Sexta-feira, 02 de Novembro
Mt 25,31-46
Comeram e ficaram satisfeitos.
Este Evangelho narra a cena da multiplicação dos
pães, feita por Jesus. “Jesus chamou os discípulos e disse: “Tenho compaixão
dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para
comer”. Deus é amor, e Jesus “é a imagem de Deus invisível” (Cl 1,15). Esse
amor, diante do faminto, se transforma em compaixão, uma compaixão ativa e não
apenas sentimental, que assim muda de nome para misericórdia. Como Deus tem
poder infinito, ele resolve o problema, mesmo que os famintos sejam quatro mil
pessoas.
A misericórdia é um sentimento que nasce do coração
e tem por objeto as misérias alheias (miseri+cor), corporais ou espirituais, de
tal modo que elas nos doem e entristecem como se fossem nossas, levando-nos a
empregar os meios oportunos para aliviá-las.
Nós aprendemos no catecismo que existem catorze
obras de misericórdia, sete corporais e sete espirituais. As corporais são: 1)
Dar de comer a quem tem fome. 2) Dar de beber a quem tem sede. 3) Vestir os
nus. 4) Dar pousada aos peregrinos. 5) Visitar os enfermos e encarcerados. 6)
Remis os cativos. 7) Sepultar os mortos. Elas são um resumo de Mt 25,31-46, que
nos trás o discurso de Jesus sobre o juízo final.
As obras de misericórdia espirituais são: 1) Dar
bom conselho (Cl 3,16). 2) Ensinar os ignorantes (Hb 5,12-13). 3) Corrigir os
que erram (Mt 18,16-17). 4) Consolar os aflitos (1Ts 5,11). 5) Perdoar as
ofensas (Mt 18,21-22). 6) Suportar com paciência as fraquezas do próximo (Cl
3,13). 7) Rogar a Deus pelos vivos (1Ts 5,25; 2Ts 3,1; Tg 5,16) e pelos
defuntos (2Mc 12,45).
Esta cena do Evangelho, da multiplicação dos pães,
nos recorda o maná, com o qual Deus alimentou o seu povo no deserto (Cr Ex 16),
e também é figura da Eucaristia, o pão vindo do céu que dá vida ao mundo.
Na multiplicação dos pães, Jesus se manifesta como
o Bom Pastor, que dá a vida por suas ovelhas. Hoje, como outrora, esse Bom
Pastor continua nos socorrendo, material ou espiritualmente, com seu amor
infinito.
A crise de amor, pela qual o mundo passa, tem muito
a ver com a crise de fé, porque a fé cristã é acreditar em Deus que é o Amor.
“Todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4,7). “Quem exclui
Deus de seu horizonte, falsifica o conceito de realidade e só pode terminar em
caminhos equivocados e com receitas destrutivas” (DA 44).
“Os discípulos disseram: Como poderia alguém
saciá-los de pão aqui neste deserto?” Para o homem sozinho é impossível, mas
com Deus é possível. A cena nos ensina a nunca perder a esperança, mas
apresentar a Deus o pouco que temos. O número sete é simbólico, significa que
não tinham pão suficiente.
“Jesus mandou que a multidão se sentasse.” Para que
todos tenham o que comer, é necessária a organização. Povo unido jamais será
vencido. Já o povo desorganizado chama-se massa, e a massa é fácil de ser
manipulada. O povo organizado torna-se força. A mídia impede que o povo se
organize; ela quer fazer do povo uma massa consumista.
Se nos organizarmos, com fé, esperança e caridade,
cada um repartindo o pouquinho que pode oferecer, com certeza ninguém passará
fome. Todos ficarão saciados e ainda sobrará alimento.
As Comunidades cristãs são o meio que Jesus deixou
para que isso aconteça.
Jesus “pegou os sete pães e deu graças.” Rezou
segurando os pães. A nossa oração deve ser prática, apresentado já a Deus o
pouco que podemos colaborar da nossa parte. “Deu graças”. Nós começamos pelo
agradecimento, pois sabemos que Deus nunca falha. Nós, com Deus, somos maioria
absoluta.
Junto com Jesus, ninguém passa fome. “Oh! Todos que
estais com sede, vinde buscar água! Quem não tem dinheiro, venha também. Vinde
comprar, para comer, vinho e mel, sem pagar!” (Is 55,1).
“Subindo logo na barca com seus discípulos, Jesus
foi para a região de Dalmanuta.” Foi para um lugar onde ninguém o conhecia e
não sabia dos seus milagres. Após um trabalho intenso, precisamos nos retirar,
para o descanso e para nos encontrarmos como Comunidade.
Certa vez, um doente estava no hospital sofrendo
muito por não conseguir dormir. Quase a cada minuto vinha uma enfermeira,
entravam médicos, davam sedativos... nada.
Um amigo dele veio visitá-lo. Enquanto estava no
quarto, percebeu que a porta rangia, fazendo barulho nas duas dobradiças, cada
vez que entrava ou saía alguém.
Após conversar com o amigo, voltou a sua casa,
pegou uma bisnaga de óleo fino, veio e passou nas dobradiças da porta. Pronto,
a porta parou de rangir e o doente voltou a dormir normalmente. Era o barulho
da porta que não o deixava dormir, e ninguém tinha percebido.
O visitante tinha dois caminhos: reclamar com as
enfermeiras ou ele mesmo passar o óleo. Ele optou pelo segundo. É melhor
acendeu um fósforo que maldizer a escuridão. Graças a sua sensibilidade, aquele
visitante fez uma coisa pequena, mas de grande importância para ajudar o seu
amigo doente.
A mãe é que prepara e serve a comida, todos os
dias, em casa. Maria Santíssima tem o mesmo cuidado junto a seus filhos e
filhas, que formam a Família de Deus. Santa Maria, ajude-nos a rezar com fé e
apresentar sempre a Deus a nossa parcela, por pequena que seja!
Comeram e ficaram satisfeitos.
Padre Queiroz
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