Tempo Comum – Anos Ímpares – VII Semana
– Segunda-feira
20 February 2017
Lectio
Primeira leitura: Ben
Sirá 1, 1-10
Toda a sabedoria vem
do Senhor e permanece junto dele para sempre. 2A areia dos mares, as gotas da
chuva, os dias da eternidade, quem os poderá contar? 3A altura do céu, a
extensão da terra, o abismo e a sabedoria, quem os poderá medir? 4A sabedoria
foi criada antes de todas as coisas, e a luz da inteligência, desde a
eternidade. 5A fonte da sabedoria é a palavra de Deus nos céus; os seus
caminhos são os mandamentos eternos. 6A quem foi revelada a raiz da sabedoria,
e quem pode discernir os seus planos? 7A quem foi manifestada a ciência da
sabedoria? E quem pode compreender a riqueza dos seus caminhos? 8Só há um
sábio, sumamente temível: o que está sentado no seu trono. 9Foi o Senhor quem a
criou, quem a viu e a mediu, e a difundiu sobre todas as suas obras, 10e por
todos os homens, segundo a sua liberalidade, e a comunicou àqueles que o amam.
O amor do Senhor é uma sabedoria gloriosa. Ele a comunica àqueles a quem se
revela, para que o vejam.
Ben Sirá faz parte dos
livros sapienciais, que têm grande interesse para a sabedoria, porque traçam um
caminho humano e espiritual que, partindo de uma dimensão humana atinge os
cumes da experiência divina. O nosso texto desenvolve três ideias principais:
Deus é fonte e sede da sabedoria desde toda a eternidade (vv. 1-4); a
sabedoria, tal como o mundo criado, é um mistério inacessível (vv. 2.3 e 6);
criada por Deus, a sabedoria foi por derramada abundantemente nas suas obras
(vv. 8-11).
A corrente sapiencial, importada do estrangeiro, foi adaptada pelo javista à sua teologia, que acentua a origem divina da sabedoria. Segundo o Livro dos Provérbios, ela foi criada por Deus antes do próprio mundo (8, 22-24). A própria sabedoria humana, que parece ter origem na experiência do homem e no estudo, tem, em última instância, a sua origem em Deus. Deus não só dá origem a vida, mas também à sabedoria. Ben Sirá, tal como Job (38-41) e Isaías (40, 12-14) sublinha o carácter misterioso e inacessível do mundo criado e da sabedoria. Sendo assim, só por dom de Deus é que o homem pode possuir a sabedoria. O coração do homem que ama a Deus é lugar que o Senhor privilegia para lançar a sabedoria. Há pois um certo paralelismo entre sabedoria e amor. Os verdadeiros sábios são os que amam a Deus. Habita neles a sabedoria, que é um atributo de Deus. Melhor ainda: habita neles o próprio Deus. Assim, no Ben Sirá já se respira o ar oxigenado do Novo Testamento, que celebra Cristo «sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24).
A corrente sapiencial, importada do estrangeiro, foi adaptada pelo javista à sua teologia, que acentua a origem divina da sabedoria. Segundo o Livro dos Provérbios, ela foi criada por Deus antes do próprio mundo (8, 22-24). A própria sabedoria humana, que parece ter origem na experiência do homem e no estudo, tem, em última instância, a sua origem em Deus. Deus não só dá origem a vida, mas também à sabedoria. Ben Sirá, tal como Job (38-41) e Isaías (40, 12-14) sublinha o carácter misterioso e inacessível do mundo criado e da sabedoria. Sendo assim, só por dom de Deus é que o homem pode possuir a sabedoria. O coração do homem que ama a Deus é lugar que o Senhor privilegia para lançar a sabedoria. Há pois um certo paralelismo entre sabedoria e amor. Os verdadeiros sábios são os que amam a Deus. Habita neles a sabedoria, que é um atributo de Deus. Melhor ainda: habita neles o próprio Deus. Assim, no Ben Sirá já se respira o ar oxigenado do Novo Testamento, que celebra Cristo «sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24).
Evangelho: Marcos 9,
14-29
Naquele tempo, tendo
Jesus descido do monte, ia ter com os seus discípulos, quando viu em torno
deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles. 15Assim
que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. 16Ele perguntou:
«Que estais a discutir uns com os outros?» 17Alguém de entre a multidão
disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo. 18Quando se
apodera dele, atira-o ao chão, e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e
fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não
conseguiram.» 19Disse Jesus: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco?
Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» 20E levaram-lho.Ao ver Jesus,
logo o espírito sacudiu violentamente o jovem, e este, caindo por terra,
começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca. 21Jesus perguntou ao pai: «Há
quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância; 22e muitas vezes o
tem lançado ao fogo e à água, para o matar. Mas, se podes alguma coisa,
socorre-nos, tem compaixão de nós.» 23«Se podes…! Tudo é possível a quem crê»,
disse-lhe Jesus. 24Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu
creio! Ajuda a minha pouca fé!» 25Vendo, Jesus, que acorria muita gente,
ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do
jovem e não voltes a entrar nele.» 26Dando um grande grito e sacudindo-o
violentamente, saiu. O jovem ficou como morto, a ponto de a maioria dizer que
tinha morrido. 27Mas, tomando-o pela mão, Jesus levantou-o, e ele pôs-se de pé.
28Quando Jesus entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular:
«Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?» 29Respondeu: «Esta casta de
espíritos só pode ser expulsa à força de oração.»
Jesus não permitiu que
os discípulos acampassem no Tabor. Mas nem Ele lá ficou muito tempo. Ao chegar
junto dos discípulos, viu-os rodeados por uma multidão, que não esperava a sua
vinda. Surpreendida, suspendeu a discussão com os discípulos, e acorreu a saudá-lo.
É então que o pai de um jovem endemoninhado Lhe fala do estado de saúde do
filho, acrescentando que os discípulos não tinham conseguido curá-lo.
O carácter iracundo de Jesus, várias vezes realçado no segundo evangelho, vem ao de cima: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá» (v. 19). Jesus verifica que a sua pregação e os milagres realizados não tinham conseguido consolidar a fé dos discípulos, nem da multidão. Daí a sua indignação. Todavia não abandona aqueles que sofrem.
O pai do jovem também tinha uma fé inconsistente. Mas, pelo menos, reconhecia-o com humildade: «se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (v. 22). Era já um princípio de fé, que Jesus intuiu. Partindo dessa fé inicial, e escutando a sua oração – «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» – Jesus concede-lhe uma fé mais robusta. Depois, realiza o milagre pedido, libertando o jovem do espírito mudo e deixando um breve intervalo de tempo para que se revelem a grandeza e o poder do amor. A multidão pensa que o jovem estava morto mas, pelo contrário, estava livre e podia iniciar uma nova vida.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.
O carácter iracundo de Jesus, várias vezes realçado no segundo evangelho, vem ao de cima: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá» (v. 19). Jesus verifica que a sua pregação e os milagres realizados não tinham conseguido consolidar a fé dos discípulos, nem da multidão. Daí a sua indignação. Todavia não abandona aqueles que sofrem.
O pai do jovem também tinha uma fé inconsistente. Mas, pelo menos, reconhecia-o com humildade: «se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós» (v. 22). Era já um princípio de fé, que Jesus intuiu. Partindo dessa fé inicial, e escutando a sua oração – «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» – Jesus concede-lhe uma fé mais robusta. Depois, realiza o milagre pedido, libertando o jovem do espírito mudo e deixando um breve intervalo de tempo para que se revelem a grandeza e o poder do amor. A multidão pensa que o jovem estava morto mas, pelo contrário, estava livre e podia iniciar uma nova vida.
Quando os discípulos interrogam Jesus sobre a sua incapacidade em curar o jovem, o divino Mestre acena, mais uma vez, à necessidade da oração.
Meditatio
Os livros sapienciais
da Sagrada Escritura, como o Ben Sirá, apresenta-nos um caminho humano e
espiritual que, partindo da realidade que somos e nos envolve, nos ensina a
permanecer nela, mas a elevar-nos até Deus. Noutros tempos, era uma atitude
bastante espontânea, também entre nós ocidentais. Hoje talvez não o seja tanto.
