26 de Março- DOMINGO - Evangelho - Jo 9,1-41
O PIOR CEGO É AQUELE QUE NÃO QUER VER
No Evangelho deste domingo, Jesus se apresenta como a luz do mundo.
Entretanto, percebemos que não é uma luz que impõe ser vista indiferentemente
por todos, mas aquilo que se constata através de sua ação na cura de um cego, é
que algumas pessoas começam a ver e outras permanecem cegas, tudo depende da
atitude de cada um de nós.
No início do relato, Jesus vê um cego de nascença e decide curá-lo
por iniciativa própria, ninguém lhe pede para fazê-lo. Mas os discípulos ficam refletindo
uma idéia muito difundida (não só no mundo de então, mas forte ainda hoje)
segundo a qual toda doença é castigo de Deus pelo pecado. Assim, eles perguntam
a Jesus se a causa da cegueira do mendigo foram os pecados dele ou dos seus
pais.
Isto não é completamente ilógico, já que freqüentemente muitos de
nós somos tentados a pensar que os males físicos e psíquicos de uma determinada
pessoa seja culpa dos pais; por exemplo, se uma criança nasce com AIDS não é
culpa sua obviamente, e talvez nem mesmo de sua mãe; pais briguentos podem
provocar nos filhos traumas psicológicos, tornando-os doentes.
Mas no caso do cego em questão, Jesus desmente categoricamente
aquela convicção: “Nem ele nem os seus pais pecaram”; a cegueira do mendigo,
como qualquer outra enfermidade, não depende sempre de específicas culpas de
alguém nem de Deus, que não é vingativo, mas aquele homem assim nasceu para que
as obras de Deus se manifestem nele.
Jesus cura o cego. E os olhos que ele curou para ver o sol,
abrem-se gradativamente para ver aquele que lhe curou. O milagre suscita uma
discussão entre os presentes e conhecidos. Há uma tentativa de afastar a
verdade. Duvidam da identidade do homem curado “não é ele, mas alguém parecido
com ele”. Porém, o ex-cego afirma sua identidade “sou eu mesmo!”, ainda que não
saiba dizer nada sobre Jesus nem sobre onde eles possam encontrá-lo.
Em seguida, ao encontrar os fariseus, estes se escandalizam e
sustentam que, tendo feito Jesus o milagre em dia de sábado quando é proibido
qualquer trabalho, era um pecador: portanto, devia ser evitado; mas à
inconfundível consideração do curado, surge uma divergência entre eles, pois
ficam se perguntando como é possível um pecador fazer tal sinal?
Os fariseus se interessam normalmente só com o “como” Jesus fez
isso (dia de sábado), de onde concluíam que ele era um pecador. O fato da cura
em si não tinha nenhum significado para eles. Mas depois de terem colocado
todos os pretextos e tentado subornar a família do cego que arriscava ficar
toda ela expulsa da comunidade, ficava agora obrigatória tomar uma posição com
relação à pessoa de Jesus.
Aí é onde entra a inconformidade do curado com os fariseus. Pois
ele é consciente da relação perfeita que há entre Jesus e Deus. “Se ele é
pecador, não sei. Só sei que eu era cego e agora vejo”. “Sabemos que Deus não
escuta os pecadores, mas escuta aquele que é piedoso e que faz a sua vontade”.
Para o cego curado, a cura torna-se verdadeiramente um sinal que o leva a
reconhecer o vínculo entre Deus e Jesus. Os fariseus continuaram resistindo em
não querer enxergar e endureceram o coração, expulsando o homem da comunidade.
É triste! Não há pior cego que o que não quer ver; e a cegueira
espiritual é pior que a física, onde diante da evidência alguém permanece
emperrado nos próprios preconceitos, fechando os olhos para a realidade.
O episódio se conclui com a revelação do significado profundo do
prodígio. Encontrando de novo o homem curado, agora expulso da comunidade,
Jesus o convida a valer-se da vista recuperada para reconhecê-lo: “você
acredita no Filho do Homem?” “E quem é? para que creia nele”? “Tu o estás
vendo, é aquele que está falando contigo”. Como com a samaritana do domingo
passado, tudo caminha para a mesmo finalidade.
A luz dos olhos é metáfora da luz da alma. O cego de nascença é
cada homem, cada mulher, incapaz de sozinho ver a luz divina, e, que, portanto
deixa-se guiar por ela, com as conseqüências, pessoais, e coletivas, das quais
todos somos testemunhas; e se quisermos permanecer cegos, fazendo descaso da
luz de Deus, quantos desastres, derrotas, tragédias, amarguras, teremos pela
frente! Para evitá-las na sua bondade Deus nos fez dom da sua luz, para que
possamos ver a estrada justa no caminho desta vida, a estrada que tem como meta
ele, luz do mundo.
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