SEXTA FEIRA 24/08/2012
1ª Leitura Ezequiel 37, 1-14
Salmo 106 (107) “Dai graças ao Senhor, porque ele é
bom, porque eterna é a sua misericórdia”
Evangelho Mt
22, 34-40
"O AMOR ÚNICO!" –
Diac. José da Cruz
Nas
palestras sobre o Sacramento do Matrimonio, e até em algumas homilias de
casamentos, há algo que digo sempre aos noivos "Que o amor conjugal
celebrado no altar, diante de Deus, não pode ser apenas um sentimento... O
sentimento humano é algo muito vago e inconstante, hoje se sente, amanhã não se
sente. Claro que o amor nasce de uma convivência e na forma de sentimento, isso
é perfeitamente compreensível, entretanto, para ser elevado á dignidade de
Sacramento, é, preciso algo mais do que um mero sentimento, esse algo mais
chama-se DECISÃO e VONTADE.
O
Doutor da Lei indaga de Jesus, com segundas intenções, qual entre os 680
mandamentos originados do Decálogo, é o mais importante. Jesus, sempre de
maneira sábia surpreende seu interlocutor, pois muda a conversa de direção,
saindo do mero legalismo para uma atitude concreta de vida, que supõe
naturalmente uma decisão e uma vontade.
"Amarás
o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento". O amor de Deus por nós, manifestado em Jesus de Nazaré, não
é um mero sentimentalismo, o nosso amor a Deus também não pode ser um
sentimento piegas, senão ele não sobrevive ao tempo, amar do modo como está na
lei, envolvendo coração, alma e entendimento, é amar integralmente, de maneira
gratuita e incondicional, a cada dia decidindo e direcionando a nossa vontade a
esse amor. O amor não pode ser um gesto de gratidão, de pena ou compaixão, e
muito menos de retribuição, o outro não precisa me dar razões para o amar, devo
amá-lo por decisão e vontade, mesmo que ele não mereça e nunca vá me retribuir:
esse é precisamente o amor cristão.
E
se esse amor fosse só para com Deus estava resolvido, bastasse cumprir as
obrigações religiosas, rezar, ir à igreja, dar o dízimo, receber os
sacramentos, ouvir a palavra, visitar o Santíssimo etc. Tem cristão que pensa
amar a Deus fazendo todas essas coisas.
Não
são dois amores ou dois modos de amar, mas um só, Amar a Deus e ao próximo,
porque Deus se deixa amar no outro e manifesta o seu amor através do outro, é
como se o homem fosse o intérprete do amor de Deus, dando-lhe visibilidade. Nas
coisas que Deus nos faz sempre há alguém envolvido... Decisão e vontade de amar
são fatores determinantes do AMOR, aos irmãos e irmãs da comunidade, na vida
conjugal e familiar, que precisa ser renovado a cada dia, a cada momento, pois
se não iluminarmos o amor com a luz da Fé, ele será um sentimento, uma nuvem
passageira, um amor de vidro, que facilmente se quebra...
Amar
a Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento, eis o
primeiro e o maior de todos os mandamentos, na resposta que Jesus dá aos
fariseus, no evangelho desse domingo. Em meio a relações amorosas tão
distorcidas, temos aí o modo de amar, em sua essência. Pertencemos a uma
sociedade onde até crimes monstruosos são cometidos em nome do amor.
Amar
de todo o coração significa uma decisão tomada a favor da outra pessoa,
significa uma vontade manifestada em gestos e atitudes, de toda a alma
significa que o amor adquire um caráter sagrado, algo que só podia mesmo ser
divino, e de todo o entendimento, amor que pauta pela razão, pela compreensão
do outro, trata-se de uma entrega total, não por imposição, mas dentro de uma
total liberdade.
Talvez
possamos nos perguntar, será que Deus precisa de um amor assim, da parte do
homem?
Pois
sendo Todo Poderoso e Onipotente, que necessidade tem Deus de querer ser amado
desta maneira? O contexto desse mandamento que está no cerne da lei, é que
Israel tem muitas opções de divindades, deuses dos povos pagãos, e que acabavam
influenciando o Israelita, esse amor da totalidade é apenas a atitude de fé, de
quem crê em um único Deus, e que não precisa de nenhum outro, mesmo porque, não
há outro Deus senão o Deus da Aliança. Tal como naquele tempo, há em nossos
tempos mil opções de pequenos deusinhos que se apresentam diante de nós,
querendo submissão e oferecendo-nos em troca algo ilusório.
Já
o Deus dos cristãos, que mostra o seu rosto em Jesus de Nazaré, pede aos seus
seguidores algo muito simples, e ao mesmo tempo revolucionário e inédito: o
amor gratuito e incondicional, o amor total da entrega ao outro, respeitando a
sua dignidade de Filho de Deus, o amor que sempre sorri e nada cobra o amor
paciente, compreensivo, que sabe sempre esperar, perdoar, que suscita no outro
essa vida nova, que orienta, exorta, mostra o caminho, toma pelas mãos, cura,
renova, liberta e salva.
Entretanto,
se compreendermos que Jesus restaurou cada homem, tornando-o Filho de Deus, e
dando-lhe a dignidade de ser novamente sua imagem e semelhança, concluímos que
Deus está em cada homem, no mais profundo do seu ser existencial, independente
da sua fé, da sua condição social ou moral, logo, fica muito claro, porque o
segundo mandamento é semelhante ao primeiro e tem o mesmo peso – Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Deus está no outro, e ama a todos, então, se eu deixo de amar
o outro, estou indo contra Deus, ao contrário, se eu amo o outro, de todo o
coração, isso é, por minha vontade e decisão (mesmo que o outro não mereça) de
toda a minha alma, porque o amor destinado ao próximo é também sagrado, porque
Deus está nele, e de todo o meu entendimento, não ao sabor das paixões e
interesses, mas á luz da razão. Essa é a única e verdadeira forma de se amar a
Deus, a ponto de João afirmar categoricamente “Se alguém disser que ama a Deus,
que não vê, e não ama o irmão que está ao seu lado, é mentiroso e enganador”.
Portanto,
que ninguém mais diga – Não vou a Igreja por causa das pessoas, mas por causa
de Jesus, falar essa frase e defendê-la, é próprio de quem tem uma
espiritualidade vazia, de quem ainda não entendeu de que todo o ensinamento
cristão está concentrado nesta grande verdade.
Para
compreender esse evangelho, que aliás, é bem simples, vamos conversar com um
especialista em trânsito:
___O
que é uma placa normativa e qual delas é a mais importante?
___Placa
normativa é, por exemplo, uma placa que determina a velocidade a ser
desenvolvida em um local de muito trânsito, por exemplo. Sobre qual delas é a
mais importante, poderíamos dizer que, todas e nenhuma...
___Como
assim, a resposta está confusa, ou é todas ou é nenhuma...
___Veja
bem, se você é um motorista consciente, que tem percepção da realidade que o
cerca, sabendo, portanto, que o local é de trânsito intenso, por exemplo, de
pessoas, essa consciência vai fazer automaticamente reduzir a velocidade,
exista ou não uma placa no local. O motorista não tem consciência só sabe
obedecer a placa, diminui a velocidade por causa dela, é aquele que ao passar
pelo radar eletrônico vai devagar, mas depois acelera e tira o atraso... esse é
o legalista, o que obedece para não sofrer uma punição, só isso.
O
que o Doutor da Lei apresenta a Jesus é uma questão legalista, mas a sua
resposta ultrapassa o meramente legal, vai além de qualquer norma ou Lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário