Segunda-feira – 2ª Semana da
Quaresma
13 Março 2017
Lectio
Primeira leitura: Daniel 9, 4b-10
Senhor, Deus grande e temível, que és
fiel à Aliança e que manténs o teu favor para com os que te amam e guardam os
teus mandamentos. 5*Todos nós pecámos, prevaricámos, praticámos a iniquidade,
fomos revoltosos, afastámo-nos dos teus mandamentos e das tuas leis. 6*Não
escutámos os teus servos, os profetas, que falaram em teu nome aos nossos reis,
aos nossos chefes, aos nossos pais e a todo o povo da nação. 7*Para ti, Senhor,
a justiça; para nós, a infâmia, como é hoje para as gentes de Judá, para os
habitantes de Jerusalém e para todo o Israel, para aqueles que estão perto e
aqueles que estão longe, em todos os países por onde os espalhaste, em
consequência das iniquidades que cometeram contra ti. 8Sim, ó SENHOR, para nós
a vergonha, para os nossos reis, para os nossos chefes, para os nossos pais,
porque pecámos contra ti. 9No Senhor, nosso Deus, a misericórdia e o perdão,
pois nos revoltámos contra Ele. 10Recusámos escutar a voz do SENHOR, nosso
Deus; não seguimos as leis que nos propunha pela boca dos seus servos, os
profetas.
A oração de Daniel, colocada no capítulo
9, explica um oráculo de Jeremias sobre a duração do exílio em Babilónia e
sobre a restauração de Jerusalém (cf. Jer 25, 11ss; 29, 10). De acordo com
alguns exegetas, os 70 anos preditos por Jeremias devem interpretar-se como 70
semanas de anos, isto é, 490 anos. Trata-se de uma longa Quaresma entre o
começo do exílio e a restauração e consagração do templo, em Jerusalém (164
a.c.),
Daniel volta-se para Deus relendo a
história à luz da tradição deuteronomista: à infidelidade do povo segue o
castigo. Mas, até quando terá Deus que castigar o seu povo? Só Ele sabe. Por
isso é que o profeta faz a pergunta a Deus (v. 3). Por seu lado, Daniel
limita-se a reconhecer que o castigo é merecido.
Mas a confissão e o arrependimento do
profeta não o levam ao desesperar, mas a esperar confiadamente o perdão divino
(v. 9). Com efeito, o Deus de Israel é fiel e benevolente, lento para a ira e
rico de misericórdia.
Evangelho: Lucas 6, 36-38
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 36*Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. 37*Não
julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai
e sereis perdoados. 38Dai e ser-vos-é dado: uma boa medida, cheia, recalcada,
transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros
será usada convosco.»
Lucas, depois de anotar a proclamação
das Bem-aventuranças, anota o mandamento do amor universal e da misericórdia.
Redige como que um pequeno poema didáctico com três estrofes. Enunciação do
mandamento (vv. 27-31), as suas motivações (vv. 32-35) e a sua prática (vv.
36-38). Verificamos uma clara analogia com o «Sermão da Montanha» de Mateus.
Mas Lucas tem uma particularidade. Fala da imitação do Pai em termos de "misericórdia",
enquanto Mateus fala de "perfeição".
Como praticar esta misericórdia. É o que
nos indicam os versículos que hoje escutamos.
Cinco verbos passivos revelam que o
sujeito é o Pai: « … Não sereis julgados; não sereis condenados; … sereis
perdoados. 38 … ser-vos-é dado: uma boa medida…será lançada no vosso regaço,
Quando nos arrependemos dos nossos
pecados, nos dispomos a arrepiar caminho, e nos abrimos ao amor misericordioso
do Pai, o seu perdão é mesmo "perdão:", um dom superabundante: «uma
boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço (Lc 6,
38). Por isso, também nos convém ser generosos no perdão aos nossos irmãos.
Meditatio
Depois da enorme catástrofe que culminou
no exílio em Babilónia, o povo de Israel caiu em si e deu-se conta do seu
pecado. Então, dirigiu-se ao Senhor, confessando, confuso e humilhado, as suas
culpas e implorando misericórdia: «Sim, Ó SENHOR, para nós a vergonha, … porque
pecámos contra ti. No Senhor, nosso Deus, a misericórdia e o perdão, pois nos revoltámos
contra Ele (!» (cf. vv. 8-9).
A humildade e a confiança em Deus
permitem-nos receber a sua graça e compreender a imensidão do seu amor por nós.
Foi essa humildade e confiança que levou S. Paulo a exclamar: «Deus demonstra o
seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por
nós (Rm 5,8). O perdão recebido centuplica o amor, como vemos em Santo
Agostinho e em tantos outros santos. A experiência do amor misericordioso de
Deus suscita um forte desejo de correspondência.
