10 de Fevereiro - Quarta -
Evangelho - Mt 6,1-6.16-18
Com a
celebração das cinzas damos início ao grande e forte tempo de oração,
penitência e Jejum, que se pode também traduzir por tempo de partilha. É o
tempo de conversão do coração humano ante as necessidades dos outros.
Como o próprio nome no-lo diz, são quarenta
dias de penitência que nos preparam para a celebração da vitória final da graça
sobre o pecado e da vida sobre a morte. Durante estes dias, a nossa oração se
torna mais intensa e a penitência mais acentuada. É um tempo de retorno a Deus,
de conversão e de abertura aos outros.
A imposição das cinzas nos recorda que nossa
vida na terra é passageira, que algum dia vamos morrer e que o nosso corpo vai
se converter em pó e que a vida definitiva se encontra no céu. Ensina-nos ainda
, que os céus e a terra hão de passar um dia. Em troca, todo o bem que tenhamos
em nossa vida nós o vamos levar à eternidade. Ao final da nossa vida, só
levaremos aquilo que tenhamos feito por Deus e por nossos irmãos.
As cinzas são um sacramental, que não nos
tira os pecados, mas nos relembra a nossa condição de miseráveis, de frágeis e
pecadores. E assim, reconhecendo a nossa situação, recorremos ao Sacramento da
Reconciliação. É um sinal de arrependimento, de penitência, mas, sobretudo de
conversão. Com esta celebração damos início a nossa caminhada com Cristo do
Jardim das Oliveiras, até ao triunfo na manhã do primeiro dia da semana que é o
Domingo da Ressurreição.
Quaresma é realmente o tempo de reflexão em
nossa vida, de entender aonde vamos, de analisar como está nosso comportamento
com nossa família, o marido, a esposa, os filhos, os pais e todos os que nos
rodeiam.
O Evangelho de hoje nos oferece uma ajuda, e
nos faz entender como praticar as três obras de penitência – oração, esmola e
jejum – e como utilizar bem o tempo da Quaresma. Jesus fala das três obras de
piedade dos judeus: a esmola, o jejum e a oração; e faz uma crítica pelo fato
de que eles as praticam para serem vistos pelos outros.
O segredo para o efeito é a atenção para que
não sejamos como os fariseus hipócritas: «Ficai atentos para não praticar a
vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso
contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus» (Mt 6,
1).
Para Jesus é preciso criar uma nova relação
com Deus, e ao mesmo tempo Ele nos oferece um caminho de acesso ao coração de
Deus. Para Ele, a justiça consiste em conseguir o lugar onde Deus nos quer. O
caminho para chegar ali está expresso na Lei de Deus. «Se a vossa justiça não
superar a justiça dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino
dos Céus».
Dizia anteriormente que este é o tempo de
oração, que se caracteriza por uma relação de aliança entre Deus e o homem em
Cristo. Este encontro com Cristo não se exprime apenas em pedidos de ajuda, mas
também em louvor, ação de graças, escuta e contemplação. Rezar é confiar no
Senhor que nos ama e corresponder ao seu amor incondicional. Por sua vez, a
oração penitencial privilegia o agradecimento da misericórdia de Deus e prepara
o coração para o perdão e para a reconciliação.
É tempo da prática do jejum. O jejum tem
certamente uma dimensão física, como a privação voluntária de alimentos. O que
jejuamos deve ser partilhado, ou seja, entregue aos nossos irmãos que passam
fome. É e sobretudo a privação do pecado. O jejum é sinal do combate contra o
espírito do mal. O modelo deste combate é Cristo, que foi tentado muitas vezes
ao sucesso, ao domínio e à riqueza. No entanto, a sua vitória sobre todo o mal
que oprime o homem inaugurou um tempo novo, um reino de justiça, de verdade, de
paz, de amor e de partilha.
A experiência do jejum exterior e interior
favorece a opção pelo essencial. No nosso tempo, o jejum tornou-se uma prática
habitual. Alguns jejuam por razões dietéticas e estéticas. O jejum cristão não
tem uma dimensão dietética ou estética como é prática nos nossos dias, mas sim
uma referência Cristológica e solidária com os nossos irmãos e irmãos excluídos
da sociedade por causa de diversas condições: raciais, religião, cor, tribo,
língua etc. Como Cristo e com Cristo jejuamos para sermos mais solidários
e abertos ao outro. Sob várias formas podemos jejuar, como por exemplo, o jejum
midiático da televisão, da internet, do celular, da língua e etc; para
redescobrirmos a beleza do diálogo em família, da partilha de interesses, do
encontro e da comunhão com os irmãos.
Quando como cristãos vivemos bem o jejum, nos
convertemos em seres solidários, seres que partilham tudo entre todos. Ninguém
chamará de ‘seu’ o que possui. Por outras palavras, atualizaremos o Atos dos
Apóstolos 2,42 que é a essência do cristianismo. A relação dinâmica entre o
amor e a adesão a Cristo, fazem do gesto de ajuda, expresso na esmola, uma
partilha fraterna e não uma esmola humilhante.
Quaresma é tempo de dar esmola, e esta nos
ajuda a vencer a incessante tentação, educando-nos para ir ao encontro das
necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade
divina, possuímos. Tal é a finalidade das coletas especiais para os pobres, que
são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma. Desta forma, a
purificação interior é confirmada por um gesto de comunhão eclesial, como
acontecia já na Igreja primitiva.
Hoje, a oração, o jejum e a esmola não
perderam a atualidade, e continuam a ser propostos como instrumentos de
conversão. A estes meios clássicos podemos acrescentar outros, em ordem a
melhorar a relação com Deus, conosco próprios e com os outros.
E o maior dentre eles é o amor. O amor é
criativo e encontra formas sempre novas de viver a fraternidade. Permite-nos
que contribuamos para a sinceridade do coração e a coerência das atitudes no
caminho da paz. Faz-nos evitar a crítica maldizente, os preconceitos e os
juízos acerca dos outros, favorece a autenticidade da vida cristã. E tem como
obstáculos a vencer o egoísmo e orgulho, que impedem a generosidade do coração.
Estamos hoje diante de um convite veemente:
CONVERTEI-VOS E ACREDITAI NO EVANGELHO. O Evangelho é o próprio Cristo, que nos
convida à conversão interior, à mudança de mentalidade para acolher o Reino de
Deus e para anunciar a Boa notícia.
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