QUINTA-FEIRA 16/08
Mt 18,21-19,1
Não te digo até
sete vezes, mas até setenta vezes sete.
Neste Evangelho,
Jesus nos fala do perdão. O texto começa com uma pergunta do Apóstolo Pedro a
Jesus, sobre quantas vezes devemos perdoar uma pessoa. Jesus responde que
devemos perdoar não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete, expressão
hebraica que significa: ao infinito.
E, para deixar bem
claro, Jesus conta a parábola do servo cruel. É um empregado que foi perdoado
pelo patrão, de uma grande dívida, e depois não perdoou ao seu colega, de uma
pequena e irrisória dívida. Por isso foi duramente castigado pelo patrão.
Jesus conclui a
parábola com um recado para todos nós: “É assim que meu Pai fará convosco, se
cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.
O patrão representa
Deus, o empregado que devia a enorme fortuna somos nós, e o outro que devia uma
pequena quantia são as pessoas que nos ofendem ou prejudicam.
Nós tínhamos uma
enorme dívida com Deus, o pecado original e os nossos pecados pessoais. E ele
nos perdoou, e continua perdoando, completamente.
O tamanho de uma
ofensa varia também de acordo com a pessoa ofendida. No nosso caso, o ofendido
é Deus, que é infinito. Portanto, as nossas ofensas a Deus são sempre muito
grandes.
Deus nos perdoa,
mas quer que nós também perdoemos a nosso próximo, seja de que for. Se não o
fizermos, ele retira o seu perdão e nos castiga, como fez o patrão com o seu
empregado cruel.
Por isso que Jesus
nos fala: “Quando estiveres levando a tua oferenda ao altar e ali te lembrares
que teu irmão tem algo contra ti, deixa a tua oferenda diante do altar e vai
primeiro reconciliar-te com teu irmão. Só então, vai apresentar a tua oferenda”
(Mt 5,23-25). De fato, não tem cabimento nós não perdoarmos alguém e querem
manter uma amizade com Deus, pois Deus está no nosso próximo! Seria um
comportamento contraditório na nossa parte: hora louvamos a Deus, hora não
queremos conversa com ele.
O nosso perdão ao
próximo não pode ter limites, nem quanto ao número de ofensas, nem quanto ao
tamanho ou tipo de ofensa.
O perdão é o único
caminho para recuperar a fraternidade, a paz e a alegria, após uma ofensa
recebida. O perdão impede aquele terrível círculo vicioso: a vingança gera a
violência, e esta gera mais vingança... O ressentimento faz aumentar falsamente
o tamanho de uma ofensa.
No Pai Nosso, nós
pedimos a Deus que nos perdoe do jeito que perdoamos aos outros. Isso nos
compromete, porque, se guardarmos rancor, cada vez que rezamos o Pai Nosso
estamos pedindo a Deus que guarde rancor de nós!
Jesus disse: “Não
julgueis, e não sereis julgados. Pois o mesmo julgamento com que julgardes os
outros servirá para vós; e a mesma medida que usardes para os outros servirá
para vós. Por que observas o cisco no olho do teu irmão e não reparas na trave
que está no teu olho?” (Mt 7,1-3).
O próprio Jesus, na
cruz, nos deu o exemplo, quando rezou a Deus Pai pelos que o torturavam: “Pai,
perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34). Mesmo morrendo,
ele encontrou forças para refletir e encontrar uma saída para não sentir mágoa
daqueles algozes: “Eles não sabem o que fazem”. Se não encontrasse essa saída,
Jesus morreria com mágoa deles. E daí, lá no céu, como que fica? Porque lá não
entram duas pessoas de cara virada uma com a outra. E Jesus queria o
arrependimento e a salvação de todas aquelas pessoas que o mataram. Depois
desse exemplo de Jesus, ninguém de nós tem direito de negar o perdão, seja a
quem for e seja de que for.
Perdoar não é sinal
de fraqueza; pelo contrário, é sinal de muita coragem, bravura e heroísmo.
Panacas são os que não perdoam.
O motivo principal
do nosso perdão não está na pessoa que nos ofendeu, mas no mandamento de Deus.
Claro que, depois,
vamos ser mais prudentes com aquela pessoa que nos ofendeu ou prejudicou. “Sede
prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16). “Gato que
caiu em água quente tem medo de água fria”. Nós vamos evitar situações
semelhantes àquela em que a pessoa nos ofendeu ou prejudicou. Mas isso, sem
julgar a pessoa.
O perdão é importante
principalmente na vida familiar, dentro das quatro paredes de uma casa.
Certa vez, um casal
brigou. Brigou feio e ficaram de mal. Quando era necessário dizer alguma coisa
ao outro, faziam-no através de bilhetes. Aconteceu que um dia o homem chegou do
serviço preocupado. Seu chefe havia marcado uma reunião na firma no dia
seguinte, uma hora antes de começar o trabalho. Portanto ele devia levantar-se
não às 05:30, como de costume, mas às 04:30 horas. O que ele fez. Escreveu em
um papel: "Por favor, me acorde às 04:30 da madrugada". E colocou o
bilhete em cima do travesseiro da esposa. E procurou dormir mais cedo.
Quando a esposa foi
dormir, encontrou o bilhete. O que ela fez. No dia seguinte, levantou-se às
04:30 e colocou ao lado da cabeça dele o seguinte bilhete: “São 04:30 horas.
Está na hora de você se levantar.”
Claro que essa
mulher foi cruel. Mas os dois estavam errados, porque, quando entramos em
atrito com alguém, a paz deve voltar antes do por do sol. Se isso vale para
todos, muito mais para o casal.
A mãe sabe ser
“pára-raios” quando membros da família se desentendem. Que a nossa querida Mãe
do Céu nos ajude a perdoar e a viver unidos com todos.
Não te digo até
sete vezes, mas até setenta vezes sete.
Padre Queiroz
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