Para muita gente, inclusive cristãos, céu é uma
palavra enigmática que soa de maneira estranha, junto com a idéia fantasiosa de
que seja um local longínguo, escondido na imensidão do cosmos, como um prêmio
reservado aos santos e justos, após a morte.
Muitos cristãos têm o desejo sincero de irem para o
céu, mas bem mais tarde, no ocaso da vida, depois de terem “curtido” este céu
aqui da terra. Por aí a gente percebe como a idéia que se tem do “céu” é um
tanto equivocada, conseqüência de uma fé infantil, e de uma mentalidade
religiosa presa a um Deus Legislador.
A Festa da Ascensão do Senhor, celebrada nesse
domingo, desmistifica esse céu estranho, misterioso e distante, e nos dá um
conceito de fácil compreensão: viver no céu é viver na comunhão com Deus, é
este o destino glorioso de Jesus e também de todos os cristãos, essa comunhão
com Deus só é possível por causa da missão de Jesus, missão necessária para
libertar o homem e dar-lhe um destino novo, o Cristo anunciado na escritura
passará pelo sofrimento, paixão, morte e ressurreição e com isso, irá tornar
possível o homem participar da vida de Deus, e a partir daí o homem não irá
precisar saudade daquele paraíso perdido, o que era impossível tornou-se
possível, o que era sonho virou feliz realidade.
O Livro do Atos dos Apóstolos, primeira leitura
dessa liturgia festiva, fala da volta de Jesus ao Pai, de onde vem a palavra
ascensão, que significa elevar-se ou subir.
Não se trata evidentemente, de uma matéria
jornalística, informando o local e o modo como Jesus subiu ao céu, mas sim de
uma belíssima reflexão, sobre aquele momento em que Jesus atingiu o ápice da
sua missão terrena, deixando aos seus discípulos em primeiro lugar, e a todos
nós, a tarefa de dar continuidade à sua missão “Vós sereis testemunhas de tudo
isso”.
Assim é que, os discípulos e os cristãos de todos
os tempos terão essa incumbência de testemunharem a Jesus, sua pessoa e sua
obra libertadora, anunciando aos homens essa Boa Nova, de que agora já é
possível viver na comunhão com Deus, porque ele entrou em comunhão com o homem
em Jesus.
Ascensão, portanto, não é fim, mas início de algo,
na vida dos discípulos. Em um primeiro momento eles não se aperceberam disso,
com as comunidades de Lucas no primeiro século do cristianismo, acontecera a
mesma coisa, diante da perseguição e do sofrimento, por causa do testemunho, os
cristãos se perguntavam “Quando Jesus vai voltar, para tornar o Reino pleno?
Os próprios discípulos, no diálogo com Jesus na
primeira leitura vão indagar “Senhor, é agora que ireis instaurar o Reino em
Israel?” Em muitas ocasiões Jesus havia falado da sua volta a este mundo, os
cristãos imaginavam que ela iria acontecer de imediato, e até a invocavam em
suas orações comunitárias: "Marana-tha – Oh Vem Senhor!".
No primeiro momento, os discípulos ficaram olhando
para o céu, as comunidades cristãs, passado muito tempo após a ascensão, de
certo modo também olhavam para o alto, cheias de expectativa, e hoje não é
muito diferente, têm muitos cristãos que não querem fazer outra coisa senão
olhar para o céu a espera de soluções milagrosas que somente Jesus poderá
trazer, para tantos problemas que os afligem. Não se relacionam com Deus como pessoas
ativas, mas apenas como indivíduos, totalmente a mercê dos desígnios de Deus e
da sua providência.
Como os discípulos e as comunidades de Lucas,
ouçamos atentos a advertência dos dois homens de branco “Homens da Galiléia,
por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado
para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu!”, ou seja, um
dia Jesus voltará, mas é necessário por mãos à obra, na construção do Reino.
Por isso o evangelho de João deixa claro que Jesus
conferiu à sua Igreja um mandato: Fazer discípulos todos os povos, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinar a observar tudo o que
Jesus ensinou! Além da sua presença consoladora e fortalecedora, assegurada por
Jesus, na segunda leitura ouvimos que Jesus pede para que o Pai nos dê um
Espírito de Sabedoria e um coração sempre aberto à sua Luz, para vivermos
sempre nessa esperança.
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