Deus, nos tornamos estranhos no
ninho, ladrões e assaltantes, porque roubamos o espaço e o tempo da assembleia,
das pastorais e movimentos, só para vender nossa imagem fazendo o nosso
marketing pessoal. Tornamo-nos estranhos ao rebanho porque a nossa conduta e
procedimento, e o jeito de pensar, não reflete de forma alguma o santo
evangelho, a vida de comunhão ou a koinonia como diz o termo grego.
Ao contrário, quem passa pela
Porta que é Jesus Cristo, torna-se também um pastor, aquele que cuida, mostra o
caminho, socorre os fracos e feridos, que na comunidade são tantos, e se for
preciso, carregam no colo as ovelhinhas que não podem caminhar, exatamente como
faz esse Bom Pastor que é Jesus Cristo. As ovelhas o seguem, porque ouvem e
conhecem sua voz, ou seja, a relação com ele é marcada por uma grande
intimidade, de quem conhece a voz, isso é, a Palavra de Deus, e que por isso se
torna um discípulo.
Claro que o evangelho desse
4º Domingo da Páscoa, fala forte no coração dos jovens despertando uma possível
vocação, projetando esse pastoreio na Vocação Sacerdotal, mas é preciso essa
compreensão mais ampla de que somos todos ovelhas e pastores, somos cuidados
mas também somos cuidadores, em um amor co responsável, que vai ao encontro do
outro porque o aceita como irmão no Senhor Jesus.
E há na segunda leitura dessa
liturgia, uma afirmação do apóstolo Pedro, que reforça essa comunhão de vida:
Carregou os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que , mortos aos
nossos pecados vivamos para a Justiça.
Ser comunidade é carregar o
outro em nossa vida, com todos os seus pecados e defeitos, fazer isso por puro
amor, amor que aceita, que compreende que perdoa sempre e é misericordioso,
pois carregar o outro com seus carismas e perfeições, não requer nenhum sacrifício
e é até agradável. A exemplo de Jesus, Nosso Deus e Senhor, sejamos todos
pastores e que aprendamos a amar a todos, mesmo os “estranhos” do Redil, pois o
amor poderá salvá-los, levando-os a uma experiência sincera e profunda com
Jesus mediante o nosso testemunho. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
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