Dia 12 de setembro
Neste Evangelho,
Jesus proclama as bem-aventuranças, na versão de Lucas. Primeiro ele
“levantando os olhos para os seus discípulos”. Sinal que as bem-aventuranças
acontecem especialmente com os discípulos.
As
bem-aventuranças são Evangelho, alegre notícia dirigida aos pobres de Deus.
Elas vêm confirmar a transformação social anunciada no magnificat.
De fato, os pobres
são os preferidos de Deus em toda a revelação bíblica, e são os primeiros
destinatários da Boa Nova trazida por Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt 5,1-12 traz
oito bem-aventuranças. Lucas traz apenas quatro, mas acrescenta quatro ameaças:
“Ai de vós...” Essas ameaças esclarecem o sentido das bem-aventuranças, tanto
de Mateus como de Lucas. Porque muitos, ao explicar esta passagem bíblica,
dizem que a palavra “pobre”, para Jesus, significa “desapegado”; e “rico”
significa “ganancioso”. Na prática, isso é torcer a Bíblia para que ela não me
questione. Pobre aqui é pobre mesmo, e rico e rico mesmo.
A felicidade
messiânica dos pobres, dos famintos, dos que choram e dos perseguidos por causa
da fé cristã comprometida, contrapõe-se à situação perigosa dos ricos, dos que
têm fartura, dos que riem e dos que são aplaudidos por todos.
As
Bem-aventuranças são um caminho de felicidade diametralmente oposto ao
apresentado pelo mundo pecador. Os cristãos são felizes exatamente naquelas
situações que, segundo o mundo, trazem a infelicidade. Veja o contraste: para o
cristão, felizes os pobres; para o mundo, felizes os ricos. Para o cristão,
felizes os que agora choram; para o mundo, felizes os que agora riem... Por aí
vemos que dois milênios se passaram e a humanidade ainda não entendeu nem vive
o Evangelho de Jesus.
As
Bem-aventuranças estão baseadas em duas grandes verdades: 1) A vida cristã
autêntica, devido à oposição do mundo pecador, leva à pobreza, à aflição etc.
2) Deus assiste os seus filhos e filhas queridos, a ponto de inverter a
situação, transformando em felicidade o que seria infelicidade, em alegria o
que seria tristeza. Portanto, a felicidade dos cristãos não está nesses
tropeços (pobreza, perseguição...), mas na intervenção de Deus em favor dos
seus filhos queridos.
“Vede que grande
presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos.
Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1Jo 3,1-3).
(Irmãos), os que
tiram proveito deste mundo, (vivam) como se não aproveitassem. Pois a figura
deste mundo passa” (1Cor 7,31).
Ao contrário dos
dez mandamentos, as bem-aventuranças não são leis, nem mandamentos, nem sequer
conselhos. São simplesmente a constatação e a descrição de um fato que acontece
todos os dias em nossas Comunidades e em nossas famílias. A vida cristã no meio
do mundo pecador gera tristezas, que Deus, em seu poder, transforma em
alegrias.
Jesus não está
também dizendo que ser pobre e ser odiado é bom. Nem que esses tropeços da
nossa vida são valores. Também não quis dizer que a felicidade está em ser
pobre, ser insultado etc. A felicidade está em ser filho de Deus.
Portanto, não
devemos procurar esses infortúnios (pobreza, ser odiado, insultado...). O que
devemos é ter paz em meio a todos esses contra tempos, vendo neles um sinal de
predileção de Deus e um sinal de que estamos no caminho certo, no seguimento do
Evangelho.
As
Bem-aventuranças são uma realidade que vemos todos os dias estampada no rosto
das Comunidades cristãs. Os cristãos enfrentam as maiores dificuldades, até o
martírio e, em meio a tudo isso, trazem no rosto um sorriso que ninguém
consegue imitar, e que é identificado até numa fotografia.
S. Francisco de
Assis, no final de sua vida, vivia angustiado com a seguinte pergunta: “Será
que Deus está contente comigo, com o que eu fiz?” Em suas orações ele pedia
todos os dias a Deus: “Senhor, dê-me um sinal, mostrando se tudo o que eu fiz
foi ou não do seu agrado!” De fato, o único desejo de Francisco era agradar a
Deus.
Numa noite, quando
ele acordou, percebeu que estava com as chagas. Parou a angústia, porque ele
viu nas chagas um sinal de amor de Deus por ele, unindo-o com o seu Filho
amado, Jesus Cristo. E daí para frente Francisco ria até às orelhas.
E foram cinco
feridas dolorosas: uma em cada mão, uma em cada pé, e uma no peito. Elas deram
trabalho para Francisco. Ele tinha de fazer curativos e um longo tratamento.
Inclusive, elas limitaram um pouco as suas atividades.
Que paradoxo, não?
Ver como presente de Deus e como sinal do seu amor, cinco dolorosas feridas!
Encontrar a felicidade em chagas! E isso que Deus fez com Francisco, faz também
conosco. Nós não procuramos a cruz, mas, quando ela vem, justamente pelo fato
de estarmos seguindo a Jesus, nós a vemos como um presente de Deus. A festa de
S. Francisco das Chagas é dia dezessete de setembro. “Bem-aventurados vós que
agora chorais, porque havereis de rir!”
Existe uma
Bem-aventurança que não está, nem neste texto de Lucas nem no capítulo quinto
de Mateus. Ela está em Lc 1,45, foi dita por Isabel e se refere à Mãe de Jesus:
“Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do
Senhor será cumprido”. Que Maria nos ensine a amar e viver as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados
vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.
Padre Queiroz
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