Quinta-feira – 2ª Semana da
Quaresma
16 Março 2017
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
Primeira leitura: Jeremias 17, 5-10
5Isto diz o SENHOR: Maldito aquele que
confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do
SENHOR. 6Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o
sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra, onde ninguém mora.
7Bendito o homem que confia no SENHOR, que tem no SENHOR a sua esperança. BÉ
como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente;
não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta
a seca de um ano e não deixará de dar fruto. 9Nada mais enganador que o
coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer? 10 Eu, o SENHOR, penetro
os corações e sondo as entranhas, a fim de recompensar cada um pela sua conduta
e pelos frutos das suas acções.
Jeremias oferece-nos duas sentenças
sapienciais. Servindo-se da contraposição, aponta claramente onde está, para o
homem, a maldição cujo resultado é a morte (w. 5- 8), e onde está a bênção cujo
resultado é a vida. O ímpio é aquele que, ainda antes de praticar o mal, apenas
confia no que é humano e se afasta interiormente do Senhor. O resultado só pode
ser a prática do mal. Aquilo em que o homem põe a sua confiança é como o
terreno donde uma árvore retira o alimento. Por isso, o ímpio é comparado a um
cardo do deserto que não pode dar fruto nem durar muito (v. 6). O homem piedoso
também se caracteriza, em primeiro lugar, pela sua atitude de confiança diante
de Deus. Por isso, é comparado a uma árvore plantada junto de um rio: não há-de
morrer de sede, nem será estéril (w. 9ss.).
Na segunda sentença, o profeta insiste
na importância do «coração», centro das decisões e da afectividade do homem. Só
Deus experimenta e avalia com justiça os comportamentos e os frutos de cada um
dos homens, porque, só Ele conhece de verdade o coração do homem e o pode
curar.
Evangelho: Lucas 16,19-31
19*«Havia um homem rico que se vestia de
púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. 2D*Um pobre,
chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. 21Bem desejava ele
saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham
lamber-lhe as chagas. 22*Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio
de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 23*Na morada dos mortos,
achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também
Lázaro no seu seio. 24Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem
misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e
refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas. ‘ 25Abraão
respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida,
enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és
atormentado. 26Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se
alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem
tão-pouco vir daí para junto de nós.’ 270 rico insistiu: ‘Peço-te, pai, que
envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; 28que os previna, a
fim de que não venham tembém para este lugar de tormento. ‘ 29Disse-Ihe Abraão:
‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ 30Replicou-Ihe ele: ‘Não, pai Abraão;
se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se. ‘ 31 *Abraão
respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se
deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.
S. Lucas recolhe, no capítulo 16 do seu
evangelho, os ensinamentos de Jesus sobre as riquezas. A parábola, que hoje
escutamos, ensina-nos a considerar a nossa condição actual à luz da condição
eterna. A sorte pode inverter-se. E seguem algumas aplicações práticas (v. 25).
Jesus fala-nos de um homem rico que «fazia todos os dias esplêndidos benquete»
e de um pobre significativamente chamado Lázaro (termo que significa Deus ajuda).
Atormentado pela fome e pela doença, permanece à porta do rico, à espera de
alguma migalha. Os cães comovem-se com Lázaro; mas o rico permanece
indiferente.
Chega porém o dia da morte, a que
ninguém escapa. E inverte-se a situação.
Jesus levanta um pouco o véu do tempo
para nos fazer entrever o banquete eterno, anunciado pelos profetas. Lázaro é
conduzido pelos anjos a um lugar de honra, nesse banquete, enquanto o rico é
sepultado no inferno. Do lugar dos tormentos, o rico vê Lázaro e atreve-se a pedir,
por meio dele, um mínimo gesto de conforto (v. 24). Mas as opções desta vida
tornam definitiva e imutável a condição eterna (v. 26). Nem o milagre da
ressurreição de um morto, diz Jesus, aludindo a Si mesmo, podem sacudir um
coração endurecido que se recusa a escutar o que o Senhor permanentemente
ensina por meio das Escrituras (w. 27-31).
Meditatio
Hoje, tanto a primeira leitura como o
evangelho, com imagens muito simples mas pintadas a cores fortes, nos colocam
perante o facto de que é nesta vida que decidimos o nosso destino eterno, a
vida ou a morte, sem outras possibilidades. Aquele que, nesta vida, põe a sua
confiança nos meios humanos e nas coisas materiais e, sobretudo, aquele que se
afasta do Senhor, e organiza a própria existência independentemente de Deus, é
«metdlti». O apego a uma felicidade egoísta leva à cegueira, que não permite
ver para além do imediato, do material. Não permite ver a Deus, nem a
caducidade da nossa actual condição, como não permite ver as necessidades dos
pobres que jazem à nossa porta. Aquele que confia no Senhor, reconhecendo a sua
condição de criatura, dependente e amada por Ele, é «bendito», Leva no coração
uma semente de eternidade que florescerá em felicidade e paz eternas. Por outro
lado, a verdadeira confiança em Deus é sempre acompanhada pela solidariedade
com os pobres, com pobres que o são materialmente, com os que o são
espiritualmente, mas também com os doentes, com vítimas de contrariedades e
opressões de qualquer espécie. Tanto Jeremias como Jesus nos ensinam tudo isto,
não de modo abstracto, mas com imagens expressivas como a da árvore plantada no
deserto ou junto de um rio ou como o pobre Lázaro.
