3 Abril
2020
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 20, 10-13
10Ouvia invectivas da multidão: «Cerco de
terror! Denunciai-o! Vamos denunaá-to!» Os que eram meus amigos espiam agora os
meus passos: «Se o enganarmos, triunfaremos dele, e dele nos vinçsremos.s+O
Senhor, porém, está comigo, como poderoso guerreiro. Por isso, os meus
perseguidores serão esmagados e cobertos de confusão, porque não hão-de
prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da rnemode," Mas Tu, Senhor
do universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa
contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa!13Cantai ao Senhor, glorificai o Senhor, porque
salvou a vida do pobre da mão dos malvados.
Jeremias chamou o povo à conversão durante
anos: Mas o povo não o quis escutar. Agora, deve anunciar que o juízo de Deus é
irrevogável, e que o castigo vai abater-se sobre Israel: Jerusalém irá cair às
mãos do rei de Babilónia. É nesta situação, extremamente difícil e dolorosa,
que o profeta pronuncia a sua última «confissão» (vv. 7-18). O texto é
simultaneamente autobiográfico e paradigmático do destino do verdadeiro crente.
Jeremias evoca a sua vocação (vv. 7-9), recorda os momentos de mal-estar e de
rebeldia, provocados pelas perseguições, pelas calúnias e pelas traições de que
foi vítima (v. 10). Mas Jeremias, tal como Job, depois destes momentos de
desabafo, renova o seu acto de fé em Deus (vv. 11-13) que sempre esteve com ele
e que jamais o abandonará: «O Senhor, porém, está comigo, como poderoso
çuerrem» (v. 11). Foi o que Deus lhe tinha garantido no momento em que o
chamou: «Eu estou contigo para te salvam (Jer 1, 19). Estas palavras ecoaram em
cada um dos momentos da vida do profeta, particularmente nos mais difíceis. E
continuam a ecoar. Por isso, Jeremias rende-se completamente a Deus, deixando
para trás as resistências e as rebeldias.
Evangelho: João 10, 31-42
Naquele
tempo, os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus, então32Jesus replicou-lhes: «Mostrei-vos muitas obras boas
da parte do Pai; por qual dessas obras me quereis apedrejar?»33Responderam-lhe os judeus: «Não te queremos
apedrejar por qualquer obra boa, mas por uma blasfémia: é que Tu, sendo um
homem, a ti próprio te fazes Deus.»34Jesus
respondeu-lhes: «Não está escrito na vossa Lei: 'Eu disse: vós sois deuses,?35Se ela chamou deuses àqueles a quem se dirigiu a
palavra de Deus - e a Escritura não se pode pôr em dúvida _36a mim, a quem o
Pai consagrou e enviou ao mundo, como é que dizeis: 'Tu blasfemas', por Eu ter
dito: 'Sou Filho de Deus,?37Se não faço as
obras do meu Pai, não acrediteis em mim;38mas se as faço,
embora não queirais acreditar em mim, acreditai nas obras, e assim vireis a
saber e ficareis a compreender que o Pai está em mim e Eu no pai.»39por isso procuravam de novo prendê-lo, mas Ele
escapou-se-lhes das mãos.t'Depois, Jesus voltou a retirar-se para a margem de
além-Jordão, para o lugar onde ao princípio João tinha estado a baptizar, e ali
se demorou. 41Muitos vieram ter com Ele e comentavam: «Realmente
João não realizou nenhum sinal milagroso, mas tudo quanto disse deste homem era
verdade.» 42E muitos ali creram nele.
Durante os dias da festa da Dedicação do
Templo, Jesus anda livremente no pórtico de Salomão, quando é rodeado pelos
judeus que, mais uma vez, o interrogam. O Senhor responde-lhes com
frontalidade. Gera-se, então, mais um vivo debate, que aumenta de intensidade,
a ponto de os adversários de Jesus agarrarem em pedras para O lapidarem. Várias
vezes tinham tentado prendê-I' O por causa das suas «obrss», nomeadamente as
curas em dia de sábado. Agora acusarn-nO de blasfemo, por se fazer igual a
Deus, sendo um homem (v. 33).
