16 de janeiro - quarta feira
Quarta Feira da 1ª Semana do
TC 16/01/2013
1ª Leitura Hebreus 2,14-18
Salmo 104 (105) “O Senhor se
lembra sempre da Aliança”
Evangelho Marcos 1, 29-39
Gosto muito de ouvir histórias de pessoas que montaram um pequeno
negócio, e após muito esforço foram bem sucedidas, tornando-se gestores de
grandes empresas, agindo sempre com ética e honestidade.
O bom empreendedor é sempre ousado e pensa “grande”, tendo uma visão
audaciosa do futuro, atitude muitas vezes até criticada e questionada pelos
acomodados que pensam “pequeno”. porque têm medo de arriscar. Se o
empreendorismo é fator dos mais importantes no desenvolvimento de uma nação, de
uma empresa ou de qualquer negócio, no reino de Deus não poderia ser diferente,
porém, é preciso ter os pés no chão, trabalhando a cada dia com vistas à
grandiosidade que se vislumbra, pois o homem de fé, mais do que ser otimista,
já vai construindo no hoje da história, o reino de Deus alicerçado pelo próprio
Cristo.
No evangelho de hoje podemos
perceber nitidamente essa diferença no modo de pensar e agir, entre Jesus e os
seus discípulos. Enquanto o mestre pensa em algo grandioso, querendo expandir o
projeto recém-iniciado, os discípulos estão seguros de que já alcançaram o
sucesso e demonstram grande interesse em montar ali, na casa de Simão, uma
“Tenda dos Milagres”, pois o carisma de Jesus já tinha atraído uma grande e
imensa clientela, ao curar os enfermos e expulsar os demônios, por isso aonde
ele ia, a multidão maravilhada com os sinais prodigiosos, o seguia.
Há nesta fé da magia, a perspectiva de um negócio altamente lucrativo em
todos os sentidos, pois Jesus tem o perfil do Messias esperado, poderia ser ele
o salvador da pátria, capaz de dar a grande virada na história de Israel, e um
populismo assim, era tudo que eles queriam para concretizar a libertação com
que sonhavam.
Não conseguiam vislumbrar em Jesus algo além dos seus ideais humanos,
que também eram importantes e tinham o seu valor, mas Jesus não veio para ser o
Rei dos Milagreiros, nem para ser um libertador político, pensar assim é pensar
“pequeno”, ter uma fé com essa expectativa de um Cristo prodigioso, que
interfere com seu poder na vida das pessoas, quando essas fazem por merecer,
realizando milagres e curas inexplicáveis, é menosprezar toda a obra da
Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda dos milagres, é abusar de certos
carismas recebidos, explorando assim a boa fé das pessoas, e Cristianismo não é
isso.
Curas de enfermidades o Cristo as realizou ontem, e realiza também hoje,
mas estas são simples sinais de algo maior, de um empreendimento mais arrojado,
com o qual todos têm de se comprometer, acreditar, deixar de ser um torcedor
para entrar em campo e “suar a camisa” por aquilo em que se acredita. E como é
que podemos, com nossas limitações e fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse
projeto tão arrojado, que plenifica e ao mesmo tempo transcende, qualquer
empreendimento humano?
O evangelho responde em seu início, logo que Jesus sai da sinagoga e vai
á casa de Simão, onde os discípulos correm para lhe falar que a sogra de Pedro
estava acamada e com muita febre. Era uma pessoa debilitada, entregue ao
desânimo, que muitas vezes chega à vida de alguém, que doença seria essa? O
comodismo e o desânimo, o egocentrismo, a indiferença na relação com as
pessoas, nas comunidades cristãs há pessoas assim, que precisam de ajuda, para
cair na realidade. Jesus não diz uma só palavra, mas apenas estende a mão e a
ajuda a levantar-se do seu leito. Como é bom quando sentimos que o outro nos
estende a mão, em um grandioso gesto de ajuda...
Como é bom agarrar com firmeza a mão amiga, que nos permite levantar e
dar a volta por cima, diante de tantas situações difíceis da nossa vida.
Amor que se traduz em gestos de solidariedade, um toque de mão que
transmite segurança, afeto, ânimo e esperança, sem muito ritual pomposo, sem
êxtases arrebatadores. Como resultado desse gesto de ajuda, a mulher se levanta
a febre a deixa e agora se põe a servir a comunidade. É na oração íntima com
Deus Pai, que Jesus de Nazaré fortalece a sua missão, cumprindo a vontade
daquele que o enviou, pois sem a oração, a nossa igreja seria apenas um Posto
de atendimento de serviço religioso ou balcão de Sacramentos.
É na oração que acontece este colóquio com o Pai, aonde vai se
descortinando para nós a plenitude do Reino, que humildemente vamos construindo
com gestos simples como o de Jesus, capaz de erguer as pessoas que estão ao
nosso lado.
Os discípulos, encantados com o carisma e o Poder do mestre, querem
urgentemente abrir um “pequeno negócio”, um salãozinho de fundo de quintal,
onde eles teriam naturalmente o monopólio sobre Jesus e seus milagres, mas o
Mestre pensa grande, ele não veio para que as pessoas o buscassem, mas para ir
ao encontro delas, curando de suas enfermidades e as libertando dos males
físicos e espirituais, como um sinal da libertação plena.
É esse o Cristo que devemos anunciar como Igreja missionária, pois
qualquer outra imagem diferente da que nos apresenta o evangelho, seria apenas
uma caricatura grotesca, uma cópia falsificada de um mero “Salvador da pátria”,
desses que vez ou outra, o povo gosta de aclamar como Rei...
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