DIA 27 DE ABRIL
João 14, 7-14
Quem me viu, viu o Pai.
Este Evangelho narra um pedido do
Apóstolo Filipe a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta! Jesus
respondeu: Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me
viu, viu o Pai”. “Jesus é a imagem de Deus invisível” (Cl 1,15). Ele é imagem
de Deus Pai porque tem as mesmas características e qualidades de Deus Pai:
amor, misericórdia, poder, sabedoria, ciência infinita etc. Jesus é o rosto
humano de Deus Pai. Aliás, nós sabemos que Jesus é a Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, que se encarnou.
“Quem me viu, viu o Pai.” Mas este “ver”
não é físico. Os fariseus viam fisicamente a Jesus e no entanto não conheciam a
Deus Pai. Contemplavam os milagres que Jesus realizava, a sua conduta
transbordante de bem, a sua doutrina espalhando a verdade e no entanto não viam
nele a imagem de Deus invisível. Isso porque não é possível “ver” Jesus na sua
identidade divina, a não ser com os olhos do coração. Várias vezes Jesus pediu
para contemplarmos as suas obras a fim de vermos nelas a sua união com o Pai e
assim nos salvarmos: “Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim.
Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras”.
“Muitas vezes e de muitos modos, Deus
falou outrora aos nossos pais, pelos profetas. Nestes dias..., falou-nos por
meio do Filho... Ele é o resplendor da glória do Pai, a expressão do seu ser”
(Hb 1,1-3).
O evangelista S. João, no início do seu
Evangelho, chama Jesus de Palavra de Deus Pai, justamente porque a palavra, que
é sensível, expressa a idéia que não é sensível. Jesus é a expressão de Deus
Pai para nós.
“Eu estou no Pai e o Pai está em mim...
Quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que
estas.” Jesus nos faz entender que ele pertence à Família divina, e que esta
Família não está longe de nós, e sim conosco, através de Cristo. Nós entramos,
de modo misterioso, na vida das Pessoas Divinas.
“O primeiro homem, formado da terra, era
terrestre; o segundo homem veio do céu. Qual foi o homem terrestre, tais são os
terrestres; e qual é o homem celeste, tais serão os celestes. E como já
trouxemos a imagem do terrestre, traremos também a imagem do celeste” (1Cor
15,47-49). Assim como Cristo é a imagem de Deus Pai, nós somos chamados a ser
imagens de Cristo. S. Paulo conseguiu realizar plenamente nele essa vocação que
é de todos nós: ser uma imagem de Cristo no mundo. “Não sou mais eu que vivo, é
Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Certa vez, um monge e um noviço
caminhavam em uma estrada no meio do mato. Quando atravessavam um rio, por uma
pinguela, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu pela
margem do rio, jogou-se na água e estendeu o dedo para o bichinho. Quando o
trazia para fora, o escorpião o picou. Devido à dor, o monge sacudiu o dedo e o
animalzinho caiu novamente no rio. Ele foi depressa à margem, quebrou um ramo,
correu mais embaixo e o salvou.
Continuando a caminhada, o noviço lhe
disse: “Por que o senhor quis salvar o bicho novamente, se ele o picou?” O
monge respondeu: “Cada um dá o que tem. Ele agiu conforme a sua natureza, e eu
agi conforme a minha!”
De fato, na primeira vez, o monge não
devia ter estendido o seu dedo para o escorpião, e sim ter providenciado uma
pequena vara.
A nossa natureza não é só humana, mas
temos uma “janela aberta ao infinito”, participamos da natureza divina. Só nos
realizamos plenamente no amor, na doação, na união com Deus e pertença à Igreja
que Jesus fundou.
Peçamos a Maria Santíssima que nos ajude
a reproduzir em nós a imagem de Cristo, porque assim seremos realmente
participantes da natureza divina.
Quem me viu, viu o Pai.
Padre Queiroz
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