12
de Fevereiro - Sexta - Evangelho
- Mt 9,14-15
Dias
virão em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.
Este
Evangelho nos conta que um dia os discípulos de João Batista procuraram Jesus e
lhe perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos o jejum, mas os
teus discípulos não?” Jesus respondeu, que jejuara quarenta dias no deserto,
comparando a sua presença física na terra com uma festa de casamento. Explica
que não fica bem, numa festa de casamento, os amigos do noivo jejuarem,
enquanto o noivo está com eles.
Jesus
está se referindo à comparação que os profetas fazem entre a aliança de Deus
com o seu povo e o casamento. Veja o que diz o profeta Oséias: “Naquele dia,
ela (a família do Povo de Deus) passará a chamar-me de “meu marido” e não mais
de “meu Baal”... Afastarei desta terra o arco, a espada e a guerra, e todos
poderão dormir em segurança. Eu me caso contigo para sempre, casamos conforme a
justiça e o direito, com amor e carinho” (Os 1,18-20). Aplicando a profecia a
si mesmo, Jesus se declara Deus, pois o casamento é entre Deus e o povo. A sua
presença na terra foi a festa do casamento “para sempre”, isto é, uma aliança
eterna.
O
jejum praticado pelos judeus tinha um sentido de preparação para a chegada do
Messias e do Reino de Deus. Como que os discípulos de Jesus iam praticar esse
jejum, se o Messias já estava com eles?
Mas
“dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles
jejuarão”. O noivo é Jesus. Ele será tirado do meio dos discípulos pela sua
morte violenta. Então os discípulos jejuarão em sentido figurado, isto é,
sofrerão tristeza e desolação, dificuldades e perseguições, por lhe serem fiéis
na missão recebida.
Hoje
em dia, a Igreja suavizou sensivelmente a lei do jejum, por exemplo, o jejum
quaresmal que era tão duro e prolongado. Mas continua em pé o jejum do domínio
das nossas más inclinações. Existem sete vícios capitais que são os geradores
dos pecados: Soberba, avareza, erotismo, inveja, gula, ira e preguiça. O grande
jejum para o cristão consiste também em perdoar ou pedir perdão, voltar a
conversar depois de um atrito, conviver com pessoas difíceis... Nós só
conseguimos praticar tudo isso, se nos exercitarmos, inclusive com o jejum no
seu sentido estrito, que é dominar o apetite.
Existe
ainda outro tipo de jejum muito importante: O jejum dos olhos. Há cenas que nos
fazem mal, incitam-nos à violência, ao ódio, à desordem, à luxúria... Quantos
filmes e revistas nos conduzem a isso! “Vigiai e orai para não cairdes em
tentação”, disse Jesus. Vigiar é, entre outras coisas, praticar o jejum dos
olhos.
Muitos
líderes cristãos dão aos jovens um conselho muito simples, mas eficaz: “Você
sentiu sede? Não beba logo a água, mas espere cinco minutos. Recebeu uma carta?
Não abra logo, mas espere cinco minutos...” É um ótimo treinamento do domínio
sobre os impulsos do nosso corpo, ferido pelo pecado. Os instintos são cegos,
tanto podem levar-nos para o bem como para o mal
Existe
ainda o jejum do espírito. É controlar a língua, o afeto, o humor, a disposição
para o trabalho, o domínio das emoções, saber dar um abraço quando sentimos vontade
de fazer o contrário, saber engolir seco e não dizer nada, quando a nossa
vontade seria fazer o contrário. As pessoas são capazes de fazer grandes
sacrifícios pelo seu amado ou amada. Os que amam a Deus devem fazer o mesmo por
ele. Por isso que os santos diziam que para eles a cruz era doce como o mel.
Na
primeira Leitura, Isaías fala como é o jejum que agrada a Deus: “Acaso o jejum
que prefiro não é outro? Quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do
jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de
sujeição?... Então brilhará tua luz como a aurora.”
A
exploração econômica é uma bofetada em Deus, pois prejudica os irmãos,
especialmente os mais pobres. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt
6,24). Esse é o lema da Campanha da Fraternidade. Para o cristão, o dinheiro
está a serviço da vida, não para escravizá-la. Seria o maior absurdo alguém
explorar o irmão e se considerar em ordem com Deus porque faz abstinência de
carne. Ou alguém fazer gastos inúteis, comprando coisas supérfluas, furtando-se
à ajuda aos necessitados.
Certa
vez, um garoto de dez anos, chamado Jorge, voltava da escola, quando um homem
se aproximou dele e perguntou se poderia ajudá-lo na escolha de um presente de
aniversário para o seu pai, dizendo ser amigo dele. A criança entrou no carro
do homem e foram. Entretanto, homem tinha ressentimento contra o pai de Jorge,
porque, quando ele era enfermeiro do seu tio, foi despedido por causa de
bebida. Mas o garoto não o conhecia.
O
homem levou o pequeno para uma área isolada, onde o perfurou várias vezes no
peito com uma chave de fenda, depois lhe deu um tiro na cabeça e o deixou lá,
para morrer. Felizmente, a bala havia passado por trás dos seus olhos, não
danificando o cérebro. Depois que retomou a consciência, Jorge ficou sentado na
beira do asfalto, onde foi socorrido por um motorista que passava.
Duas
semanas depois, Jorge descreveu para um desenhista da polícia o rosto do
agressor. O próprio tio o reconheceu. Entretanto, o menino, devido ao trauma,
não conseguiu identificar se era aquele mesmo, ou não. Por isso ele não foi
preso.
O
ataque deixou Jorge cego de um olho. Mas, sem nenhum outro problema grave,
voltou para a escola e deu continuidade à sua vida. Formou-se, casou-se e
tiveram dois filhos.
Um
dia, um policial lhe telefonou para informar que o antigo enfermeiro, agora com
setenta e sete anos, havia confessado o crime. Sem família, ele estava em um
asilo e Jorge foi visitá-lo. Ele se desculpou pelo que havia feito e Jorge
disse que o havia perdoado. Depois disso, visitou-o muitas vezes.
Apresentou-lhe sua esposa e filhos, a fim de lhe dar uma sensação de família.
Ele ficava feliz quando Jorge aparecia, porque o tirava da solidão e era um
grande alívio para ele, após vinte e dois anos de arrependimento.
Mais
do que tragédia, Jorge via no fato um milagre, sentia-se abençoado por Deus.
Apesar de muitos não entenderem como que Jorge pôde perdoar aquele homem, ele
mesmo via o perdão como a única saída para fazê-lo feliz. Se tivesse escolhido
o ódio, ou passar a vida procurando vingança, não seria o homem feliz e
realizado que é hoje.
O
perdão também é uma penitência, que faz bem aos dois lados: a quem perdoa e a
quem é perdoado.
O
amor de mãe é o mais belo retrato do amor de Deus por nós. “Acaso uma mulher
esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se
esqueça, eu de ti jamais me esquecerei!" (Is 49,15). Maria Santíssima, Mãe
de Jesus e nossa, enfrentou situações difíceis, como a fuga para o Egito, a
morte do Filho na cruz... Sinal de que ela se exercitava no auto domínio, a fim
de promover a vida. Santa Maria, rogai por nós!
Dias
virão em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.
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