03 de Setembro
Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos
judeus. Este Evangelho narra a expulsão de Jesus da sua cidade, Nazaré. Isso
porque ele desagradou os ouvintes na sinagoga, dizendo que Deus quer bem aos
pagãos como aos judeus, igualmente.
O povo de Israel, por ter sido escolhido por Deus
para dele nascer o Messias, julgava ser um povo mais querido de Deus do que os
demais povos. Mas a eleição foi provisória; depois que Jesus nasceu, acabou a
história de povo eleito. Deus ama a todos os povos igualmente e não há nenhum
povo superior a outro.
Jesus mostra que os profetas, enviados por Deus,
não privilegiavam o povo de Israel, mas tratavam a todos os povos igualmente. E
cita o exemplo de Elias, ajudando uma viúva estrangeira, e de Eliseu, curando o
leproso Naamã, sendo que havia muitas viúvas e muitos leprosos em Israel, e
nenhum foi agraciado.
Essas citações, apesar de serem fatos bíblicos,
irritaram os ouvintes, que expulsaram Jesus da sua própria cidade natal e quase
o mataram. Só não o fizeram porque Jesus se mostrou com uma força especial.
Jesus veio ao mundo para salvar a todos os povos.
Deus ama a todos igualmente, como seus filhos e filhas. "Não se faz mais
distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita,
escravo, livre, porque agora o que conta é Cristo, que é tudo e está em
todos" (Cl 3,11).
"Nenhum profeta é bem recebido em sua
pátria." O que fizeram com Jesus confirmou essa sua afirmação. E é para
nós um alerta: será que acolhemos bem o trabalho pastoral e missionário dos
líderes cristãos da nossa cidade ou bairro?
Esta rejeição de Jesus, no comecinho de sua vida
pública, prenuncia a sua sorte como profeta no meio do seu povo:
incompreendido, perseguido, morto. Entretanto, seu Evangelho ultrapassou as
fronteiras do seu país e chega a todos os cantos da terra.
Também nós somos chamados a dar testemunho no meio
em que vivemos. O dom profético não é monopólio dos padres, bispos, diáconos e
religiosos. Esse dom é exercido de diversas formas, de acordo com o carisma de
cada um. "A cada um é dada a manifestação do Espírito, em vista do bem de
todos. A um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria, a outro a palavra do
conhecimento, a outro a fé... a outro a profecia" (1Cor 12,7-10).
O importante é não deixar apagar o Espírito de
Jesus em nós e na nossa Comunidade. Para isso temos de nos comprometer,
especialmente em favor dos mais pobres, como o próprio Jesus havia dito um
pouco antes, no seu discurso em Nazaré (Lc 4,18ss).
Campanha da fraternidade. A grande sociedade
costuma associar a violência à favela e à pobreza, o que não é verdade. Os
chefes do crime organizado não são pobres nem moram em favelas. Devido a esse
preconceito, milhares de moradores de certos bairros das grandes cidades sequer
ousam apresentar o próprio endereço quando encaminham currículos com a finalidade
de obter um emprego. O simples fato de morar em certas regiões já é suficiente
para estigmatizá-los, como se fossem todos delinqüentes. Isso é um pecado!
Havia, certa vez, um senhor pai de família, que
morava na roça e era muito religioso. Ele rezava o terço todos os dias à noite,
com a família. No domingo, a família toda ia à Missa, caminhando a pé, numa
distância de vinte e quatro quilômetros. Uma filha, deste os oito anos de
idade, acompanhava o pai em tudo.
Um dia este senhor adoeceu. Ficou três anos na
cama, sofrendo dores horríveis, mas nunca reclamou. Quando alguém o visitava,
ele dizia que estava bem e feliz. Quando ficou inconsciente, só rezava o tempo
todo.
Seis anos após o falecimento do pai, a menina,
agora moça, foi fazer tratamento médico numa cidade grande, onde ficou
hospedada na casa de uma família de parentes, durante alguns meses.
As famílias católicas vizinhas, ao saberem do seu
trabalho de líder cristã, começaram a convidá-la para rezar o terço em suas
casas e ela sempre aceitava o convite com prazer.
Ela ouviu vários comentários negativos a respeito
de uma vizinha que morava sozinha. As pessoas diziam à moça: "Naquela casa
ali mora uma mulher que não presta!" Entretanto, a jovem, na sua prática
pastoral, não deu muita importância aos comentários, e procurou aproximar-se da
tal "mulher que não presta".
De início, aproveitava os momentos em que ela saía
de casa, para conversar. Dias depois, foi convidada pela mulher para ir à sua
casa. A jovem ouvia mais do que falava, porque percebia que a senhora sentia
necessidade de falar e de se abrir com alguém.
Resultado: as duas ficaram amigas. A mulher começou
a participar dos terços, e acabou nos vizinhos aquele estigma de "mulher
que não presta".
Depois que a jovem voltou para a roça, ficou sabendo que aquela mulher
se transformou. Não era mais aquela pessoa fechada, mas comunicativa e alegre.
Seguindo os passos de Jesus, todos nós somos chamados a ser profetas,
continuando o trabalho dele e dando testemunho, no lugar onde vivemos.
Maria Santíssima é a Rainha dos Profetas. Que ela nos ajude a dar
testemunho do seu Filho, no meio em que vivemos.
Jesus, como Elias e Eliseu, não é enviado só aos judeus.
Padre Queiroz
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