15 de agosto
Evangelho - Mt 18,21-19,1
Este evangelho é anunciado logo após Jesus ter tratado do
pecador incorrigível, caso extremo que leva a excomunhão. Neste contexto,
Ele passa à situação contrária e bem mais comum do perdão e da
reconciliação dentro da comunidade. A situação é a mesma: "Se teu irmão
tiver pecado..." Mas neste caso, o pecador escuta a parte ofendida, ou
algumas testemunhas, ou toda a comunidade. Mas, outra questão surge.. Quantas
vezes essa pessoa deve ser perdoada? Pedro, novamente como porta voz do grupo,
responde a si mesmo, com o que imagina ser uma resposta generosa:
"Até sete vezes?" Porem Jesus o corrige e surpreende quando
responde: setenta vezes sete. Não se deve entender literalmente este
número, mas sim com o simbolismo que ele traz em si. Na Bíblia, o 7 tem
significado de totalidade, plenitude, completação. Assim é vingado Caim (Gn
4,24a).
Quando aparece multiplicado por ele mesmo, como no caso de Lamec,
vingado por setenta vezes sete (Gn 4,24b), não significa excesso, mas sim a
retirada do limite implicado na totalidade. Essa mesma idéia de totalidade,
plenitude, do numero sete, é usada no Novo Testamento. São sete os pães
multiplicados e sete os cestos de pedaços que sobraram (Mt 15,34.37). O
que deve ser apreendido deste trecho é que ao cristão não cabe
colocar limites ao perdão.
Para melhor esclarecer o perdão sem limites, Jesus usa como exemplo, a
parábola do devedor implacável. Esta parábola é uma outra forma
narrativa para o segundo pedido que fazemos ao rezar o Pai Nosso:
"perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nos perdoamos aos que nos
ofenderam" (Mt 6,12). Desta maneira, Ele evidencia que a disposição
de Deus para nos perdoar depende da nossa disposição de perdoar os que nos
ofendem. Devemos identificar o rei, da parábola, com Deus. Notemos
que esse rei é tratado como senhor, exige uma prestação de contas, e
demonstra sua misericórdia ao perdoar a dívida enorme. Entretanto, o
servo implacável nada aprende com o exemplo de seu rei e age de forma
cruel com outro servo, que lhe é devedor, fato que resulta na
revogação do seu perdão.
Este trecho do evangelho nos adverte de que o perdão de
Deus, e inesgotável, mas está condicionado a nossa disposição de perdoar
os outros. Mostra-nos também que até o perdão concedido por Deus pode ser
revogado, se não soubermos, como Ele, perdoar. Cuidem-se! Os implacáveis
São excluídos da misericórdia divina, e aqueles que desejam receber essa
misericórdia, precisam ser misericordiosos com os outros.
O evangelista termina sua narrativa dizendo que Jesus, tendo terminado
esses discursos, deixou a Galileia, entrando no território da Judéia. Para
melhor compreender esta focalização, e preciso esclarecer que, para Mateus, a
Galileia é lugar de revelação (cf.4,12-17) e a Judéia é o lugar de rejeição e
morte. Sabendo disso, fica claro que este texto de Mateus tem a
intenção de orientar as comunidades cristãs sobre como lidar com problemas
de busca de posição, escândalo, deslizes, reconciliação e perdão.
Maria Cecília
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