II DOMINGO DA QUARESMA 21/02/2016
1ª Leitura Gênesis
15,5-12.17-18
Salmo 26 (27) , 1 a “O Senhor é minha luz e minha salvação, a
quem temerei?”
2ª Leitura Filipenses 3, 17- 4,1
Evangelho Lucas 9,28b-36
TRANSFIGURAÇÃO
Eu estava empolgadíssimo ouvindo o relato sobre
um filme, assistido por um amigo meu, que voltou cheio de entusiasmo falando
maravilhas do mesmo e narrando com precisão o início, quando toda a história
começa a se desenvolver, mas, porém, ao chegar na parte principal, quando todo
o mistério seria revelado, bastante sem graça ele confessou-me que só se
lembrava do final porque, dominado pelo sono acabou dormindo no melhor da
história, que raiva que me deu! Com Pedro, Tiago e João aconteceu à mesma coisa
no alto daquele monte onde Jesus havia subido para rezar, como frisa o
evangelista, e justamente na hora em que Moisés e Elias, personagens
importantes do Antigo Testamento, conversavam com Jesus sobre o seu “Êxodo”, os
discípulos nada viram e nem ouviram, simplesmente porque pegaram no sono.
Esse “dormir” teológico sempre aparece na
Escritura Sagrada para mostrar como o homem é pequeno diante do grandioso
mistério de Deus, no paraíso o homem dormia quando Deus tirou uma de suas
costelas para fazer a mulher, no Horto da Oliveira à cena se repetirá, quando
os discípulos dormem em um momento em que Jesus vive a sua angústia. Quando
dormimos não sabemos nada do que se passa ao nosso redor, portanto, na vida de
fé, dormir é não perceber a ação de Deus em nossa vida.
Ainda bem que eles tiveram bom censo e diferente
do meu amigo, decidiram não contarem nada a ninguém sobre tudo o que tinha
acontecido no alto da montanha – afirma o evangelho em seu final – e
particularmente acho que fizeram muitíssimo bem porque se saíssem falando, não
iriam dizer coisa com coisa, pois no fundo não haviam compreendido nada
daquelas coisas que estavam acontecendo com o Mestre. Ao anunciarmos Jesus e
falarmos do seu evangelho, devemos fazer com muita clareza e convicção, caso
contrário corremos sempre o risco de ficarmos fantasiando o Cristo do
evangelho.
Subir em uma montanha não é tarefa das mais
fáceis, requer esforço, concentração e muita atenção, pois qualquer escorregão,
além de poder ser fatal, a gente ainda perde todo o esforço do trabalho já
feito. Jesus havia subido á montanha para rezar e nós também “subimos”, isso é,
fazemos a nossa ascese quando nos entregamos à verdadeira oração, aquela onde
Deus nos envolve na sua vida de comunhão, como aquela nuvem envolveu os
discípulos, e revela-nos quem somos e qual a nossa missão.
Essa experiência nós a podemos fazer na oração
pessoal, ou quando nos reunimos na comunidade, em torno da Palavra e da
Eucaristia, onde celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus, isso é,
celebramos as dores e os fracassos, o amargor do cálice da derrota, mas também
a glória da ressurreição, que marcou o seu êxodo, tema da conversa entre os
dois personagens e Jesus.
Mas sempre há os cristãos-soneca, que também
dormem o tempo todo, isso é, participam de todo este mistério sem compreendê-lo
e vivenciá-lo em seu dia a dia e daí, como o apóstolo Pedro, acordam
assustados, com a vontade de armarem as tendas do comodismo, fechando-se em seu
grupo ou em sua comunidade, para fugir dos desafios que missão certamente lhes
trará, são aqueles cristãos que só querem sombra e água fresca.
Para
compreender todo o mistério, uma só coisa é necessária; ouvir com atenção as
palavras de Jesus o Filho de Deus! “Escutai o que ele diz...”, dia a voz que
sai do meio da nuvem, sigam pelo caminho que ele indicar, vivam do modo como
ele viveu, ponham o evangelho no coração, e teremos enfim o Reino dentro de
nós, irradiando muita vida e esperança, pois a transfiguração mostra-nos a
glória na qual seremos envolvidos, porém, também lembra-nos que há todo um
êxodo a ser percorrido, um caminho que não será dos mais fáceis, mas somente
nele é que encontraremos as pegadas Daquele que venceu e foi glorificado pelo
Pai.
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