O pobre Lázaro caracteriza-se pelo
silêncio, tanto diante das provações da vida como diante da falta de atenção daqueles
de quem esperava ajuda. Não grita contra Deus nem contra os homens. Permanece
silencioso e paciente no seu sofrimento físico, psicológico e espiritual,
confiando em Deus. Finalmente surge a morte e tudo se transforma. Levado pelos
anjos para o seio de Abraão, continua em silêncio. No seu rosto, primeiro
sereno e confiante, e agora glorioso, transparece outro Rosto, o de Jesus, que
se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. Sendo de condição divina,
po
r nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina. Sendo rico fez-Se pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua riqueza.
r nosso amor, assumiu a condição humana, para que pudéssemos participar da sua condição divina. Sendo rico fez-Se pobre, homem pobre, para que todos pudéssemos participar da sua riqueza.
A nossa confiança em Deus leva-nos a
solidarizar-nos com o amor de Jesus por todos os homens, um "amor que salva".
Como Ele, queremos estar presentes e actuantes junto de todos os lázaros desta
humanidade de que somos parte. Queremos viver e actuar unidos "no seu amor
pelo Pai e pelos homens" (Cst 17), especialmente pelos
"pequenos" e pelos "pobres" (Cst 28), porque "Cristo
se identificou" com eles (Cst 28; cf. Mt 25, 40). Esta é a primeira, boa
nova (cf. lc 4, 19) porque os quer libertar da sua opressão, sofrimento,
pobreza. Porque os quer felizes, é para eles a primeira bem-aventurança:
"Bem-aventurados os pobres, porque deles é o Reino de Deus’ (Lc 6, 20) e o
Reino de Deus é, antes de mais, Jesus pequeno e pobre, que quer elevar todos
"os pequenos … os pobres" (Cst. 28) a "pobres em espíritd’ (Mt
5, 3), onde a pobreza nem sequer já é uma desgraça, onde, mais do que a
carência de bens materiais, é realçada a mansidão e a humildade de coração, a
confiança, o abandono à vontade de Deus, dando espaço a Jesus, para que viva a
Sua pobreza na nossa pobreza.
Oratio
Senhor Jesus, que sendo rico Te fizeste
pobre por nosso amor, para nos tornar participantes da tua riqueza, dá-nos um
coração de pobre que confie apenas em Ti e saiba ser solidário com todos os
lázaros desta pobre humanidade. Que jamais caiamos na tentação de cortar
relações com eles nesta vida terrena, para que possamos tê-Ias, com eles e
Contigo, na vida eterna.
Durante esta Quaresma, queremos
colocar-nos entre os pobres e pecadores, não para sermos coniventes e cúmplices
no pecado, mas para sentirmos verdadeira necessidade da tua graça, e
caminharmos para Ti certos de que seremos libertados das nossas culpas.
Confiamos em Ti, Senhor, jamais seremos confundidos. Amen.
Contemplatio
Quem vem? É o rico herdeiro de seu Pai,
que vem despojar-se para nos enriquecer. – «Vós sabeis, diz S. Paulo, qual é a
bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, se fez pobre por amor de
nós, para que nos tornássemos ricos pela sua pobreze» (2Cor 8).
Senhor, sou um pobre mendigo todo
coberto de úlceras, como este Lázaro que descrevestes no Evangelho (Lc 16).
Esperava à porta do mau rico e teria sido feliz por receber os restos ou as
migalhas do festim.
Mas eu sou mais feliz do que Lázaro,
porque me dirijo a um bom rico, a um rico, cujo Coração está repleto de
misericórdia e de generosidade. Vós sois este rico. Diante do tabernáculo,
estou à vossa porta. Não são apenas as migalhas que me dareis. Ofereceis-me
todo o tesouro dos vossos méritos. Despojastes-vos para me enriquecerdes, tudo
sacrificastes por mim. Desposastes a pobreza, a humildade, os desprezos, os
sofrimentos, para pagardes todas as minhas dívidas e para me enriquecerdes com
os vossos sacrifícios.
Que vos darei, Senhor, por esta infinita
bondade do vosso Coração? Irei ter convosco com toda a confiança, é o que pedis
de mim. Esperais-me para me cumulardes com os vossos benefícios (leão Dehon,
OSP 3, p. 647).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a
palavra: «Bendito o homem que confia no SENHOR,
que tem no SENHOR a sua esperança (Jer
17, 7).
Obrigado
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