Vende tudo o que tens e segue-me!
Neste Evangelho, Jesus nos ensina que a pobreza voluntária é necessária
para entrar no Reino de Deus. O Evangelho tem três partes:
1ª) Um homem rico quer seguir a Jesus, mas Jesus coloca como condição
que ele venda todos os seus bens e dê aos pobres. Claro que pode acontecer que
os próprios pobres digam ao homem: “Está bem, seus bens agora são nossos. Mas
nós lhe pedimos que os administre para nós”. Assim, o homem deixa de ser rico e
se torna administrador de bens que não são dele. Muitos e muitas hoje fazem
isso e continuam aparentemente donos dos bens que antes possuíam.
2ª) Jesus instrui os discípulos sobre a questão da riqueza. Ela é tão
arraigada na pessoa rica, que é mais fácil um camelo (animal) passar pelo
buraquinho de uma agulha (dessas agulhas normais, com as quais as costureiras
remendam roupa). Quer dizer: é impossível. Mas para Deus tudo é possível. O que
Jesus não aceita é segui-lo pela metade.
3ª) A recompensa de Deus para quem se desprende dos bens materiais por
amor a Cristo é generosa: A pessoa ganha cem vezes mais tudo o que renunciou.
O Evangelho começa dizendo que Jesus saiu a caminhar. Ele estava sempre
caminhando, indo atrás das ovelhas. Não ficava parado, esperando que elas o
procurassem.
Quando o homem rico de aproximou, “Jesus olhou para ele com amor”. Jesus
sempre nos olha com amor. Entretanto, se alguém quer segui-lo, aí ele é
exigente e, antes que a pessoa dê o primeiro passo, Jesus já coloca a condição
mais importante: renunciar ao outro “deus” que são os bens materiais. Isso
porque não podemos levar uma vida dupla, servindo a dois senhores (Cf Lc
16,13).
O amor é por si mesmo totalizante. Os namorados, por exemplo, não
aceitam que seu parceiro ou parceira divida o amor com outra pessoa.
O Evangelho diz que o homem “foi embora cheio de tristeza, porque era
muito rico”. A riqueza trás uma felicidade ilusória, que leva sempre à
tristeza.
Não é Deus que fecha a porta do Céu ao rico; é ele que não quer entrar.
A felicidade ilusória e o apego levam o rico até a matar pessoas por causa de
alguns centavos. Ele se torna tão auto-suficiente, que pensa não precisar nem
de Deus.
A riqueza tira o gosto pelas coisas de Deus, cega os olhos, ensurdece os
ouvidos e torna o coração duro como pedra. “Onde estiver o teu tesouro, aí
estará também o teu coração” (Mt 6,21). O rico passa inevitavelmente da posse
de bens para a posse de pessoas. Ser dono de bens pode, mas ser dono de pessoas
Deus não aceita!
Muitos acham que a questão do uso dos bens materiais não faz parte da
vida cristã. Mas faz sim, e de cheio. Todas as vezes que Jesus falou do juízo
final, ele colocou como ponto central do julgamento a partilha dos nossos bens
materiais com os necessitados.
“Enquanto houver um pobre em vosso meio, a vossa Missa foi mal rezada”
(Um santo padre da Igreja primitiva). Mais do que pobres, eles são
empobrecidos, isto é, a sociedade é que os fez pobres. “Os pobres não precisam
de esmola, precisam de justiça” (Madre Teresa de Calcutá).
“... e terás um tesouro no Céu.” Seguir a Jesus integralmente é o melhor
tesouro que podemos adquirir. É uma riqueza que “a traça não corrói e o ladrão
não rouba”. O resto é tudo vaidade. “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Ecl
12,8), exceto amar a Deus e só a ele servir. “Tudo para mim é lixo, exceto o
seguimento de Jesus Cristo” (S. Paulo). “Buscai os bens do alto...” (S. Paulo).
Havia, certa vez, um sitiante que tinha em seu sítio dois cavalos. De
longe, pareciam cavalos normais, mas, quando se olhava bem, percebia-se que um
deles era cego. Contudo, o dono não se desfez dele e arrumou-lhe um
companheiro, um cavalo mais jovem.
Quando alguém fica observando, logo ouve o barulho de um sino que está
amarrado no pescoço do cavalo mais novo. Assim, o cavalo cego sabe onde está
seu companheiro e vai até ele. Ambos passam o dia comendo e no fim do dia o
cavalo cego segue o companheiro até o estábulo.
Quem observa, logo percebe que o cavalo que tem o sino está sempre
olhando se o outro o acompanha. Às vezes para à esperá-lo. E o cavalo cego guia-se
pelo som do sino, confiante que o outro o está levando para o caminho certo.
Como colocou no instinto dos animais, Deus não se desfaz de nós, quando
temos alguma deficiência ou limitação. A pobreza é uma limitação, e Deus quer
amparar os pobres, através daqueles que têm um pouquinho mais de recursos, que
somos nós.
O Anjo Gabriel saudou Maria Santíssima com a expressão “cheia de graça”.
Esta é a sua riqueza. Que ela nos ajude a ter a coragem de renunciar a tudo, a
fim de ganhar as riquezas do céu.
Vende tudo o que tens e segue-me!
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