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terça-feira, 30 de outubro de 2012

FINADOS e TODOS OS SANTOS - Prof. Fernando


Coment.Prof.Fernando (*)
FINADOS e TODOS OS SANTOS (2 e 4 novembro2012)
domingo 04 novembro de 2012:“de todas as nações, tribos, povos e línguas”
(Ap 7,2-4.9-14  Sl 24  1Jo 3,1-3  Mt 5,1-12)
[Dia de Finados e Dia de todos os santos são datas tradicionais na Europa (católicos) e no
 Calendário Ecumênico adotado pela maioria das igrejas protestantes. No Brasil, católicos têm o Todos os Santos transferido para o domingo seguinte (seria 31ºT.Comum- 23º pósPent).


UM POUCO DE HISTORIA E outras ESTÓRIAS

Na morte de alguém importante ou pessoa querida pelo povo logo surgem em frente à sua casa (ou lugar onde morreu) centenas de flores, fotos, mensagens, luzes de velas acesas, etc. Aconteceu na morte da princesa Diane, a figura mais popular na família real inglesa como acontece com cantores famosos. Da mesma forma, no Rio de Janeiro em 2011, muitos foram enfeitar os muros da escola onde crianças foram assassinadas.
Primeiros séculos: Mártires, respeito e admiração
O mesmo faziam os primeiros cristãos. Durante a perseguição no império romano homenageavam seus mártires (=testemunhas da fé até a morte porque se recusavam a reconhecer divindade do imperador e prestar culto aos deuses). Onde viveram ou onde foram assassinados, ou sepultados, tornava-se lugar de homenagens, vigílias, orações e inscrições. Mais tarde ali às vezes se construíam capelas ou igrejas em sua memória.
Séc. 4º
Uma data anual era escolhida – em geral a data do martírio – para recordar o mártir. Depois do imperador Diocleciano o número ficou tão grande que faziam memória de grupos inteiros num só dia do calendário: no século IV em Antioquia foi escolhido o domingo após Pentecostes, tradição até hoje conservada nas igrejas Orientais (Ortodoxas). Aos poucos veio o costume de homenagear também pessoas que, mesmo sem ter sido mártires, eram muito respeitadas por uma vida cristã extraordinária.
Séc. 7º e 8º
Ao longo da história, expressões de respeito ou inseridas na liturgia ou práticas religiosas conviveram lado a lado com sincretismos e às vezes se misturavam a costumes pagãos. Nas igrejas, as autoridades preocupavam-se em “converter” costumes antigos em festas cristãs. A festa de Natal em 25 de dezembro substituiu outra festa pagã. No início do séc. VII um papa destinou o Pánteon (templo dedicado a todos os deuses – existe até hoje em Roma) para lugar de homenagem a todos os mártires. Outro papa no  séc.VIII também erigiu uma capela em Roma em honra de todos os santos e fixou a festa: 1º de novembro. Parece que sua intenção era aproveitar a festa que os cristãos da Inglaterra criaram para “cristianizar” um tradicional festival folclórico, muito popular entre os povos celtas. Esse marcava o 31 de outubro como fim do verão e início de novo ano. Na tradição celta acreditava-se que os mortos voltavam para visitar parentes e procurar comida. Há quem veja aí a origem do Halloween (31de out.) – popular festa americana que, aliás, a Mídia se encarregou de introduzir no Brasil com suas lendas de bruxas e monstros...
Santos e finados – do séc. 5º ao 10º – sécs. 11 e 16
Só no séc. V no catolicismo romano criaram-se os processos da chamada “canonização” (reconhecimento oficial das pessoas consideradas “santas” pelo exemplo de fé, amor a Deus e ao próximo.  No séc. X, o Dia de Finados começou no mosteiro de Cluny – França. No ano 1054 a imagem histórica da única e indivisa igreja de Cristo foi quebrada pelo grande Cisma: a separação Oriente-Ocidente (novos nomes: Ortodoxos e Católicos). Cinco séculos depois a devoção aos santos também contribuiu para a outra separação: Católicos e Reformados (que criticavam as indulgências (=modos de “abreviar” as penas dos mortos num Purgatório e a proliferação de devoções aos santos, relíquias, etc. Os Reformadores interpretavam “pedir a intercessão” dos santos como contraditório com a fé no único Mediador e sua graça. À discussão teológica seguiram-se fatos políticos que precipitou o apoio de vários Príncipes contra o poder de Roma. De todo modo a Reforma criticava os escândalos de “venda” de indulgências, a quantidade de devoções e crenças populares e seu sincretismo e seu comércio de “relíquias” (=ossos ou objetos que teriam pertencido a santos). Várias questões teológicas, disciplinares e políticas produziram a Reforma.

CONCLUSÕES

1)    De certa forma Finados serviu para substituir lendas sobre mortos e espíritos vagueantes e Todos os santos para compensar o patrocínio dos deuses da mitologia (havia deuses do amor, da guerra, etc. e patronos de profissões e atividades). No Brasil houve um sincretismo original entre santos (catolicismo) e os Orixás (religiões dos escravos africanos). A mistura religiosa e cultural levou ao intercâmbio de “funções” atribuídas a santos e orixás, havendo também permuta dos nomes. No México até hoje a mais importante festa popular é o “Dia dos Mortos”. Era uma crença antiga, anterior à chegada dos espanhóis que alteraram as datas na esperança de poder “converter” os povos nativos à cultura européia. As festas foram transferidas para 1 e 2 de novembro, datas mais “cristãs”. O sincretismo continua até hoje no Dia dos Mortos mexicano...
2)    Finados e Todos os Santos estão no calendário das igrejas cristãs, embora celebrados com ritos e interpretações diferentes. Não é este o lugar de aprofundar as questões do Purgatório e o conceito de intercessão dos santos ou oração pelos falecidos..Vale a pena meditar na reflexão teológica (que traz uma revisão desses conceitos) da parte final de uma carta de Bento XVI (Spe Salvi, de 2007,n41-48). É lamentável que revistas e sites (tanto católicos como outros) preferem acusar os outros e suas tradições diferentes. Sem reflexão teológica, não vão além da repetição de “doutrinas” (as próprias são verdadeiras, as outras, falsas). Divulga-se muito “jornalismo teológico” e poucos estudos teológicos, como o acima citado. Também vale a pena conhecer o famoso texto sobre a oração de intercessão, escrito por um mártir de nosso tempo: o teólogo e Pastor luterano Dietrich Bonhoeffer que, resistindo a Hitler, acabou condenado à morte.
3)    Independentemente das tradições cristãs, que são diversas (em suas histórias e interpretações), voltemos à Palavra que é comum a todas as confissões. Lemos no Apocalipse sobre uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar (...) Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Eles são “todos os santos”, figuras para nós da esperança, do amor e da fé no único Redentor, o “Cordeiro”. Nele temos a “comunhão dos santos”, conforme professamos no Credo.
4)    A morte continua a ser um mistério tão grande quanto o mistério da vida, da qual, aliás, faz parte. Os mortos não podem ser representados como zumbis de cinema. Cemitério não é um lugar de bruxas e “almas penadas”. Os objetos de medo, se “exteriorizados” na tela ou nos livros, ajudam as crianças a superar os próprios medos interiores. Não se vai ao cemitério no Finados para “oferecer” flores aos mortos, que delas não precisam, mas enfeitamos o lugar, símbolo de seu repouso e sua paz. Somos nós que temos saudades, recordamos com carinho nossos mortos e a falta que nos fazem. Finados serve, enfim, para reavivar em nós a única esperança que temos, conforme as palavras de Jó, de Paulo e do próprio Mestre:
·                Eu sei que o meu redentor está vivo, e que se levantará sobre o pó; e mesmo destruída esta minha pele, é na minha carne que verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros".(livro de Jó 19, 23-27)
·                 Se morremos com Cristo cremos que também viveremos com ele. Sabemos que Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais;:a morte não mais poder (Rm6,8)
·                Esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. (Jo 6,37-40).

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http://homiliadominical2.blogspot.com.br  (*) Prof.(USU-Rio) com mestrado (educação, teologia e teologia moral)

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