1º DOMINGO DA QUARESMA 14/02/2016
1ª Leitura Deuteronômio 26, 4-10
Salmo 90 (91), 15 b “Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória”
2ª Leitura Romanos 10, 8-13
Evangelho Lucas 4, 1-13
AS TENTAÇÕES DE CRISTO
Em certa
ocasião ganhei de um amigo um par de pneus especiais para colocar no meu
carro,, que segundo ele, eram ótimos para rodar no meio da lama e em estradas
de terra de pista irregular, sendo que meu amigo garantiu-me ainda que não
havia obstáculo que os mesmos não ultrapassassem, porque eram feitos com
borracha especial e que tinham uma alta resistência. Confesso que nunca soube
ao certo se todos esses atributos dos pneus era mesmo verdade, simplesmente
porque jamais passei com eles por terrenos ou estradas com essas
características. Da mesma forma, a nossa fé só se pode mostrar verdadeira e
autêntica em sua fidelidade, se for comprovada diante das tentações.
Poderíamos
ainda como exemplo, citar o caso de uma pessoa que está fazendo regime e
assegura a todos que já aprendeu a se controlar em relação aos alimentos,
porém, não pode passar diante de uma padaria que acabará não resistindo aos
doces e guloseimas expostas no balcão e deverá, para o seu bem, manter-se longe
das “tentações”. Na vida do cristão isso não pode acontecer. Jesus Cristo não
fugiu das tentações, mas as enfrentou com coragem, confirmando assim sua total
fidelidade ao Projeto do Pai.
Quando
temos medo de frequentar “certos ambientes” ou estar na companhia de certas
pessoas de má fama, estamos manifestando o desejo de correr das tentações
porque no fundo, achamos que talvez o mal presente nelas, tenha mais força do
que a graça de Deus que trazemos conosco. Se Jesus pensasse dessa forma, com
certeza não teria frequentado a casa dos pecadores e nem andado com mulheres
como Maria Madalena, e nem chamado para o seu grupo pessoas como Mateus,
cobrador de impostos.
Na
primeira tentação, o diabo tenta convencer Jesus a tirar vantagem da sua
condição divina “Olha, deixa de ser bobo e use o seu poder divino transformando
essas pedras em pães para saciar a sua fome”. Usar o poder que algum cargo nos
confere, na vida pública, na vida profissional e até mesmo na comunidade, para
beneficiar-se a si próprio, como Jesus, teremos de saber resistir a essa
tentação que é muito forte, pois se ele tivesse caído na lábia do tentador, não
seria realmente um homem, mas teria apenas a aparência humana e seu sofrimento
seria uma grande farsa.
Na segunda
tentação está outro grande perigo: ter poder para dominar a tudo e a todos, ser
influente e importante e fazer com que as pessoas venham todas “comer na palma
da nossa mão”, como costuma se dizer para mostrar a nossa superioridade. Ser o
dono da vida das pessoas, mandar e desmandar, o diabo ofereceu todos os reinos
do mundo a Jesus, isso significa dizer que toda a humanidade estaria submetida
a ele, e nesse caso o seu reino seria imposto e os homens não teriam escolha,
seria obrigados a aceitá-lo. Prostrando-se aos pés do diabo, Jesus estaria
aceitando fazer o seu “jogo”, usando o seu método diabólico. Contrariando a
proposta sedutora do diabo, Jesus irá prostrar-se não a seus pés, mas aos pés
dos discípulos, colocando em lugar do Poder o Servir. Precisamos tomar muito
cuidado para que na comunidade não sejamos surpreendidos cedendo a esta
tentação.
E
finalmente a terceira tentação: exigir de Deus uma prova do seu amor para
conosco isso é, “poderei me jogar do vigésimo andar de um prédio, que nada irá
me acontecer porque Deus não irá permitir”, foi esse verbo que o apóstolo Pedro
empregou, quando tentou convencer Jesus a fugir do seu destino – Deus não
permita tal coisa, Senhor. Isso é tentar a Deus e colocá-lo á prova! Nos
momentos mais difíceis de sua vida Jesus nunca duvidou do amor do Pai, nem
mesmo quando estava na cruz do calvário, experimentando o fracasso aos olhos
dos seus aos quais tanto amou.
As tentações de Jesus resumem bem, todas as
tentações que enfrentamos nessa vida, sendo ocasiões oportunas para provar a
nossa fidelidade ao projeto de Deus e a nossa capacidade de usarmos com
sabedoria a liberdade que o próprio Deus nos concedeu. É assim que devemos
buscá-lo nesta quaresma, através do jejum, da oração e da esmola, que nos
ajudará no processo de conversão aproveitando ao máximo todos os momentos que a
vida nos oferece, porque como vimos na liturgia da quarta feira de cinzas, este
é o tempo favorável em que o Senhor se deixa encontrar. Importante também
lembrar que as tentações evoluem, quanto mais resistência e força tivermos,
mais forte ela irá voltar, o diabo sempre acha que no segundo embate ele levará
vantagem. O texto afirma que o tentador deixou Jesus para voltar em outro
tempo, que viria a ser na cruz do calvário onde se consolidou a vitória da
Cruz, sinal da Fidelidade de Jesus ao Pai. Portanto, não descuidemos da
retaguarda!
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