Sábado
Padre Antonio Queiroz
Elias já veio, mas
não o reconheceram.
Malaquias, o último
profeta do Antigo Testamento, disse, na última frase do seu livro: “Eis que eu
vos envio o profeta Elias, antes que chegue o grande e terrível Dia do Senhor.
Ele fará os corações dos pais voltarem-se para os filhos e o dos filhos, para os
pais, para eu não mais vir condenar a terra ao interdito” (Ml 3,23-24).
Como o profeta
Elias viveu num tempo de crise e procurou reconduzir o povo ao seguimento de
Deus, que é tarefa do Messias, e subiu vivo para o céu (2Rs 2,1-18), os mestres
da Lei diziam que Elias devia vir primeiro, antes do Messias. Por isso que os
discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que Elias deve
vir primeiro?”
Jesus explica que
não é que Elias ia voltar em carne e osso; ia vir um profeta com o Espírito e o
poder de Elias, isto é, com o mesmo carisma dele, a fim de colocar tudo em
ordem, preparando assim o povo para acolher o Messias. E esse profeta é João
Batista.
Mas eles (os
mestres da Lei), continua Jesus, não o reconheceram e o mataram, assim como vão
matar o próprio Messias.
O Anjo Gabriel,
quando apareceu a Zacarias e profetizou o nascimento de João Batista, disse que
“ele irá adiante de Deus com o espírito e o poder de Elias” (Lc 1,17).
Os pecadores gostam
de escolher seus próprios profetas, conforme o seu gosto; profetas que falam o
que eles querem ouvir. Fundam até religiões conforme o seu gosto.
Mas Deus continua
enviando seus profetas, a fim de recolocar tudo em ordem e reconduzindo o povo
para Deus.
A palavra profeta
vem de proferir, falar. Na Bíblia, profeta é aquele que fala em nome de Deus. É
uma pessoa comprometida com a Palavra de Deus, com a verdade, a justiça e a
igualdade entre as pessoas. “Porei em sua boca as minhas palavras, e ele (ela)
lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar” (Dt 18,18).
No nosso batismo,
nós recebemos a missão profética. Logo depois que o ministro derramou água na
nossa cabeça, ele pegou o santo Óleo do Crisma e disse: “Que o Senhor te
consagre com o Óleo santo, para que, como membro de Cristo, sacerdote, profeta e
rei, continues no seu povo até a vida eterna”. Em seguida, ungiu com o Óleo a
nossa cabeça.
Se compararmos com
as eleições políticas, no batismo nós fomos eleitos profetas, e na crisma
tomamos posse desse mandato.
O carisma profético
nos leva a percebermos claramente as situações humanas que estão de acordo com
o Evangelho (situações evangélicas), e nos dá forças para anunciar isso aos
outros. Por outro lado, leva-nos também a perceber as situações
anti-evangélicas, e nos dá força para denunciá-las.
O profeta é
corajoso e claro. Ele não tem medo de nada. A sua missão é colocar tudo em
ordem. Por isso, geralmente o profeta é perseguido.
Como é importante
nós acolhermos bem os profetas que Deus nos envia, e nós também sermos
profetas, assumindo assim a nossa vocação batismal!
Certa vez, uma
viúva pobre, e mãe de quatro filhos pequenos, foi à padaria de manhã
buscar um litro de leite.
Ela disse para o
dono da padaria, que atendia no balcão: “Por favor, meus filhos estão com fome
e eu não tenho dinheiro agora. O senhor me venda um litro de leite, e logo que
eu receber minha aposentadoria, pagá-lo-ei.
O homem lhe disse
friamente: “Desculpe, minha senhora, mas nós aqui não vendemos fiado”. E foi
logo atender outra senhora.
Esta lhe disse: “Eu
quero um litro tipo B, porque é para eu dar para o meu cachorro”. Com um
sorriso, o dono da padaria lhe vendeu o leite e ela voltou para casa, enquanto
a viúva saía de mãos vazias.
Era esse tipo de
pecado que João Batista denunciava com veemência, citando os fatos com local,
data e nome de quem fez. Por isso que ele, e também Jesus, foram condenados.
Maria Santíssima,
através do seu hino Magnificat, mostrou-se uma verdadeira profetiza. Que ela
nos ajude a viver melhor o dom e a missão profética.
Elias já veio, mas
não o reconheceram.
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