Domingo, 7 de
Fevereiro de 2016
Tema: 5º Domingo do tempo Comum
Isaias 6,1-2a. 3-8: Aqui estou, envia-me.
Salmo 137(138): Vou cantar-vos, antes os anjos, Ó
Senhor, e ante o vosso templo vou prostrar-me.
Coríntios 15,1-11: É isso o que temos pregado e é
isso o que crestes.
Lucas 5,1-11: Deixaram tudo e o seguiram.
1Estando Jesus um dia à margem do lago de Genesaré,
o povo se comprimia em redor dele para ouvir a palavra de Deus.2Vendo duas
barcas estacionadas à beira do lago, - pois os pescadores haviam descido delas
para consertar as redes -,3subiu a uma das barcas que era de Simão e pediu-lhe
que a afastasse um pouco da terra; e sentado, ensinava da barca o povo.4Quando
acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para
pescar.5Simão respondeu-lhe: Mestre, trabalhamos a noite inteira e nada
apanhamos; mas por causa de tua palavra, lançarei a rede.6Feito isto, apanharam
peixes em tanta quantidade, que a rede se lhes rompia.7Acenaram aos
companheiros, que estavam na outra barca, para que viessem ajudar. Eles vieram
e encheram ambas as barcas, de modo que quase iam ao fundo.8Vendo isso, Simão
Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um
homem pecador.9É que tanto ele como seus companheiros estavam assombrados por
causa da pesca que haviam feito.10O mesmo acontecera a Tiago e João, filhos de
Zebedeu, que eram seus companheiros. Então Jesus disse a Simão: Não temas;
doravante serás pescador de homens.11E atracando as barcas à terra, deixaram
tudo e o seguiram.
Comentário
O autor da primeira leitura situa a cena
no tempo concreto, ano 740 a. C., que corresponde à morte do rei Osias (740 a.
C.). O relato se divide em duas partes: A visão (vv 1-4) e a reação do profeta
(vv. 5-8). Uma terceira parte, que foi excluída em nosso texto litúrgico (vv.
9-13), narra a missão recebida pelo profeta. Realmente todo o capítulo 13 forma
uma unidade literária. Por sua similaridade com os relatos de vocação de
Jeremias e Ezequiel que possuem essas mesmas três partes, alguns consideram
este relato como de vocação. Contudo, o conteúdo nos leva a pensar em um relato
de missão.
A cena começa a desenvolver-se
provavelmente no templo de Jerusalém, onde o profeta recebe a visão de uma
liturgia celeste. O profeta vê Javé com os traços de um rei exercendo o poder.
Também sobressai uma linguagem de plenitude expressada em frases como “o rodado
de seu manto enchia o templo”, “sua glória enche a terra toda” ... Os serafins
(serafim = ardente), seres alados de fogo, que não são ainda os anjos da
tradição posterior, estão acima do rei, em atitude e serviço. Os serafins
entoam o canto do “santo, santo, santo”. A santidade de Deus se torna visível
através de sua glória, e a glória de Deus se manifesta através de suas obras na
criação e através de suas ações libertadoras em favor do seu povo.
Nos vv. 5-7 aparece a reação de Isaías
ante a visão. O acento é colocado na impureza de seus lábios e a impureza dos
lábios de seu povo. Sente-se perdido porque talvez não tenha falado no momento
que devia, isto o torna impuro e incapacitado para exercer sua vocação de falar
em nome de Javé. A exclamação angustiada que expressa conversão é atendida com
um serafim que, através de uma brasa acesa, toca a boca para que lhe sejam
perdoados seus pecados. Isaías então está habilitado de novo como profeta, não
somente para falar mas para escutar a voz de Deus que busca um profeta.
Passando da angústia do pecado à segurança de ser acreditado para a ação de
profeta, responde de imediato “aqui me tens”, manifestando assim sua
disponibilidade e pertença absoluta à vontade do Senhor.
Da carta aos Coríntios, todo o capítulo
quinze tem como eixo temático a ressurreição, posta em dúvida no v. 12: “Como
dizem alguns que não há ressurreição dos mortos?” Ao começar o capítulo, Paulo
lembra a Boa Nova como o melhor presente entregue à comunidade de Corinto,
presente que foi recebido e mantido pela fidelidade às palavras anunciadas.
Aparece claro que o elemento comum aos cristãos de todos os povos, culturas e
tradições é a palavra de Deus. O conteúdo da Boa Nova é descrito por Paulo
citando um fragmento do primeiro credo cristão que tem a Cristo como
protagonista, a solidariedade como testemunha, seu ponto de referência: a sua
morte por nossos pecados, sua resposta solidária: as escrituras, a intervenção
direta de Deus: sua sepultura e sua ressurreição, aparecendo a muitos. O Deus
da vida e a vida de nosso povo é a razão de ser de toda vocação cristã, que é
vocação a defender e acrescentar a vida. “Para que tenham vida e vida em
abundância”.