Jesus responde, primeiro referindo a Palavra
de Deus, que todos aceitam, e, depois, apelando para a obras realizadas, que os
seus adversários puderam testemunhar. Trata-se da última tentativa para lhes
abrir o coração à fé. Jesus apela para as suas obras que são «palavra». Se
Jesus não é condenável por causa de nenhuma delas, porque não acreditar na
verdade do que diz? Mas a comunicação manifesta-se impossível. Por isso, Jesus
volta para além do Jordão, onde João dera testemunho da verdade, onde
apareceram os primeiros discípulos, e onde muitos começam a acreditar. Na
experiência da recusa, brota um germe de fé nova, que antecipa o evento pascal.
Meditatio
«A paixão é a obra-prima do amor do Coração de
Jesus», escreveu leão Dehon (OSP 3, p. 305). De facto, o Coração de Jesus
alcançou a vitória sobre o mal servindose de todos os sofrimentos para
manifestar um amor maior: «Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda
éramos pecadores é que Cristo morreu por nÓ9> (Rm 5,8).
A primeira leitura de hoje faz-nos entrar nos
sentimentos de Jesus, e ajuda-nos a compreender, por quanto é possível, a
vitória que alcançou na sua paixão. Jeremias, tendo anunciado o castigo de Deus,
sente-se abandonado por todos, e enfrenta a hostilidade da multidão. Sabe que
não se pode salvar pelos seus próprios meios, e abandona-se a Deus: «Senhor do
universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa
contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causal» O
abandono nas mãos de Deus é já uma vitória. Mas o profeta não renuncia à
vínçança, entregando-a, todavia, nas mãos de Deus, que é justo e saberá fazer
justiça. E um primeiro passo. Mas Jesus irá mais longe. Não lhe escutamos
palavras semelhantes durante toda a Paixão. Ele sabe que o Pai lhe há-de fazer
justiça, punindo o pecado, porque o mal não pode triunfar. Mas afirma-o com
sentimentos de profunda dor, e até chorando, como faz quando fala da destruição
da Jerusalém, que resiste à conversão (cf. lc 13, 34). No alto da cruz, não
pede a Deus a vingança dos seus inimigos, mas que lhes perdoe: «Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!» (Lc 23, 34).
No evangelho, Jesus revela a sua identidade,
não só por meio de palavras, mas também por meio de obras: «Se não faço as
obras do meu Pai, não acrediteis em mim; mas se as faço, embora não queirais
acreditar em mim, acreditai nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a
compreender que o Pai está em mim e Eu no Pai». Diante desta afirmação, mais
uma vez os ânimos se dividem. Enquanto «muitos ali creram nel(!», outros não
acreditaram e até se acirraram mais contra Ele.
Provavelmente estas tendências contraditórias,
no que se refere à fé, talvez também se encontrem nos nossos corações. A nossa
caminhada de fé tem momentos altos e momentos baixos. Por vezes, temos a
sensação de que a multidão, de que nos fala o evangelho de hoje, est&
aacute; dentro de nós. Jesus ensina-nos a resistir a estas oscilações perigosas. Para isso, é preciso fundamentar-nos solidamente na Sagrada Escritura. Aí encontramos as palavras que dão fundamento e solidez à nossa fé porque, nelas, descobrimos a Palavra que é Jesus Cristo.
aacute; dentro de nós. Jesus ensina-nos a resistir a estas oscilações perigosas. Para isso, é preciso fundamentar-nos solidamente na Sagrada Escritura. Aí encontramos as palavras que dão fundamento e solidez à nossa fé porque, nelas, descobrimos a Palavra que é Jesus Cristo.
Dando solidez à nossa fé, a Palavra de Deus,
sobretudo os evangelhos, permitem sintonizar os nossos sentimentos com os de
Jesus Cristo. Assim, depois de um esforço semelhante ao que fez Jeremias, será
mais fácil para nós reagirmos à maneira do Coração de Jesus, durante toda a sua
vida, e particularmente na sua Paixão.
