Aos surdos faz ouvir e aos mudos
falar.
Este Evangelho trás para nós a
belíssima cena de Jesus curando o homem surdo e que falava com dificuldade.
O texto começa dizendo: “Jesus saiu
de novo...” Jesus caminhava, ia atrás do povo, não ficava parado. Ele não
ficava esperando que as pessoas fossem até ele. O amor nos dá esse dinamismo.
Como é importante nós também aproveitarmos a nossa saúde e tempo disponível
para nos movimentarmos, indo até as pessoas que precisam da Água Viva, da Boa
Nova de Cristo!
Quando Jesus atravessava uma região,
trouxeram-lhe “um homem surdo, que falava com dificuldade”. Geralmente os
surdos têm deficiência na conversa, porque a nossa fala depende da audição.
Na área espiritual é a mesma coisa:
as pessoas que não ouvem a Palavra de Deus, acabam não ouvindo também os apelos
da realidade que as cerca, e conseqüentemente tornam-se mudas, não falando a
palavra certa na hora certa. Não ficam indignadas com nada; passam pela vida
sem influenciar, indo na onda da sociedade de consumo.
Uma Comunidade que não ouve
corretamente a Palavra de Deus, confrontando com a realidade do seu meio,
também se torna muda, não fala nem faz nada de transformador, em direção ao
Reino Deus.
Jesus, no seu primeiro discurso na
sinagoga de Nazaré, disse que veio para abrir os olhos dos cegos, dar audição aos
surdos e libertar os oprimidos, anunciando o ano da graça do Senhor (Cf Lc
4,18-19).
Muitas pessoas são como aquelas que
Jesus citou na parábola do samaritano: passam ao lado do irmão ferido e fecham
os olhos para não ver. Ou então, como o rico da parábola: vivem uma vida
inteira ao lado do Lázaro e não se tocam. Não existe nada mais forte para tapar
os ouvidos, os olhos e a boca das pessoas, do que o apego às riquezas.
Jesus “olhando para o céu, suspirou e
disse: ‘Efatá’, que quer dizer: Abre-te!” Recordando esta cena, no nosso
batismo o padre fez um gesto parecido: colocou a mão nos nossos ouvidos e na
nossa boca, e disse: “Efatá!”
Quando o povo hebreu era escravo no
Egito, Deus apareceu para Moisés e disse: “Eu vi a opressão de meu povo no
Egito, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de
seus sofrimentos, e desci para libertá-los” (Ex 3,7-8). Deus tem os olhos e os
ouvidos abertos. Assim como chamou Moisés, ele chama os seus filhos e filhas,
em todos os tempos e lugares, a fim de libertarem o seu povo. Deus ama o seu
povo, e não quer vê-los como ovelhas sem pastor.
“Jesus afastou-se com o homem para
fora da multidão”. É interessante que a primeira coisa que Jesus fez com o
homem foi afastá-lo para longe da multidão. O primeiro objetivo foi ter um
contato mais pessoal com ele. Nós não podemos ficar só “na multidão”, mesmo que
essa multidão seja de cristãos.
O segundo objetivo de Jesus é para
que o homem, depois de curado, pudesse voltar para o meio do povo, ouvindo e
falando sem dificuldade, inclusive para ajudar os outros.
Os nossos bispos, reunidos em
Aparecida, disseram: “Vivemos uma mudança de época, e seu nível mais profundo é
o cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o
mundo e com Deus” (DA 44). Portanto, a nossa missão é grande, como “discípulos
e missionários de Jesus Cristo, para que o povo tenha mais vida nele”.
Havia, certa vez, uma menina que
morava na roças. E um pássaro muito bonito começou a entrar no quarto dela. Ela
comprou ração apropriada e espalhou em cima do guarda-roupa, e também uma
tacinha de água, já preparada para não transmitir dengue.
Assim, o belo passarinho fez amizade
com ela. Parecia que os dois eram velhos amigos. Todos os dias ele aparecia.
Suas penas eram brilhantes e seus olhinhos encantadores.
Com medo de perder o amiguinho, a
garota o prendeu numa gaiola. Poucos dias depois, suas penas perderam o brilho
e ele passou a contar diferente, um canto parecido com choro. Passava o dia
todo olhando para a janela.
Quando percebeu o erro que havia
cometido, mais que depressa a menina abriu a gaiola e a ave foi-se embora, para
nunca mais voltar.
Que Cristo abra os nossos ouvidos e
olhos para contemplarmos a natureza, mas sem prejudicá-la!
O exemplo de Maria Santíssima é
maravilhoso. Ela não foi surda nem muda, mas ouviu o apelo de Deus, entendeu-o
direitinho e o cumpriu com generosidade. No magnificat, ela mostrou que ouvia
também os anseios do povo, e falava com coragem. Que ela nos ajude a nos
aproximarmos de seu Filho, a fim de que ele, dizendo “Efatá!”, nos cure da
surdez e da conseqüente dificuldade em falar.
Aos surdos faz ouvir e aos mudos
falar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário