6 Agosto
2020
Tempo Comum - Anos Pares
XVIII Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 31, 31-34
31Dias virão, diz o Senhor, em que firmarei
uma nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá - oráculo do Senhor.
32Não será como a aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela
mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram,
embora Eu fosse o seu Deus - oráculo do Senhor. 33Esta será a Aliança que
estabelecerei, depois desses dias, com a casa de Israel - oráculo do Senhor:
Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. 34Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu
irmão, dizendo: 'Aprende a conhecer o Senhor!' Pois todos me conhecerão, desde
o maior ao mais pequeno, porque a todos perdoarei as suas faltas, e não mais
lembrarei os seus pecados» - oráculo do Senhor.
O texto que hoje escutamos é o testemunho
espiritual de Jeremias, síntese do seu pensamento e da sua obra e, de certo
modo, síntese de toda a literatura profética. Declara que a intervenção de
Javé, que permite ao povo regressar do cativeiro, marca uma mudança de rumo na
história. O regresso de Israel à sua terra, a recuperação de uma existência
livre e harmoniosa, atinge o auge no estabelecimento de uma «nova aliança» (v.
31). Javé, o Senhor, inclinara-se sobre Israel, erguera-o para Si (cf. Dt 32,
11; Os 11, 4) e, pela aliança sinaítica fizera dele sua propriedade (cf. Dt 32,
9). Israel, todavia, mostrara-se incapaz de observar os mandamentos - lei de
vida - faltando ao compromisso assumido (cf. Ex 24, 3; Js 24, 24). O pecado da
infidelidade tinha marcado a sua existência e a sua história. Sobreveio o
exílio. Mas Deus teve compaixão do seu povo e fê-lo regressar, como num novo
êxodo. E, maravilha das maravilhas, oferece-lhe uma nova aliança, em que a lei
já não será escrita em tábuas de pedra, mas no próprio coração (v. 33). Será
uma lei interior a observar, não com ritos formais, mas pela interiorização de
valores como a obediência e o amor, postos em prática. Javé, ao perdoar os
pecados de todos, sem distinção, também lhes dá capacidade para cumprirem os
preceitos da nova aliança. Cada um poderá conhecer a vontade de Deus, impressa
no seu coração e de cumpri-la (cf. v. 34ª). Há um reconhecimento radical da
pessoa de cada um. E, por dom da misericórdia divina, Deus pertencerá a cada um
e cada um pertencerá a Deus (v. 33c.)
Evangelho: Mateus 16, 13-23
Naquele tempo, 13Jesus ao chegar à região de
Cesareia de Filipe, Jesus fez a seguinte pergunta aos seus discípulos: «Quem
dizem os homens que é o Filho do Homem?» 14Eles responderam: «Uns dizem que é
João Baptista; outros, que é Elias; e outros, que é Jeremias ou algum dos
profetas.» 15Perguntou-lhes de novo: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» 16Tomando
a palavra, Simão Pedro respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo.»
17Jesus disse-lhe em resposta: «És feliz, Simão, filho de Jonas, porque não foi
a carne nem o sangue que to revelou, mas o meu Pai que está no Céu. 18Também Eu
te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas
do Abismo nada poderão contra ela. 19Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo
o que ligares na terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na terra
será desligado no Céu.» 20Depois, ordenou aos discípulos que a ninguém
dissessem que Ele era o Messias. 21A partir desse momento, Jesus Cristo começou
a fazer ver aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da
parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao
terceiro dia, ressuscitar. 22Tomando-o de parte, Pedro começou a repreendê-lo,
dizendo: «Deus te livre, Senhor! Isso nunca te há-de acontecer!» 23Ele, porém,
voltando-se, disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo,
porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!»
Quem é este homem a quem o vento e o mar obedecem?
Quem é Jesus? Quem dizem os homens que Ele é? E, vós, quem dizeis que Eu sou?
Pedro toma a palavra e responde em nome da comunidade dos discípulos: «Tu és o
Messias, o Filho de Deus vivo» (v. 16). Verificada a compreensão que os
discípulos têm de Jesus, o Evangelho de Mateus dá uma volta decisiva. Se as
obras e as palavras de Jesus tinham revelado a sua missão messiânica, de modo
que o povo acreditasse n´Ele (vv. 13ss.), à excepção dos nazarenos (cf. 13,
53-58), os discípulos pela boca de Pedro, reconhecem também a sua natureza
divina (v. 16). Pedro assume grande relevo nesta cena: se, por um lado,
professa a fé no Filho de Deus, por outro lado recusa que Ele seja o Servo
Sofredor (v. 21); se primeiro recebe de Jesus plena autoridade sobre a comunidade
dos discípulos (vv. 18ss.), logo depois é chamado «Satanás» porque o seu ponto
de vista se opõe ao de Deus, e é obstáculo para Jesus cumprir a vontade do Pai
(v. 23).
As contradições que assinalam o discipulado de Pedro (cf. Mc 14, 26-31)
evidenciam a obra da graça divina na fragilidade humana: é o mistério da
Igreja, cujo chefe é tal, não por mérito próprio, mas porque Deus lhe confia o
serviço que o faz referência para os irmãos. Só Deus é garantia de salvação da
comunidade na luta do mal e da morte contra o bem e a vida (v. 18). A
comunidade pode confiar em Pedro, porque as suas decisões serão assumidas por
Deus (v. 19). Mas a salvação e a glória terão de passar pela cruz (v. 21).
