TERÇA
FEIRA DA SEMANA DE PENTECOSTES 14/05/2013
1ª
Leitura Atos 8, 1.15 – 17. 20-26
Salmo
112 (113), 8 “Entre os príncipes, fazê-lo sentar junto aos grandes do seu povo”
Evangelho João 15, 9-17
Ás
vezes quando me deparo com o evangelho de São João, apelo para o meu imaginário
grupo de debates onde o Maneco, membro de uma comunidade das mais simples,
replica, logo após a conclusão “Eta que esse tal de João gosta de complicar,
porque não vai direto ao assunto?” Já o Ernesto, que é encarregado em uma empresa,
gosta de ver o jeito de Jesus falar com os discípulos nesse evangelho, “Esse
Jesus é dos meus, lá na fábrica é assim que eu digo para a minha turma “Se
quiser ser meu amigo, faça o que eu mando”. Confesso que tomei um susto, não
tinha reparado que o versículo 14 é exatamente assim “Vós sois meus amigos, se
fizerdes o que vos mando”.
Esta
não é uma frase solta no meio do texto, mas há sempre o perigo de se fazer uma
leitura fundamentalista da Palavra de Deus, pois o meu irmão de grupo gosta de
ser mandão na comunidade, porque é essa a sua rotina na empresa, e assim ele se
identifica com Jesus, que nessa frase parece mesmo ser “mandão” e autoritário,
bem do tipo, se não for pra fazer do meu jeito, então não quero. Entretanto o
ensinamento é outro... Foi quando Dona Maria, que trabalha de doméstica há
muito tempo, fez uma observação interessante, que eu nem havia pensado. “O
senhor me desculpe, pode ser que vou falar bobagem, porque não tenho estudo de
teologia, mal fiz o antigo ginásio, mas parece que Jesus diz aí, que ele nos
trata como amigos e não como servos, mas o gozado é que ele mesmo falou em um
outro evangelho, que veio para servir e não para ser servido, quem serve é
servo”.
Dona
Maria não quer nem saber se o jeito de João escrever seu evangelho é diferente
dos sinóticos, mas parece que “matou em cima” a questão intrigante. Na relação
de trabalho, quem serve é quem é mandado, na comunidade enquanto igreja, quem
serve é aquele que ama. Diante dessa observação feita ao grupo, levantou-se o
“Mota” pessoa que na paróquia é o responsável em buscar as hóstias e partículas
no Mosteiro das irmãs. “Óia gente, andei contando por curiosidade e vi que só
nesse evangelho, João escreveu nove vezes o verbo amar, acho que isso quer
dizer alguma coisa” Parece que o Mota “mordeu a isca” -- pensei com meus botões
- Quem experimentou tão intensamente e de maneira profunda, o amor de Deus
manifestado em Jesus de Nazaré, não vai mais falar de outra coisa na vida, que
não seja desse amor, não é atoa que o evangelho o chama de “Aquele discípulo
que Jesus amava”, não porque o Senhor o amava mais que aos outros, mas porque
ele, o discípulo, compreendeu que Jesus é o Amor do Pai manifestado entre os
homens, não só compreendeu, mas experimentou, e esta manifestação não é exclusiva
para alguém, mas a todos os homens.
Roseli,
uma jovem que também integra o nosso grupo, e que anda nas nuvens porque está
namorando um catequista da comunidade, fez um comentário belíssimo “Então a
gente pode dizer que Jesus é o amor ESCANCARADO de Deus para os homens!”.
Escancarado é aquilo que não se tem como esconder, não dá para disfarçar, como
os olhos brilhantes da Roseli, quando está perto do namorado. Quem se sente
amado por alguém, não tem como disfarçar a alegria, o bem que a outra pessoa lhe
faz, só de estar perto, e aqui dá para entender a expressão “Eu vos digo isso,
para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja plena”.
A
descoberta de que Deus nos ama tanto, e de maneira apaixonada em Jesus, faz a
gente se tocar, a vida ganha um novo sentido, um novo horizonte se descortina,
pois há uma palavra chave em João, que nos permite sonhar esse sonho
realizável, que é ser feliz plenamente. Permanecei em mim. Permanecei no meu
amor. Quem ama quer o outro sempre junto, e aqui, o poder de Deus torna-se
frágil diante da liberdade humana, Deus não pode nos manter junto dele, sem o
nosso consentimento, sem a nossa vontade! Cá entre nós, sei que é isso que
acontece com a Roseli, que se encantou com o moço da catequese, eles até estão
namorando, mas a verdade é que ele, embora muito sério, não está muito afim da
coitada, mas para não magoá-la, mantém o namoro, e o pior é que um dia, uma
amiga confidenciou à Roseli essa verdade, e para espanto da outra, a Roseli
disse simplesmente “Não tem problema, eu só quero amá-lo, não precisa que ele
me ame”.
Pronto,
chegamos a um ponto culminante da nossa reflexão, Deus quer e sempre quis, e
sempre vai querer nos amar, mesmo que não seja correspondido, o seu amor Ágape
é o amor oblativo, é o verdadeiro e único amor, enquanto que o nosso jeito de
amar é ainda tão pequeno, não passa do amor Filia. Afinal, quem é que
conseguiria retribuir a altura, todo esse amor e ternura, que Jesus Cristo tem
por cada um de nós? Esta é uma dívida impagável...
Entretanto
há algo que podemos fazer, que está ao nosso alcance, e que faz com que Deus se
sinta correspondido em seu amor... “Amais-vos uns aos outros, assim como eu vos
amei”. O “ASSIM COMO...” não é uma exigência que o nosso amor seja perfeito
como o dele, mas se refere a gratuidade e incondicionalidade, se amarmos desse
jeito as pessoas, já está de muito bom tamanho.
Amar
assim é ir além da FILIA, é meio caminho andado para o AMOR ágape. Permanecer
em Cristo e no seu amor, é viver de tal forma a comunhão com ele, que o nosso
jeito de ser, de viver e de amar, acaba refletindo para o próximo, o próprio
Cristo. E assim, em nosso amor tão frágil, as pessoas descobrirão a fonte do
verdadeiro amor, que é Jesus Cristo, foi isso que aconteceu com João, e que
revolucionou a sua vida, ele olhou para Jesus, e descobriu nele o Amor de Deus,
por isso deu com a boca no trombone e saiu falando aos quatro cantos.
Oh Diácono, ficou confuso o texto de hoje.
ResponderExcluirMas contudo, obrigado.
Salve Rainha!
Linda tese sobre o texto. Gostei mt.
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