Oratio
Senhor Jesus, Tu afirmaste solenemente à
multidão que invectivava contra Ti: «Se não faço as obras do meu Pai, não
acrediteis em mim; mas se as faço, embora não queirais acreditar em mim,
acreditai nas obras, e assim vireis a saber e ficareis a compreender que o Pai
está em mim e Eu no Pap>. Assim mostraste que Te revelas, não só por
palavras, mas também por obras. Ajuda-me a viver em união contigo, e a escutar
atentamente as tuas palavras, para ter em mim os sentimentos que estavam no teu
Coração. Que nas minhas actividades, que em todas as circunstâncias, mesmo nas
mais difíceis, com as minhas palavras e com as minhas obras, eu posso ser sinal
do teu amor sem limites. Que saiba perdoar aos meus irmãos todas as suas faltas
para comigo, imaginárias ou reais. Que eu saiba rezar por eles, e oferecer-me
generosamente, em espírito de amor e de reparação. Amen.
Contemplatio
A paixão é a obra-prima do amor do Sagrado
Coração. Era dela que o profeta Habacuc dizia: «Domine, audivi auditionem tuam
et timui (Hab 3): Senhor, ouvi falar da vossa obra, da vossa obra por
excelência e fiquei tomado de espanto». Santo Agostinho dá este sentido moral
ao texto do profeta. S. Paulo não cessa de estar num êxtase de amor ao
contemplar este admirável mistério: «Jesus Cristo mostrou-nos tanto mais amor,
diz, quanto deu a sua vida por nós pecadores e Impios» (Rom 5). E S. João, o
apóstolo bem-amado, exclama: «Jesus Cristo amou-me e lavou-me com o seu sençue.
(Ap 1, 5).
Devemos, portanto, tentar, nós também,
penetrar nas profundezas deste abismo de caridade e excitar-nos ao amor do
Sagrado Coração, vendo quanto Ele nos amou.
Jesus Cristo é realmente, nos mistérios da
Paixão, o livro escrito por fora e por dentro, e quais são as letras que vemos
traçadas neste livro? Apenas estas: Amor. Os chicotes, os espinhos, os cravos
escreveram-nas em caracteres de sangue sobre a sua carne divina; mas não nos
contentemos em ler e em admirar exteriormente esta escritura divina no;
penetremos até ao Coração, e veremos uma maravilha bem maior: é o amor
inesgotável e inesgotado, que não tem em conta o que sofre, e que se dá sem se
cansar.
É a graça dos amigos do Sagrado Coração saber
sempre descobrir o amor de Nosso Senhor sob a exterioridade dos seus mistérios.
Mas onde podemos nós ver mais do que na Paixão? Se não o vemos aí, ou se não o
vemos senão superficialmente, convençamo-nos de que havemos de retirar pouco
proveito destes grandes mistérios dos sofrimentos de Jesus Cristo e que
prestaremos pouca glória a Deus. Para retirar todo o fruto possível desta
divina contemplação, estabeleçamos primeiro alguns princípios, depois falaremos
dos sentimentos especiais que ela deve excitar em nós.
O primeiro princípio é este: a paixão do
Salvador tira todo o seu mérito e todo o seu preço diante do seu Pai não tanto
dos seus sofrimentos exteriores nem mesmo da sua morte, mas do seu Coração, do
seu amor que o fez dar-se assim todo a nós.
O segundo princípio, é que Nosso Senhor quis
suportar estes sofrimentos extraordinários a fim de melhor nos mostrar o seu
amor e de nada poupar para ganhar o nosso. Este amor teria podido ser
igualmente grande, se Ele nos tivesse resgatado por um mínimo sofrimento, mas
que acção teria exercido sobre nós? Ter-nos-ia deixado insensíveis, e o Sagrado
Coração queria a toda a força ganhar os nossos corações.
O terceiro princípio é que o Sagrado Coração
tendo-se empenhado por amor, pelo seu Ecce venio, a tudo sofrer por nós, os
seus sofrimentos e a sua morte foram outros tantos actos de amor que operavam a
nossa Redenção; e o Coração de Jesus era a fonte donde brotavam todos os seus
méritos com os seus sofrimentos. Tal era a vontade divina à qual o Sagrado
Coração livremente se submeteu (Leão Dehon, OSP 2, p.305s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Eu Te amo, Senhor, minha força (SI 17, 2b).
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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