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domingo, 7 de fevereiro de 2016

Comentários Prof.Fernando

Comentários Prof.Fernando*               
5 ºdom do Tempo comum/após epifania 7 de fevereiro 2015
A “pesca maravilhosa”
1)   3 homens e uma história
·                     “Fazemos a história e a história nos faz. Cada um de nós é marcado pela época, pelo lugar social, pela situação econômica, política e religiosa em que vive e pelas opções feitas no decorrer da vida. (...) O profeta Isaías presenciou e vivenciou a injustiça praticada pela elite dirigente e as consequências dessa situação na vida do povo. De acordo com a sua fé em “Javé dos exércitos” (1,9), o “Santo de Israel” (5,19) – expressões muito usadas por ele para falar de Deus – e sensível aos pobres, carinhosamente chamado por ele de “meu povo”, Isaías denunciou: “Que direito têm vocês de oprimir o meu povo e de esmagar a face dos pobres ?” (3,15). Isaías exigia justiça dentro da monarquia davídica. Filho de seu contexto histórico-social, acreditava que um rei justo e bom poderia criar uma sociedade humana e fraterna” (cf. sinopse do livro de Enilda de Paula Pedro/Shigeyuki Nakanose Como ler o primeiro Isaías (1-39) Confiar em Javé, o santo de Israel, SP, ed. Paulus,1999). Em meados do século 8º a.C. aquele homem teve uma espécie de sonho ou visão fantástica (Isaías cap.6): estava no palácio do seu Deus Jahwé e ouviu Anjos Serafins exclamando: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! E Isaías gemeu: “Ai de mim, gritava eu. Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”. Em seguida, continua o profeta, um dos serafins voou em minha direção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz. Aplicou-a na minha boca e disse: Esta brasa tocou teus lábios e teu pecado foi tirado e tua falta, apagada”. Ouvi então a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei eu? E quem irá por nós?” “Eis-me aqui”, disse eu, “enviai-me (Isaías
·                    Outro homem, 800 anos depois, em carta aos amigos de Corinto (século 1 d.C) escreve a respeito de um certo Jesus Cristo: foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas, e em seguida aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos); depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos. E por último de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo. Como o antigo profeta, Paulo reconhece que foi transformado pela energia gratuita e divina. Diante do “Totalmente Outro” (o Kadósh hebraico é o “Santo”, o totalmente diferente da criatura humana) ele percebia como era pequeno (aliás, o menor de todos); ele se considerava como um aborto, uma interrupção, um incompleto. Afinal ele tinha escolhido ser um “caçador de clandestinos”, perseguidor de herejes, colocando-se a serviço da condenação dos traidores de sua religião. O “justiceiro” Saulo, tendo visto o Ressuscitado, tornou-se Paulo.
·                    Um terceiro homem, chamado Pedro, reconhece o seu lugar de “pecador” (no confronto com o Santo de Deus. Os demônios às vezes também diziam “afaste-se de nós”. Mas Pedro foi convocado para ser uma espécie de primus inter pares (o primeiro num colegiado) no grupo dos “doze” (círculo escolhido para ser as testemunhas principais do Ressuscitado; como diz o teólogo francês Jacques Fournier “seu nome parece personificar o grupo dos Doze”, e acrescenta que a divergência existente entre as confissões cristãs não está centrada no lugar singular que Pedro ocupa no Novo Testamento, mas na transmissão desta singularidade a seus sucessores. Foi esse “importante” Pedro que chegou a negar seu vínculo com o Mestre condenado à morte. No texto de hoje (Lucas cap.5), no entanto, Pedro tem consciência de que é (como Isaías ou Paulo) um “ser pecador”: Vendo isso [a pesca milagrosa] Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: “Afasta-se de mim, Senhor [um dos principais títulos com que o Novo Testamento reconhece a Divindade] porque sou um homem pecador.

2)    Quem sou eu?
·                    Cada um de nós se pergunta: qual o sentido de minha vida? Qual é minha vocação, ou: a que missão sou chamado? Que projetos posso realizar? Cada qual (em sua profissão, sua história pessoal, seu contexto, seu grupo social, meio familiar ou político-social), pode certamente fazer coisas maravilhosas, verdadeiros “milagres”. Não por ser melhor do que outros. E o fará desde que seja humilde (verdadeiro) a ponto de reconhecer-se em suas limitações e fraquezas (contextuais, familiares, corporais, de saúde, de recursos, etc.). Quem se “realiza” ou encontra seu caminho (“vocação”) na vida (inclusive aqueles que não são movidos por crenças “religiosas”), de algum modo já viveu a experiência do milagre, percebeu sua “pesca maravilhosa” na vida.

3)   trabalhamos e... nada! mas por causa de tua palavra lançarei a rede
·                    A mensagem da “pesca maravilhosa” não está centrada no “milagre”. O centro da narrativa (como em Isaías e em Paulo) está em reconhecer quem é o Santo, quem é o Pecador. Aquele que é o Transcendente, porém, só pede para confiar em sua Palavra. Confiança é reconhecer a Força que há em nós. E eka nos foi dada para sermos humanos integralmente.
·                    Não importa se somos limitados, carentes. Até mesmo capazes de fazer o Mal. Porque ele transforma os “lábios impuros” em boca de Profeta. Ele muda a raiva do fariseu “certinho” no reconhecimento que afirma: “sou o que sou” por obra e graça de quem é o único Bom e Santo. Ele convoca não só o pescador para tornar-se “pescador de seres humanos”, mas – seja qual for a profissão ou a história de cada um – todos são convocados a ser “fabricantes” de humanidade, pelo exercício da muitas “obras de misericórdia”, por meio da compaixão e da solidariedade.


oooooooooooo ( * ) Prof. (Edu/Teo/Fil,1975-2012) fesomor2@gmail.com

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