Meditatio
Escutamos hoje o texto que, provavelmente, é o
cume mais elevado de todo o Antigo Testamento: o oráculo da nova Aliança, no
«Livro da Consolação» de Jeremias. Esta profecia revela uma inspiração
profunda, uma pureza perfeita. Outros oráculos misturam perspectivas de
prosperidade terrena, de riquezas materiais à da relação com Deus. Este oráculo
centra tudo na relação pessoal com Deus. A nova Aliança será diferente da
primeira, a do Sinai: «Não será como a aliança que estabeleci com seus pais,
quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto» (v. 32). Efectivamente
há várias diferenças. A primeira é que, enquanto no Sinai as leis foram
escritas em tábuas de pedra, eram leis exteriores, que não mudavam o coração do
homem, agora são escritas no coração da pessoa, são leis interiores:
«Imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração» (v. 33). A
lei de Deus será entendida na sua intenção de amor, porque a vontade de Deus é
sempre vontade de amor. Deus não manda para complicar, para oprimir, para
obrigar, mas para estabelecer uma rela&
ccedil;ão de amor. É pois uma lei que se aceita voluntariamente, livremente.
Porque é uma lei interior, permite uma relação íntima com Deus: «Serei o seu
Deus e eles serão o meu povo» (v. 33). Esta promessa já se encontrava, várias
vezes, no Antigo Testamento. Mas não se podia realizar, porque o coração do
homem era mau. Agora, depois da nova Aliança, essa intimidade recíproca já era
possível, porque já não era entre Deus e o povo, mas entre Deus e cada um: era
uma relação pessoal: «Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão,
dizendo: 'Aprende a conhecer o Senhor!' Pois todos me conhecerão, desde o maior
ao mais pequeno» (v. 34). Já não são precisas exortações como as de Jeremias
porque, na nova Aliança, haverá uma relação pessoal, a consciência pessoal de cada
um diante do Senhor. Esta nova aliança fundamenta-se na miserericórdia infinta
de Deus, manifestada em Jesus Cristo, e que não parecia possível no tempo de
Jeremias. Será Jesus a revelar o modo como Deus havia de realizar a nova
Aliança. E como toda a aliança pressupõe um sacrifício, será Jesus a oferecê-lo
- o sacrifício da nova Aliança - bem diferente dos antigos sacrifícios. Será
Jesus a concretizá-lo através da oferta de Si mesmo, do seu coração, do seu
corpo, do seu sangue, de toda a sua humanidade.
No evangelho de hoje, Jesus já prevê esse sacrifício, quando diz aos discípulos
«que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito, da parte dos anciãos, dos sumos
sacerdotes e dos doutores da Lei, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar»
(v. 21). Foi a oblação perfeita de Cristo que selou a nova e eterna Aliança. A
Eucaristia permite-nos progredir nessa aliança nova, e recebê-la cada vez mais
e melhor no nosso coração: «Chamados a participar todos os dias neste
sacrifício da Nova Aliança, unimo-nos à oblação perfeita que Cristo oferece ao
Pai, para fazê-la nossa, pelo sacrifício espiritual das nossas vidas:
«Exorto-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos
corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: tal é o culto espiritual que
lhe deveis prestar» (Rom 12,1) (Cst 81).
Oratio
Obrigado, Senhor, por não desistires, por me
ofereceres sempre o teu amor, a tua misericórdia. Obrigado por estares sempre
comigo, por Te interessares por mim. Obrigado por me quereres junto de Ti, por me
ofereceres a tua amizade, a intimidade Contigo. Obrigado por saberes o que tem
valor eterno e o que é transitório, e agires em consequência. Obrigado por Te
declarares abertamente, por não retirares a palavra dada. Obrigado por amares
sempre. Obrigado por aceitares sofrer e morrer, para ser fiel ao amor para com
o Pai e para comigo. Que eu saiba permanecer, sempre, no teu amor. Amen.
Contemplatio
A última páscoa, que devia pôr fim à antiga
Aliança estava terminada; uma páscoa nova devia suceder à páscoa antiga e
inaugurar uma nova aliança; a realidade devia suceder à figura, e o verdadeiro
Cordeiro pascal devia ser o alimento das nossas almas. Mas Jesus queria
preparar os seus Apóstolos para a instituição da santa Eucaristia e para a sua
recepção através de uma cerimónia sensacional, símbolo da purificação interior,
que era requerida para participar dignamente no festim do Cordeiro.
Jesus, portanto, como tinha amado os seus que estavam neste mundo, amou-os até
ao fim, e preparou-se para lhes dar um sinal supremo da ternura do seu coração,
a Eucaristia. Mas, tomando por um momento, as funções de um escravo, pôs-se a
lavar os seus pés. S. Pedro revoltou-se, mas Jesus disse-lhe: Se não te lavar
os pés, não terás parte comigo, porque a tua alma não estará bem disposta para
receber a Eucaristia.
Nosso Senhor queria ensinar-nos que é preciso purificar as nossas almas tão
perfeitamente quanto possível para receber a Eucaristia. Disse a Pedro: Aquele
que já está lavado não precisa de lavar o pó dos seus pés para estar
inteiramente puro: isto é, no sentido espiritual, aquele que, como vós, já está
em estado de graça, já não tem necessidade de se purificar das manchas leves
que desfiguram a sua alma, e é o que vou fazer a vosso respeito com esta acção
simbólica que vos purificará nomeadamente de um resto de vaidade e de
amor-próprio que ainda manifestastes agora mesmo. Que lição para mim, que me
preparo tão negligentemente para a santa comunhão! (Leão Dehon, OSP 3, p.
265s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Serei o seu Deus e eles serão o meu povo» (Jr 31, 33).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.