Coment.Prof.Fernando (*)
FINADOS e TODOS OS SANTOS (2 e 4 novembro2012)
domingo 04 novembro de 2012:“de
todas as nações, tribos, povos e
línguas”
(Ap 7,2-4.9-14 Sl 24
1Jo 3,1-3 Mt 5,1-12)
[Dia
de Finados e Dia de todos os santos são datas tradicionais na Europa
(católicos) e no
Calendário Ecumênico adotado pela maioria das
igrejas protestantes. No Brasil, católicos têm o Todos os Santos transferido para o domingo seguinte (seria
31ºT.Comum- 23º pósPent).
UM POUCO DE HISTORIA E outras ESTÓRIAS
Na morte de alguém
importante ou pessoa querida pelo povo logo surgem em frente à sua casa (ou
lugar onde morreu) centenas de flores, fotos, mensagens, luzes de velas acesas,
etc. Aconteceu na morte da princesa Diane, a figura mais popular na família
real inglesa como acontece com cantores famosos. Da mesma forma, no Rio de
Janeiro em 2011, muitos foram enfeitar os muros da escola onde crianças foram
assassinadas.
Primeiros séculos: Mártires, respeito e admiração
O mesmo faziam os
primeiros cristãos. Durante a perseguição no império romano homenageavam seus
mártires (=testemunhas da fé até a morte porque se recusavam a reconhecer
divindade do imperador e prestar culto aos deuses). Onde viveram ou onde foram
assassinados, ou sepultados, tornava-se lugar de homenagens, vigílias, orações
e inscrições. Mais tarde ali às vezes se construíam capelas ou igrejas em sua
memória.
Séc. 4º
Uma data anual era
escolhida – em geral a data do martírio – para recordar o mártir. Depois do
imperador Diocleciano o número ficou tão grande que faziam memória de grupos
inteiros num só dia do calendário: no século IV em Antioquia foi escolhido o
domingo após Pentecostes, tradição até hoje conservada nas igrejas Orientais
(Ortodoxas). Aos poucos veio o costume de homenagear também pessoas que, mesmo
sem ter sido mártires, eram muito respeitadas por uma vida cristã
extraordinária.
Séc. 7º e 8º
Ao longo da história,
expressões de respeito ou inseridas na liturgia ou práticas religiosas
conviveram lado a lado com sincretismos e às vezes se misturavam a costumes
pagãos. Nas igrejas, as autoridades preocupavam-se em “converter” costumes
antigos em festas cristãs. A festa de Natal em 25 de dezembro substituiu outra
festa pagã. No início do séc. VII um papa destinou o Pánteon (templo dedicado a
todos os deuses – existe até hoje em Roma) para lugar de homenagem a todos os
mártires. Outro papa no séc.VIII também
erigiu uma capela em Roma em honra de todos os santos e fixou a festa: 1º de
novembro. Parece que sua intenção era aproveitar a festa que os cristãos da
Inglaterra criaram para “cristianizar” um tradicional festival folclórico,
muito popular entre os povos celtas. Esse marcava o 31 de outubro como fim do
verão e início de novo ano. Na tradição celta acreditava-se que os mortos
voltavam para visitar parentes e procurar comida. Há quem veja aí a origem do Halloween (31de out.) – popular festa
americana que, aliás, a Mídia se encarregou de introduzir no Brasil com suas
lendas de bruxas e monstros...
Santos e finados – do séc. 5º ao 10º – sécs. 11 e 16
Só no séc. V no
catolicismo romano criaram-se os processos da chamada “canonização” (reconhecimento
oficial das pessoas consideradas “santas” pelo exemplo de fé, amor a Deus e ao próximo. No séc. X, o Dia de Finados começou no mosteiro
de Cluny – França. No ano 1054 a imagem histórica da única e indivisa igreja de
Cristo foi quebrada pelo grande Cisma: a separação Oriente-Ocidente (novos
nomes: Ortodoxos e Católicos). Cinco séculos depois a devoção aos santos também
contribuiu para a outra separação: Católicos e Reformados (que criticavam as indulgências
(=modos de “abreviar” as penas dos mortos num Purgatório e a proliferação de devoções
aos santos, relíquias, etc. Os Reformadores interpretavam “pedir a intercessão”
dos santos como contraditório com a fé no único Mediador e sua graça. À discussão
teológica seguiram-se fatos políticos que precipitou o apoio de vários
Príncipes contra o poder de Roma. De todo modo a Reforma criticava os escândalos
de “venda” de indulgências, a quantidade de devoções e crenças populares e seu
sincretismo e seu comércio de “relíquias” (=ossos ou objetos que teriam
pertencido a santos). Várias questões teológicas, disciplinares e políticas produziram
a Reforma.
