Tempo do Natal – 3º dia da Oitava do
Natal > Festa de S. João
27 Dezembro 2016
Tempo do Natal – 3º
dia da Oitava do Natal > Festa de S. João
Lectio
Primeira leitura: 1
João 1,1-4
Caríssimos: 1*0 que
existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o
que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de
facto, a Vida manifestou-se; nós vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos
a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós
vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também vós estejais em comunhão
connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo.
4*Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.
No breve prólogo à sua
Primeira Carta, S. João expõe os critérios para entrarmos em comunhão com Deus.
Oferece-nos também um itinerário de fé, e indica as defesas a usar contra o
pecado.
João fundamenta a fé
cristã no «Verbo da vida», de que dá testemunho, indicando, e descrevendo de
modo sintético, as suas etapas essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu
evangelho, onde acentua o «Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá.
Tudo começa com a experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o
que ouvimos, o que vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram
relativamente ao Verbo da Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e
exemplo coerente (v. 2), anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que
o escutam e abraçam a fé, e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus
(v. 3). Esta comunhão, por sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).
A palavra «nós»
põe-nos diante da tradição da escola joânica, que desenvolve o testemunho do
discípulo amado, fundado na «vida divina» tornada visível em Jesus.
Evangelho: João 20,
2-8
2*No primeiro dia da
semana, Maria Madalena foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o
querido de Jesus, e disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos
onde o puseram.» 3pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam
os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou
primeiro ao túmulo. 5Inc/inou¬se para observar e reparou que os panos de linho
estavam espalmados no chão, mas não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão
Pedro, que o seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de
linho espalmados no chão, 7* ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça
não estava espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro
modo, enrolado noutra posição. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que
tinha chegado primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer.
João dá-nos neste
texto uma síntese dos acontecimentos verificados na manhã da Páscoa, em que são
protagonistas Maria Madalena, Pedro e ele próprio. A noite espiritual em que
tinham mergulhado os apóstolos está para dar lugar à experiência de fé, que
começa junto ao túmulo vazio, sinal da presença do Ressuscitado (v. 2). Ao
receberem a notícia de que fora retirada a pedra do sepulcro, e de que o corpo
de Jesus lá não estava, Pedro e João foram verificar o que sucedera. A sua
corrida revela amor e veneração, e faz pensar na Igreja que procura sinais visíveis
do Senhor, especialmente quando se encontra em dificuldade e não consegue
vê-lo. João chega primeiro do que Pedro ao sepulcro, devido à sua intuição
amorosa de discípulo amado, mas é Pedro quem entra por primeiro, devido à sua
função eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar a ordem das várias coisas que se
encontravam no sepulcro, e a paz que nele reinava, o discípulo amado abre-se à
visão da fé, acreditando nos sinais visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer»
(v. 8). Ainda não é a fé plena na Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu
espírito se abrir à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a
pessoa do Senhor e receber o dom do Espírito Santo, isto é, quando tiver
percorrido todo o itinerário da fé.
Meditatio
S. João é uma figura
de fundamental importância na Igreja primitiva. De facto, é o discípulo amado
que ensina a contemplar em Jesus, o Filho de Deus feito homem, para nos revelar
o rosto do Pai e o caminho que leva à comunhão com Ele. Por esta razão, João é
chamado teólogo. Os seus escritos levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de
Deus (cf. Jo 20, 31). O seu símbolo é a águia porque, como refere uma sentença
rabínica, a águia é a única ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João,
o sol é Cristo. A sua presença na comunidade descobre-se pela contemplação e
pela inteligência da Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é
«a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais
contemplaremos suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível
para nós em Jesus, Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO
S. João faz-nos
compreender quanta profundidade se encontra na pessoa do Filho, na sua união
com o Pai, na sua comunhão com Eleffi Incarnação tem por objectivo tornar-nos
participantes nessa comunhão divina: estamos «em comunhão com o Pai e com o seu
Filho, Jesus Cristo». A Incarnação aconteceu em vista da comunhão. Isto é
espantoso. A carne é causa de divisão! Por causa dela, estamos num lugar e não
noutro. Podemos chegar até às pessoas queridas pelo pensamento. Mas a carne
impede-nos estar em comunhão com elas. E quantas discussões, litígios e
divisões por causa dos bens materiais! O Filho de Deus, ao assumir a nossa
carne, tornou-a meio de comunhão. Tudo o que assumiu se tornou instrumento de
comunhão com Deus e entre nós. Na Eucaristia, onde a carne de Cristo se põe ao
serviço da comunhão, fazemos a comunhão, isto é, recebemos a comunhão com o Pai
e a comunhão entre nós. Para isso, Cristo teve de sacrificar a sua carne, teve
de entregá-Ia aos inimigos, para fazer dela um sacrifício agradável, um
sacrifício perfeito. Então, a vida mostrou toda a sua força.