Quantas vezes também nós caímos na conta
de termos pecado e ofendido a Deus! Quantas vezes experimentamos as situações
de morte e de ódio, que dominam o nosso mundo! Corremos o risco de perder a
confiança e a esperança. Por isso, precisamos de purificar o nosso olhar com o
arrependimento sincero e a oração. Então, dar-nos-ernos conta da misteriosa e
paradoxal transcendência de Deus, tão grande e tão próximo de nós, sempre
benévolo e paciente. Mas também nos daremos conta da verdade acerca de nós
mesmos e dos outros, e os nossos juízos de condenação transformar-se-ão em
pedidos de perdão para todos, porque todos somos corresponsáveis pelo mal que
nos rodeia. Veremos a nossa vida e a vida do mundo com outros olhos.
Dar-nos-emos conta dos sinais da presença de Deus, das sementes de bem,
escondidas mas reais. Na fé e na paciência, aguardaremos que cresçam e dêem
frutos.
«Deus demonstra o seu amor para
connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós (Rm 5, 8).
Este pensamento leva-nos a aceitar-nos a nós mesmos e a nossa história,
qualquer que tenha sido. Sentimo-nos felizes por sermos quem somos, pela nossa
história pessoal. Deus amou-nos quando "éramos (Seus) inimigos!’ (Rm 5,
10). Quanta gratidão havemos de sentir por Deus-Pai e por Cristo! Como, Paulo,
podemos exclamar: "Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou
o primeird’ (Tm 1, 15).
Aceitar-nos a nós mesmos, e à nossa
história, é caminho para também aceitarmos os outros, com a sua história. Já S.
Tomás de Aquino escrevia que não podemos entrar em relação de amizade com os
outros, se não estivermos em relação de amizade connosco mesmos. Não podemos
aceitar os outros se não nos aceitamos a nós mesmos. Se estamos descontentes e
em conflito connosco mesmos, tristes e desanimados, também o estaremos com os
outros. Cada um dá o que tem. Damos amor, paz e alegria, se tivermos amor, paz
e alegria. Damos amargura e conflito, se estivermos na amargura e em conflito.
A alegria de ser amados é o fundamento
da nossa dignidade de pessoas humanas, de filhos de Deus, é fonte da aceitação
e da confiança em nós mesmos. É a libertaç&
atilde;o de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros com uma justa confiança neles.
atilde;o de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros com uma justa confiança neles.
Oratio
Senhor, quão grande é o amor com que
misericordiosamente nos reconcilias Contigo, nos transformas e nos dás uma vida
nova, uma vida de humildade, de compreensão, de generosidade para com todos!
Dá-nos a graça de permanecermos no teu amor, abrindo-nos à misericórdia para
com os outros. Tendo sido gratuitamente perdoados por Ti, queremos ser
instrumentos humildes da tua misericórdia para com os outros.
Nós Te agradecemos a confiança que
Jesus, teu Filho, demonstra para connosco, ao afirmar: «A medida que usardes
com os outros será usada convosa». Com a tua graça queremos ser largamente
generosos uns com os outros, aguardando confiadamente a tua transbordante
recompensa. Amen.
Contemplatio
Nosso Senhor amou-nos com um amor eterno
e pede o amor em troca. – Era assim que Nosso Senhor dispunha os seus
discípulos para receberem o seu espírito de amor. Para nos dispormos nós
mesmos, recordemo-nos do seu amor por nós. É semelhante àquele que o uniu ao
seu Pai: Sicut di/exit me Pater, et ego di/exi vos. Amou-nos desde toda a
eternidade, não teve em vista senão a nossa felicidade. O seu amor por nós foi
desinteressado até ao sacrifício absoluto de si mesmo. Consagrou a sua vida
inteira à nossa salvação. Morreu por nós sobre a cruz: Majorem hac di/ectionem
nemo habet
O que nos pede é um amor recíproco pelo
seu Pai e por ele, que foram os primeiros a nos amar e que querem chamar-nos
seus amigos: Vos autem dixi amicos.
O nosso amor deve modelar-se sobre o
seu. O seu foi obediente à vontade do seu Pai, o nosso deve manifestar-se por
uma obediência inteira, absoluta, filial à lei divina. Amou-nos até morrer por
nós, devemos amá-lo até morrer, se for preciso, por ele ou pelos nossos irmãos
que são os seus. O nosso amor deve ser infatigável, dedicado e pronto a todos
os sacrifícios.
O espírito de amor que nos dá hoje deve
estabelecer-nos numa intimidade plena de confiança com ele, e numa união
poderosa e fecunda. Nada nos escondeu do que o seu Pai lhe confiou. Iniciou-nos
no conhecimento dos seus desígnios que têm todos por fim a felicidade dos
homens (leão Dehon, OSP 3, p. 589s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a
palavra:
«Sede misericordiosos como o vosso Pai é
misericordioso» (Lc 6, 36).
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