QUINTA FEIRA DA 22ª SEMANA DO TC 06/09/2012
1ª Leitura 1Cor 3, 18-23
Salmo 23 (24),1 “Do Senhor é a terra e tudo o que ela contém”
Evangelho Lucas 5, 1-11
“CHAMADOS
PARA O DESAFIO” – Diac. José da Cruz
Não sei se os
quatro primeiros discípulos, André, Pedro, Tiago e João, estavam de bom humor
ao serem chamados por Jesus á margem do Lago de Genesaré, quando trabalhavam
duramente limpando suas redes dos “enroscos” que havia nelas, após uma noite de
pescaria fracassada. É bom lembrar que tratava-se de um trabalho profissional e
não de uma pescaria de lazer, como é uma prática mais perto da nossa
realidade.A proposta de Jesus ao grupo de pescadores parecera descabida, ele
pedia-lhes para que insistissem em uma tarefa, que não dera certo ao longo de
uma jornada inteira de trabalho noturno, de um jeito diferente, jogando as
redes onde ele fosse indicar.
Ora, que
profissional aceitaria orientação de um estranho em seu trabalho? O horário era
desfavorável, quem conhece o litoral sabe que os barcos pesqueiros trabalham à
noite, e que de manhã é hora de contabilizar os ganhos com a descarga dos
peixes na praia. A proposta vinha como um desafio e implicava em aceitar ou não
a palavra de Jesus. Após terem aceitado, fizeram conforme o Senhor lhes
ordenara e o resultado fora surpreendente: as redes não resistiram a quantidade
de peixes apanhados, sendo necessário partilhar a tarefa com companheiros da
outra barca.
Nas barcas de
nossas comunidades o resultado do nosso trabalho nem sempre é o que esperamos,
pois é preciso estar sempre preparados para o fracasso das “noites” em que as
redes voltam vazias, com “coisas indesejadas” que somos obrigados a ‘limpar”,
buscamos a santidade de uma vida em comunhão, na justiça, partilha e
fraternidade e acabamos encontrando fofocas, intrigas, divisões, coisas que
estão em nossa rede embora não façam parte da vida da comunidade, não as
queremos, ninguém as deseja, mas elas estão lá, exigindo um trabalho de
superação que requer muita paciência e compreensão. Quem já tirou enrosco de
uma linha de pesca ou de uma rede, sabe que não é tarefa das mais fáceis. E de
repente, em meio a essa tarefa somos chamados como os primeiros discípulos à
“irmos mais fundo”, avançando para águas mais profundas. Será que o nosso papel
na comunidade é só ficar consertando as coisas que não deram certo? Claro que
não!
A missão primária
da igreja não é a excessiva preocupação com si mesma, sua estrutura e seu
funcionamento, mas sim em anunciar aos de fora o evangelho de Cristo. Por
experiência própria e muitas vezes por puro comodismo, achamos que o trabalho
proposto por Jesus não dará nenhum resultado e na maioria das vezes em que o
nosso coração nos pede mais ousadia na missão, acabamos preferindo as águas
sempre rasas da nossa comunidade, grupo, pastoral, movimento ou associação onde
é sempre muito fácil falar de Jesus e do seu evangelho, pois todos gostam,
aceitam e até aplaudem!
As pessoas vêm até
nós e assim passamos o nosso tempo “pescando” no aquário, onde até causamos
espanto e admiração, não pelo resultado do trabalho, mas apenas pela nossa
performance e desempenho. Não foi para isso que Jesus chamou os discípulos e
nem é para isso que o Senhor nos chamou. Ser missionário é sair do nosso
“mundinho” conhecido e entrar na realidade das pessoas, lá onde elas estão e
vivem, feiras livres, shopings, grandes avenidas, condomínios residenciais de
alto luxo, favelas e áreas verdes onde o medo do narcotráfico mata qualquer
esperança, nos hospitais, presídios, asilos etc. E se acharmos que a tarefa é
muito grande para as nossas modestas possibilidades, então podemos começar
pelas nossas famílias e ambiente de trabalho.
O verdadeiro
missionário vai sempre além de suas expectativas, do seu conhecimento, da sua
bagagem e experiência, ele sabe que sempre há o risco de um fracasso, mas
arrisca-se de maneira corajosa porque é o Senhor quem determina. “...em atenção
á sua palavra, vou lançar as redes”.
Quando assim o
fazemos, acabamos nos surpreendendo com o resultado e rapidamente, como Pedro,
descobriremos que não foram nossas aptidões, mas sim a graça de Deus que
realizou a missão, dando os frutos em quantidade muito maior do que
esperávamos.E ao tomarmos conhecimento de que a graça de Deus, derramada por
Jesus Cristo, move-se e age mesmo em cima de nossas fraquezas e erros, somos
tomados pelo medo de nos entregarmos totalmente a Deus. Então aí só nos resta um caminho: confiar em
Jesus e vivermos somente á luz da fé, na certeza de que doravante faremos não
do nosso modo, mas do modo dele, mesmo que isso signifique ir contra a nossa
lógica e razão.
Essa atitude requer
uma ruptura até mesmo com aquilo que nos pareça ser essencial, os primeiros
discípulos abandonaram na praia as redes e o barco e seguiram a Jesus, pois é
impossível edificarmos o reino de Deus do nosso modo.
Pensemos em nossa
vocação e nos perguntemos em que águas andamos “pescando”. A resposta irá
exigir de nós uma atitude, a partir do evangelho.
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