O evangelho de hoje
leva-nos até à Páscoa, mostra-nos a meta alcançada: a vida venceu a morte e
manifestou-se. O que João viu foi esta vitória da vida, manifestada no sepulcro
pelas ligaduras, pelo sudário. O corpo de Cristo já não está no sepulcro,
porque a vida triunfou. Mas Jesus incarnado está sempre connosco, porque a
vitória sobre a morte foi alcançada para nós.
Uma outra lição que
podemos tirar do evangelho de hoje é o respeito pelos carismas, que são muitos
na Igreja, para bem da mesma Igreja. João, que tem o carisma da profecia, é
respeitado Pedro, que tem o carisma da instituição. O respeito pelo
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
Com S. João, também
nós somos chamados a "conhecer", isto é, fazer experiência de vida e
a "crer", isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa
pessoa, "ao amor que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no
Verbo Incarnado. Esse inefável "amor que Deus nos tem … !", de que
João é «doutor», no dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão
e, em particular, para todo o oblato-SCJ.
É este mistério que
queremos proclamar diante da Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto,
diante da nossa vocação de Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.
Oratio
Senhor Jesus Cristo,
que revelaste a João, teu discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra,
dá-nos também a nós, hoje, e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual
das Escrituras. Assim poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida
espiritual, e aprender a tua ciência sublime.
Concede à Igreja
pastores sábios e santos, capazes de colher o sentido espiritual e profundo das
Escrituras e introduzir o povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos
conhecer o teu Coração, o teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o
modo como conduzes a história da Igreja.
Por intercessão do teu
discípulo amado, faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos
assíduos e delicados no teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como
S. João, realizar a tua vontade sobre nós. Ajuda-nos!
Contemplatio
S. João teve com Jesus
os laços mais íntimos: foi seu parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro.
Tiago e João eram filhos de Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de
Jesus. Era costume chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido
Jesus menino.
Ligou-se a Ele,
primeiro como discípulo com Santo André (Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista
chamar Jesus Cordeiro de Deus, deleitou-se com esse nome, meditava-o sem
cessar, e lembra-o muitas vezes no Apocalipse.
S. João está sempre junto
de Jesus. Quando Jesus toma aparte alguns apóstolos, para os mais belos
milagres, para a transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.
Senta-se junto de
Jesus. S. Pedro sabe bem que João é o amigo e que, por meio dele, pode conhecer
os segredos que Jesus não revela a todos.
S. João pode narrar em
pormenor os discursos de Jesus depois da Ceia porque os ouviu melhor que os
outros.
S. João ama como é
amado. Segue Jesus por todo o lado (Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á
até ao Calvário. Assiste à morte de Jesus, ao golpe misterioso da lança, à
sepultura. Vê de perto o lado de Jesus aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um
dia havia de fazer S. Francisco (Haurietis aquas in gáudio).
S. João é o herdeiro
de Jesus, que lhe legou a sua mãe e necessariamente com ela as habitações de
Nazaré e as lembranças.
Jesus disse a Pedro
que João devia esperá-lo e recebe-lo na terra. Hão rever-se em Patmos. João
reencontrará lá o divino Cordeiro de lado aberto: Agnum occisum … quem
pupugerunt.
Ó divina amizade, que
merece contemplação e admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).
Actio
Repete frequentemente
e vive hoje a palavra:
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
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