02 de Março- Quarta - Evangelho - Mt 5,17-19
Na narrativa de Mateus encontramos duas de suas
características dominantes. Ele acentua a dimensão messiânica de Jesus e já
apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Escreve na década de 80,
quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das
sinagogas que até então frequentavam. Ele pretende convencer estes discípulos
de que em Jesus se realizam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga
tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por
Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma
instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já
martirizado em Roma. Pedro é apresentado como o fundamento da Igreja e detentor
das chaves do Reino dos Céus.
Ó
Deus, hoje nos concedeis a alegria de festejar S. Pedro e S.Paulo… apóstolos
que nos deram as primícias da fé. Estamos aqui como Igreja a reconhecer a
unidade de fé que viveram na diversidade de missão. Por isso os celebramos
juntos. Sua fé em Jesus foi força que encontraram para suas vidas e para sua
missão. O Espírito moldou seus corações de tal modo que puderam, como diz
Paulo, dizer: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). Pedro faz a primeira
expressão de fé do discípulo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo” (Mt
16.16). Eu tenho a tentação de ver Pedro mais ligado à tradição e Paulo como um
tipo mais avançado e rebelde. Os dois eram parecidos. Vemos Pedro romper com a
tradição judaica e entrar em casa de pagãos consciente de que não devia chamar
de impuro o que Deus declarara puro (At 10,15). Pedro abre as portas do
paganismo ao Evangelho, no Concílio de Jerusalém, tachando a tradição judaica
de um jugo impossível de suportar (At.15,10). Era uma grande libertação que
fazia dentro de si mesmo pela ação do Espírito. Essa posição liberou a Igreja.
Esse ato dá liberdade total a Paulo para evangelizar os pagãos (v.12). Paulo
tão forte na liberdade, mantém tradições judaicas como cortar cabelos para
cumprir um voto (At 18,18) e, por causa dos judeus, circuncidar Timóteo que
tinha pai grego (At 16,3). A fé professada por Pedro se dá em um momento
crucial da vida de Jesus, e O anima a seguir rumo à Paixão. Pedro recebe uma
bem-aventurança: “Feliz és tu Simão, pois não foi um ser humano que te revelou
isso, mas meu Pai que está nos céus”. Tem o dom de ser pedra de alicerce sobre
a qual Jesus constrói a Igreja e lhe dá o poder de ligar e desligar (Mt
16,17-19). Paulo reconhece a ação do Espírito: “Combati o bom combate,
completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7).
Deram
a vida pela Igreja e por Cristo. Rezamos no prefácio: “Unidos pela coroa do
martírio, recebem igual veneração”. Eles têm consciência durante sua vida de
que a perseguição que sofrem é por causa do Evangelho. Herodes desencadeou a
perseguição sobre a Igreja; Matou Tiago e prendeu Pedro para apresentá-lo ao
povo e ser morto. Ele foi libertado da prisão por um anjo (At 12,1-11). Paulo
tem consciência do fim: “Já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se
o momento de minha partida” (2Tm 4,8). Os dois têm a experiência de que são
protegidos pelo Senhor: “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças” (v. 17);
Pedro reconhece: “Agora sei que o Senhor enviou seu anjo para me libertar do
poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava” (v.11).
O
ensinamento desta festa à Igreja é a abertura à tradição e ao acolhimento da
novidade para ser fiel. A Igreja tem que se voltar sempre para o dinamismo
destes dois homens que deram a vida pelo evangelho. Eles nos ensinam. Não
podemos ficar na superficialidade e celebrar sem refletir o que os fez grandes.
Eles não só são colunas da fé, mas também dão rumos para seu futuro. Vivemos
tempos nos quais há tendências de voltar à tradição pela tradição e à novidade
pela novidade. Mas devemos partir da fé que professamos em cada celebração.
A
Igreja celebra Pedro e Paulo no mesmo dia porque trabalharam na unidade da fé e
na diversidade de modalidades. Sua força apostólica está na fé em Jesus. Pedro
e Paulo não se diferem pelo apego à tradição ou inovação, mas pelo campo. Ambos
têm a tradição que preserva e a inovação que assume caminhos novos. Ambos vivem
da fé.
Unidos
pelo martírio recebem igual veneração. Sofrem por causa do Evangelho. Herodes
prende Pedro e Paulo está preso em Roma com a consciência de ter combatido o
bom combate e guardado e fé. Ambos sabem que o Senhor esteve sempre com eles.
O
ensinamento desta festa é a abertura à tradição e o acolhimento da novidade
para ser fiel. Eles são colunas da Igreja, mas também dão rumos. Há tendência
de voltar à tradição pela tradição ou ir à novidade pela novidade. Como Pe.
Vitor Coelho dizia: a Igreja não é de bronze, pois enferruja. É uma árvore que
cresce porque tem ramos novos e permanece porque tem tronco.
Celebrando
S. Pedro e S. Paulo nós celebramos a ação de Deus em Jesus para implantar o seu
Reino no mundo. Ele usou duas luvas de briga: uma grosseira, Pedro, e outra
mais caprichada, Paulo. Por que essa diferença?
Os
dois implantaram a Igreja de Deus em dois mundos diferentes, mundo judeu e
mundo pagão. Missão diferente, mas o mesmo fim. Diferente é o modo de
compreender a fé. Isso enriquece. O judaísmo tende ao ritualismo; o paganismo
tende a um modo mais livre de vida. A Igreja se enriquece com esses dois modos
de entender.
Eles
se fundam na fé. Pedro e Paulo vivem Jesus. Mesmo passando na boca do leão,
foram salvos e preservados. Deram a vida por Jesus. Eles falavam grosso e
tinham o que dizer sobre Deus. Eu e você, o que temos feito no que toca a nossa
fé em Deus?
Pai
consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em meio às provações,
soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de adesão a Jesus.
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