Mas é uma atitude que continua a ser necessária e parece mesmo urgente num
mundo vítima de convulsões, tal como o jovem de que nos fala o evangelho. Jesus
indica-nos dois meios para sairmos da loucura das convulsões que nos agitam: a
fé e a oração. A fé dá-nos um poder incrível, mesmo nas circunstâncias mais
difíceis, como podemos verificar na vida de tantos homens e mulheres ao longo
da bimilenária história da Igreja. A fé permite-nos re
zar de modo eficaz. A oração que, segundo Carlos de Foucauld, consiste em pensar em Deus amando-o, eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de uma qualquer circunstância. Pode um aspecto da Natureza, que nos leva a apreciar a sabedoria do Criador, que tudo dispôs com ordem e beleza. Mas também pode ser um sofrimento provocado por grave doença, uma qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a traição de um amigo, um insucesso profissional… Nestas circunstâncias pode ser mais difícil elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a envolver-nos. Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em qualquer circunstância, sem descurar os meios humanos, há que dirigir-se ao encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança. É a oração que nos permite abrir o cofre dos favores divinos, pois nos põe em contacto com o Deus vivo a quem, segundo o ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é importante para nós, pois Ele sabe o que mais nos convém ou não convém. De qualquer modo, havemos de louvar, dar graças, pedir perdão, oferecer, suplicar em qualquer circunstância. Esta atitude sapiencial enche-nos de paz, ainda que o Senhor não nos dê exactamente o que pedimos, porque nos põe em sintonia e em comunhão com Deus. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus, a ligação entre a terra e o céu.
zar de modo eficaz. A oração que, segundo Carlos de Foucauld, consiste em pensar em Deus amando-o, eleva-nos para o mesmo Deus, a partir de uma qualquer circunstância. Pode um aspecto da Natureza, que nos leva a apreciar a sabedoria do Criador, que tudo dispôs com ordem e beleza. Mas também pode ser um sofrimento provocado por grave doença, uma qualquer crise que nos perturba física e psiquicamente, a traição de um amigo, um insucesso profissional… Nestas circunstâncias pode ser mais difícil elevar-nos para Deus, dar-nos conta do amor com que continua a envolver-nos. Mas é possível, se tivermos a atitude do pai de que nos fala o evangelho. Em qualquer circunstância, sem descurar os meios humanos, há que dirigir-se ao encontro do Senhor e falar-Lhe com humildade e confiança. É a oração que nos permite abrir o cofre dos favores divinos, pois nos põe em contacto com o Deus vivo a quem, segundo o ensinamento de Jesus, dizemos: «Faça-se a tua vontade». Este abando a Deus é importante para nós, pois Ele sabe o que mais nos convém ou não convém. De qualquer modo, havemos de louvar, dar graças, pedir perdão, oferecer, suplicar em qualquer circunstância. Esta atitude sapiencial enche-nos de paz, ainda que o Senhor não nos dê exactamente o que pedimos, porque nos põe em sintonia e em comunhão com Deus. Rezar é, sobretudo, encontrar o acesso a Deus, a ligação entre a terra e o céu.
Oratio
Senhor Jesus, faz-me
compreender a lição do milagre que hoje escuto no evangelho. Faz-me compreender
que, para me curar, tenho de passar pela morte como o jovem possesso. O
importante é que me estendas a mão e me levantes. Também o nosso mundo precisa
de passar por uma morte que prepare a ressurreição. Tu também aceitaste morrer
para ressuscitar. Para isso, confiando sempre na fidelidade e no poder do Pai,
rezaste intensamente durante a agonia. Ensina-me também a acreditar e a rezar
para ser iluminado e, através da morte, encontrar o caminho para a vida. Amen.
Contemplatio
O dom de sabedoria é
um conhecimento saboroso de Deus, dos seus atributos, de Jesus Cristo, do seu
Coração e dos seus mistérios. A inteligência ajuda-nos somente a conceber a
Deus e os seus atributos; mas a sabedoria representa-nos Deus, a sua grandeza,
a sua beleza, as suas perfeições, os seus mistérios como infinitamente
adoráveis e amáveis: e deste conhecimento resulta um gosto delicioso que se
estende mesmo algumas vezes até ao corpo, e que é maior ou menor conforme o
estado de perfeição e de pureza em que a alma se encontra. (Leão Dehon, OSP4, p.
551).
Actio
Repete frequentemente
e vive hoje a palavra:
«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» (Mc 9, 24).
«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!» (Mc 9, 24).
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Subsídio litúrgico a
cargo de Fernando Fonseca, scj
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