CONCLUSÕES
1) De certa forma Finados serviu para substituir lendas sobre
mortos e espíritos vagueantes e Todos os
santos para compensar o patrocínio dos deuses da mitologia (havia deuses do
amor, da guerra, etc. e patronos de profissões e atividades). No Brasil houve um
sincretismo original entre santos (catolicismo) e os Orixás (religiões dos
escravos africanos). A mistura religiosa e cultural levou ao intercâmbio de
“funções” atribuídas a santos e orixás, havendo também permuta dos nomes. No
México até hoje a mais importante festa popular é o “Dia dos Mortos”. Era uma crença
antiga, anterior à chegada dos espanhóis que alteraram as datas na esperança de
poder “converter” os povos nativos à cultura européia. As festas foram
transferidas para 1 e 2 de novembro, datas mais “cristãs”. O sincretismo
continua até hoje no Dia dos Mortos mexicano...
2) Finados e Todos
os Santos estão no calendário das igrejas cristãs, embora celebrados
com ritos e interpretações diferentes. Não é este o lugar de aprofundar as
questões do Purgatório e o conceito
de intercessão dos santos ou oração pelos falecidos..Vale a pena meditar na reflexão teológica (que traz uma revisão
desses conceitos) da parte final de uma carta de Bento XVI (Spe Salvi, de 2007,n41-48). É lamentável que
revistas e sites (tanto católicos como outros) preferem acusar os outros e suas
tradições diferentes. Sem reflexão teológica, não vão além da repetição de “doutrinas”
(as próprias são verdadeiras, as outras, falsas). Divulga-se muito “jornalismo
teológico” e poucos estudos teológicos, como o acima citado. Também vale a pena
conhecer o famoso texto sobre a oração de intercessão, escrito por um mártir de
nosso tempo: o teólogo e Pastor luterano Dietrich Bonhoeffer que, resistindo a
Hitler, acabou condenado à morte.
3)
Independentemente das tradições cristãs, que são diversas
(em suas histórias e interpretações), voltemos à Palavra que é comum a todas as confissões. Lemos no Apocalipse
sobre uma multidão imensa de gente de
todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar (...)
Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Eles
são “todos os santos”, figuras para nós da esperança, do amor e da fé no único
Redentor, o “Cordeiro”. Nele temos a “comunhão dos santos”, conforme
professamos no Credo.
4)
A morte continua a ser um mistério tão grande quanto o
mistério da vida, da qual, aliás, faz parte. Os mortos não podem ser
representados como zumbis de cinema. Cemitério não é um lugar de bruxas e
“almas penadas”. Os objetos de medo, se “exteriorizados” na tela ou nos livros,
ajudam as crianças a superar os próprios medos interiores. Não se vai ao
cemitério no Finados para “oferecer”
flores aos mortos, que delas não precisam, mas enfeitamos o lugar, símbolo de seu
repouso e sua paz. Somos nós que temos saudades, recordamos com carinho nossos
mortos e a falta que nos fazem. Finados serve,
enfim, para reavivar em nós a única
esperança que temos, conforme as palavras de Jó, de Paulo e do próprio
Mestre:
·
Eu
sei que o meu redentor está vivo, e que se levantará sobre o pó; e mesmo
destruída esta minha pele, é na minha
carne que verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não
os olhos de outros".(livro de Jó 19, 23-27)
·
Se morremos com Cristo cremos que também viveremos com ele. Sabemos que
Cristo ressuscitado dos mortos não morre
mais;:a morte não mais poder (Rm6,8)
·
Esta
é a vontade daquele que me enviou: que
eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. (Jo 6,37-40).
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
http://homiliadominical2.blogspot.com.br
(*) Prof.(USU-Rio) com mestrado (educação, teologia e teologia
moral)
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