09 de Abril- DOMINGO - Evangelho - Procissão - Mt 21,1-11
Evangelho - Mt 26,14-27,66
Canção Nova
Começa a Semana Santa, a semana da dor e do amor da morte e
da vida. A primeira semana do novo mundo.
Jesus caminha decidido para a sua Páscoa, para a Páscoa completa,
que é morte e ressurreição.
Como é possível conhecer Jesus de bem perto e vendê-l’O? Essa
atitude totalmente incompreenssível, é única e exclusiva de Judas?
Os evangelhos sublinham a responsabilidade histórica de Judas, não
a sua “culpa jurídica”, menos ainda a sua “condenação eterna”.
O grão de trigo está a cair na terra e vai morrer.
O fermento está a esconder-se na massa.
Para isso veio, para que todos possam comer, para que toda a massa
se faça pão.
É uma ceia de despedida, a última das frequentes refeições que
Jesus celebrou (Mc 2, 19; Lc 13,28-29; 14, 15-24), figura e anúncio do alegre
banquete que nos há-de reunir a todos no reino de Deus.
Pedro demonstra demasiada segurança em si mesmo: ainda que
todos, eu não; eu sou melhor, a minha fé é mais forte… como vou duvidar
da minha fé?
Seguiremos com Jesus mais além do entusiasmo inicial, quando
os problemas se apresentarem e não sejamos de compreender Deus?
Jesus sempre, e mais ainda nas situações difíceis, refugia-se na
oração.
Impressiona a solidão de Jesus. Em vão volta a procurar consolo nos
seus amigos.
Jesus sabe assumir o inevitável com liberdade interior, pois crê
profundamente
que em todo o momento, inclusive no mais duro, está nos braços
amorosos do Pai.
Jesus não vem pregar verdades gerais, religiosas ou morais, mas
proclamar a chegada do Reino, a Boa Notícia do Evangelho.
É plenamente rejeitado: é escândalo para os dirigentes religiosos,
perigo para o poder político, decepção para a maior parte do povo e desconcerto
para os discípulos.
Jesus podia ter dado respostas eloquentes e convincentes,
podia ter pronunciado um grande discurso, podia ter posto em ridículo os seus
acusadores.
A sua opção não é o triunfalismo.
Não pronuncia uma palavra contra ninguém. O silêncio de Jesus
é paciente, obediente, misericordioso.
Chave para entender o aparente silêncio de Deus.
O duplo julgamento, político e religioso, que Jesus padeceu foi a
expressão da injustiça. Matavam-n’O simplesmente porque punha em risco a
credibilidade do sistema religioso, político e econômico. Não organizando
revoltas populares, mas apresentando um projeto de vida alternativo onde as
pessoas valiam por si mesmas e todas tinham os mesmos direitos.
Jesus dá-nos a sua própria tarefa: fazer valer o direito das
pessoas excluídas e pobres. Baixar da cruz as pessoas crucificadas.
Pedro entra em pânico quando o descobrem. Pronuncia as palavras
mais tristes que pode dizer quem segue Jesus: “não conheço esse homem”.
Podemos identificar-nos com Pedro. Julgava-se com forças e
falha. Ao chorar amargamente começa a conhecer-se a si mesmo, a
fundamentar-se mais na fidelidade e no amor de Jesus que na sua própria
segurança. Jesus perdoa sempre, confia e dá uma nova oportunidade.
Nós, os crentes, afirmamos que a história de Judas e de Pedro –
traidores , a dos discípulos – covardes , a de todos nós (julgamo-nos
melhores que eles?) - está nas mãos de Deus e Deus a vai fazendo,
apesar de tudo, história de salvação.
Jesus crucificado leva-nos a esperar que também para os que
crucificam, a última palavra será o perdão. “Pai, perdoa-lhes... (Lc23,34).
E, ao final de tudo, tão pouco existirá a separação que hoje se dá
– e se deve dar - entre os que são crucificados e os que crucificam.
Esperamos que Deus encaminhará tudo para o seu Reino ainda que não
saibamos quando nem como, mas que conta conosco para o alcançar.
Jesus apresenta-se sempre como alternativa de alguém ou de algo.
Quando não se tem o valor de optar só por Ele, fazendo calar outros
ruídos, outros interesses, atua-se da mesma maneira que a multidão e
Pilatos. Abandonamo-l’O. Condenamo-l'O.
É fácil manipular a multidão. Num momento pode gritar
“hosana”, e noutro momento “crucifica-O”...
Será que é a minha postura? Quando me convém, aclamo e acolho
Jesus, quando não me convém, rejeito-O...?
Jesus foi polêmico contra as normas de pureza, perante toda a
espécie de doutrinas e normas (Mc 7,1-23). Foi polêmico frente ao mais sagrado
do sistema religioso: o templo. Detivieram Jesus, julgaram-n’O,
condenaram-n’O e O executaram pela sua vida, os seus ensinamentos e a sua
conduta.
O seu exemplo nos convida a termos uma maior coerência do
Evangelho na nossa vida. A escolhê-l’O a Ele e não a Barrabás;a
sermos pessoas solidárias como Simão, valentes e obstinadas como as mulheres de
Jerusalém.
É um grito de verdadeira angústia, mas ao mesmo tempo expressa o
desejo de se agarrar a Deus contra toda a esperança, de reivindicar a
Deus como meu Deus, ainda que, às vezes, O sinta ausente. Dor e
esperança.
Comunhão com os sofrimentos humanos e esperança no Deus da vida.
O “abandonado” abandona-se nas mãos do Pai.
“Jesus padece o inferno da ausência de Deus, para que assim não
haja inferno
para mais ninguém” (Von Balthasar).
“A morte de Jesus na cruz é a consequência duma vida no serviço
radical à justiça e ao amor; é seqüela da sua opção pelos pobres e os
deserdados; da opção pelo seu povo, que sofria exploração e
extorsão. Neste mundo, toda a opção em favor da justiça e do amor é
arriscar a vida”. (E. Schillebeeckx)
Para José de Arimatéia é tempo de falar, de pedir, de arriscar.
Para as mulheres tempo de permanecer quietas como testemunhos silenciosos do
crucificado. Breve chegará para elas o tempo de tomar a palavra e de ser as
primeiras a anunciar a Ressurreição.
Jesus falava de Reino-Reinado e essa palavra provocava medo e punha
alerta as autoridades. Quanto mais poder, mais medo.
Jesus torna-nos capazes de permanecermos junto aos túmulos do nosso
mundo, para os abrir e anunciar que a morte não tem a última palavra. Anunciar
que estamos destinados, não à cruz, mas à vida. Não ao sofrimento, mas à
alegria perfeita. O definitivo não são as “semanas santas” que
vivenciamos, mas a Páscoa, a Ressurreição, a Vida.
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