Comentários Prof.Fernando*
2º domingo da PÁSCOA 3 de abril de 2016
enfermos e atormentados
por espíritos imundos:
todos eles eram curados (Atos 5,16)
1) Amor em tempos de muitas
cóleras...
·
O momento atual
em nosso país encontra-se tecido por dúvidas e incertezas: sem líderes
confiáveis diante do sentimento público que dirá que todos os políticos têm
algum envolvimento nos crimes investigados; com informações e notícias, na
mídia, soando claramente dirigidas não ao esclarecimento da verdade, mas ao respaldo
deste ou daquele grupo; sem nenhum esboço sequer de negociação ou de acordos
políticos que sejam voltados para o bem de todo o povo, enquanto só ouvimos
discursos moralizantes, embora de fato voltados só para interesses imediatos
destes ou daqueles.
·
Todos estão
convencidos ao menos de uma coisa: são os “adversários” que devem ser
demonizados. E “nosso grupo” é o único que poderá encaminhar o futuro da
pátria. Como nos nos anos que antecederam a Guerra, “nosso grupo” é o puro
ariano. Os outros são judeus a eliminar, porque são eles os responsáveis pelo
caos econômico da “nossa” Alemanha. Há pessoas ingênuas na rua agredidas só por
ir trabalhar com camisa desta ou daquela cor. O sentimento das massas caminha
assim para a polarização e radicalização, sem lugar para o pensamento mestiço.
Tudo se reduz, pouco a pouco, à disputa pelo poder. Percebemos,
particularmente, como é forte a ambição e a cobiça de alguns planejando a
partilha dos despojos do que sobrarem da guerra. As lideranças das igrejas
parecem temerosas. Tímidas, ao menos. Só há pouco apareceu uma reunião em que a
CNBB (Igreja Católica) pede tolerância e diálogo e que não se demonize o
político. Parece que o pedido chegou um pouco tarde.
2) Atravessando portas fechadas
·
O tempo pascal
prossegue (2ª.semana) desdobrando nossa meditação sobre o Mistério daquele que
ressuscitou para nunca mais morrer (Eu
sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo
vivo pelos séculos dos séculos – Apocalipse 1,17-18 – segunda leitura de
hoje). A primeira leitura, tirada dos Atos dos Apóstolos cap 5, fala dos
primeiros momentos do cristianismo nascente. Os apóstolos continuavam a
atividade do seu Mestre, curando os doentes e os atormentados por limitações e
angústias. Em outras palavras, não há barreiras para a bondade que explodiu de
dentro do coração de Deus.
·
O texto do
evangelho conta que o Cristo ressuscitado ele entra no lugar onde estão
trancados os discípulos, ainda tremendo de medo. Afinal, poucos dias antes seu
Mestre fora condenado pelos líderes do povo, torturado na cruz – na aplicação
romana da pena de morte, dolorosa e vergonhosa. O Mestre fura as barreiras do
medo e traz a paz. Mostra-se vivo e é reconhecido pelos que choravam sua morte
e ausência. Como expressão redentora de sua Ressurreição entrega ao grupo que
tiver nele confiança (fé) o seu próprio poder de reconciliar, perdoar, sarar,
superar todos os males, cuja face comum nomeamos como pecado.
3)
Desconfiados, em família
·
Tomé, do grupo “só acredito vendo”, não estava naquele
dia no mesmo lugar dos companheiros. Não acreditou na palavra deles. Na semana
seguinte o Mestre volta a se deixar ver por todos reunidos naquele mesmo lugar.
Agora, Tomé acredita. E o Mestre proclama que os futuros discípulos são
bem-aventurados por acreditar, mesmo sem ver.
·
Tomé não é só o
“típico” do desconfiado. Na narrativa torna-se o símbolo de todos os que só
chegaram a crer por meio do testemunho de outros. Nem todos viram. Nem todos
conviveram há dois mil anos com o Mestre de Nazaré e nem ele – depois de
ressuscitado – se deixou ver por todo mundo. Em vida pregou nas sinagogas,
praças, no Templo. Todos puderam testemunhar sua Boa Notícia. Uma vez
ressuscitado, se fosse visto igualmente nas ruas e praças teria criado uma
religião de sucesso único. Não funciona assim a vida humana, tecida também na
intimidade do confiar, olhar nos olhos e arriscar o amor. Ele foi conversar só
com as testemunhas escolhidas, preparadas já para um novo olhar. Além dos
apóstolos ele se apresentou a muitos grupos até a (1corintios15) a mais de 500
pessoas numa mesma ocasião. Terá conversado em particular conversou com seus
amigos. Terá certamente visitado (embora não seja referido pelos primeiros
anunciantes da Boa Nova) sua própria mãe, bem como às outras mulheres que o
seguiram até a morte, além, é claro, do encontro narrado sobre o dia da
ressurreição: Madalena, Maria, etc.
4)
A Fé é o contrário da desconfiança
·
Diante da
conturbada situação nacional e da desconfiança generalizada nos líderes do
país, é preciso, mais do que nunca, agarrar-nos à Fé cristã para continuar
trabalhando pelo bem do povo brasileiro. A Fé pode nos iluminar em todas as
circunstâncias de modo semelhante à narrativa bíblica. A narrativa dos
acontecimentos pascais vividos pelos primeiros discípulos é escrita como um
paradigma para o comportamento de todo ser humano. Da mesma forma como as
narrativas da Bíblia Hebraica do Povo de Israel apresentou as figuras bíblicas
(de Adão até Abraão, Isaac, Jacó, Moisés e outros, até o mais recente dos
Profetas) como modelos paradigmáticos para a nossa fé, para distinguir o
essencial do circunstancial. São paradigmas para todos, no mundo e na história,
para que fiquem mais atentos à voz divina que chega até cada ser humano, no seu
próprio tempo-espaço, em sua história particular.
·
O medo leva a nos
trancar dentro de nossas conhecidas seguranças. É preciso abrir as janelas e
olhar, examinar, analisar, procurar. É preciso abrir as portas e acolher, não
qualquer um mesmo trazendo discursos bonitos e aparência de verdae, porém receber
em casa os mais carentes. Como Tomé ou como Madalena, de algum modo podemos
reconhecer o Cristo ressuscitado. No silêncio da oração ou nas atividades do
dia a dia, no contexto de nossa história.
oooooooooooooo ( * ) Prof. (Edu/Teo/Fil,1975-2012)
fesomor2@gmail.com
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