No evangelho de hoje encontramos um diálogo
entre Jesus e Pedro, simples e profundo ao mesmo tempo, diálogo que poderíamos
dizer que é nosso em meio às águas tempestuosas deste mundo, enquanto nos
esforçamos em nadar contra a corrente. Pedro, por profissão, era o especialista
em saber o lugar e a hora precisa para pescar. Sabia que à noite e com águas
tranquilas se pesca melhor, isso ele havia feito toda a noite e não havia
pescada nada. Porém, chega Jesus e, sem ser pescador, lhe diz simplesmente que
lance as redes para pescar.
Pedro, o especialista, poderia ter dito
que não, que não era nem hora e nem lugar para pescar e tudo teria terminado
aí. No entanto, cala sua experiência e sabedoria (pescamos a noite inteira);
reconhece seu fracasso e desilusão (não pescamos nada) e “em nome de Jesus lança
as redes”. E já conhecemos o final do relato: uma pesca maravilhosa! Quando
Jesus pede a Pedro que “reme mar adentro” ele o convida a uma aventura que o
leva mais além das praias cotidianas em busca de um horizonte muito mais amplo.
E Pedro cresce pela palavra de Jesus. E este é o verdadeiro milagre: crer
quando tudo parece ilógico. A abundante pesca e as redes cheias de peixes são
somente a consequência da fé. Todos os relatos de milagres no evangelho começam
com a fé ou a suscitam, é a condição para ver a ação de Jesus. Quando não há
fé, Jesus simplesmente vai à outra margem como veremos nas próximas semanas. Se
cremos em Jesus então se realiza o milagre! Claro, a coisa não é tão simples,
precisa de uma fé muito grande dada por Deus. Peçamos essa fé para que, como
Pedro, creiamos em Jesus, obedeçamos à palavra, rememos mar adentro e lancemos
as redes para pescar, então veremos outro milagre em nossas vidas e em nossa
comunidade.
Ser discípulo de Jesus exige confiar em sua
palavra. A missão à qual Jesus nos quer enviar é ousada e por hoje ainda, com
poucas probabilidades de êxito. Jesus quer contar conosco para o projeto do
reino. Jesus convoca os apóstolos para que sejam pescadores de pessoas, por
isso toda vocação exige “remar mar adentro” para abandonar as seguranças da
margem, ter um horizonte ilimitado assumir responsabilidades e assumir uma
grande obra: O serviço ao reinado de Deus, isto é, uma utopia da que serão
beneficiários todos os homens e mulheres do mundo. Sem desmerecer o ofício dos
pescadores, o que Jesus propõe a Pedro é uma superação no oficio que até então
exercia: pescar homens e mulheres para o reino é uma empreitada mais nobre e
difícil que pescar peixes, é algo mais milagroso que a pesca que acabam de
realizar. Porém, alguns chamados a este novo trabalho são também convidados a
“deixar tudo” para seguir a Cristo. Jesus precisa deles dedicados o tempo todo,
dedicando todas as forças a esta “missão”. Pescar homens e mulheres para o
Reino exige renunciar a tudo mais e assumir a Jesus como única posse. A missão
à que são chamados exige desprendimento completo, para apegar-se totalmente a
Jesus. No relato de hoje os discípulos vão com Jesus, que vale muito mais que a
dos barcos cheios de pescadores que acaba de oferecer. Deixam essa abundante pesca,
motivo de admiração, porque compreendem que a vocação compromete o ser humano
em um trabalho que está acima dos trabalhos humanos diários. A vocação-missão é
um convite a colaborar com Deus, um trabalho milagroso. Oremos hoje por aqueles
que, deixando tudo, seguem a Jesus.
Oração
Ó Deus, nosso Pai e nossa Mãe, que misteriosamente
nos colocas na existência e nos fazes depositários deste caudal imenso que é a
vida, o tempo, a possibilidade de ser e de escolher, de querer e fazer, de amar
e construir. Queremos expressar-te nosso desejo de ser cada vez mais
conscientes do valor da vida que levamos entre as mãos, e a alegria terna de
saber que podemos fazer dela, diante de ti e diante da história, uma aventura
pessoal, irrepetível, de amor e felicidade. A ti que és amor e felicidade pelos
séculos dos séculos. Amém.
Comentário maravilhoso
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