QUARTA FEIRA DA OITAVA DA PÁSCOA 30/03/2016
1ª Leitura Atos 3, 1-10
Salmo 104 (105)3b “Guardai-me, ó Deus, porque é em Vós que procuro
refúgio
Evangelho Mateus 24, 13-35
"CAMINHANDO
COM JESUS"
Nhá Maria era uma senhora bem
pobre que gostava muito de vir em nossa casa para receber alguma ajuda. Naquele
tempo, o pedinte não era um estranho que causava medo e insegurança como hoje,
e nós a acolhíamos na mesa da refeição, porque jamais minha mãe permitia que
ela ficasse na porta ou na calçada, um filho de Deus tem que sentar-se á mesa,
nos dizia sempre. Claro que os tempos eram outros e ninguém pensava em
seqüestro ou assalto. Depois de ouvi-la atentamente, a conversa sempre
terminava com a frase tão batida lá em casa, “Se for da vontade de Deus, tudo
vai melhorar e dar certo”, que minha mãe dizia, enquanto preparava um cafezinho
fresco que a Nhá Maria tomava antes de ir embora, toda agradecida, não sem
antes ajudar a arrumar a cozinha.
Este evangelho mostra algo
que hoje não se pratica muito em nossas relações: ouvir as pessoas, caminhar
com elas, saber como está a vida, o que anda pensando ou sonhando, ou porque
andam tristes. Passamos de carro, sempre apressados, e no máximo fazemos um
aceno ou buzinamos para os conhecidos.
O caminhante que se junta aos
dois peregrinos age diferente, percebe que estão tristes e desanimados, se
junta a eles, quer saber o que aconteceu, qual a causa da tristeza, ouve com
atenção e somente depois é que vai falar, não deixou suas inquietações sem uma
resposta, não terminou a prosa com aquele jeito resignado “fazer o que, a vida
é assim mesmo...” Como muitas vezes encerramos nossa conversa com alguém que
está sofrendo ou desanimado. É bem verdade que os censurou por serem tão lerdos
na compreensão da escritura antiga, mas a conversa foi agradável, marcada pela
ternura, pois não se pode anunciar o evangelho com gestos bruscos e cara feia,
como se quisesse dar uma lição de moral em quem ouve, isso é perda de tempo! O
texto não deixa dúvidas quanto a isso, seus corações ficaram abrasados,
enquanto Jesus lhes falava, levando-os a descoberta de algo novo, o sofrimento
faz parte da vida, mas não é a última palavra.
Considerando-se a
intencionalidade do autor, o texto trata de uma celebração eucarística, com
duas partes bem distintas: a Palavra e a Eucaristia, aliás, coisa que nós
cristãos herdamos do Judaísmo em uma junção da Sinagoga, lugar da reflexão da
Palavra, e Templo, lugar do Sacrifício. Vivemos um tempo histórico diferente do
que viveram esses discípulos, porém a situação é quase a mesma, achamos difícil
perceber a presença do Senhor em meio a um quadro muitas vezes desolador, e a
história de Emaús, mais parece uma bela lembrança. Eis uma fé distorcida e
fragilizada como a dos dois discípulos peregrinos! No coração do Cristão, Jesus
Ressuscitado na maioria das vezes é alguém distante de nossa vida e de nossos
problemas, parece que o Jesus da história é um, e o Jesus da Salvação é outro,
Pois esse evangelho,
belíssimo por sinal, nos mostra que na comunidade, em cada celebração a
história se repete o Senhor nos questiona sobre o que estamos falando pelo
caminho desta vida, em que acreditamos, quais são nossas aspirações, o que
queremos ver realizado. A palavra que celebramos nos fala da vida de Jesus e de
nossa vida também, ela nos encoraja porque penetra em nosso coração, não se
restringindo a um mero rito.
Uma caminhada com uma prosa
saudável e edificante, fortalecedora e motivadora, não tem coisa mais
revigorante neste mundo, assim é que Jesus vem ao nosso encontro em cada
domingo. A palavra de Jesus que caminha com eles, não é conversa fiada,
lamentação e choramingos, porque as coisas não vão bem, em casa, na comunidade,
no trabalho ou na política, Jesus é alguém diferente, que encontrou um sentido novo
e sua palavra renovadora, fortalecedora é revigorante, porque nos faz dar a
volta por cima, por isso, aos seus discípulos de ontem e de hoje, ele vem
confirmar o seu projeto de salvação, anunciando que a morte e a força do mal,
não têm nenhum poder sobre o Reino que ele instalou no meio dos homens.
E depois de uma boa conversa,
em uma mesa de refeição, Cleofas e seu amigo de caminhada sentem que não podem
mais viver sem aquele homem, e o acolhem no coração, quando o conhecem no
partir do pão, onde o Senhor partilha com eles seus sonhos e projetos de vida,
que ajudam a construir o reino novo.
Não tenhamos medo de
percorrer o caminho de Emaús, onde levamos, é verdade, nossos desânimos e
fracassos, mas diante da palavra que nos aquece o coração, , manifestemos o
desejo de que o Senhor fique sempre conosco, “Fica conosco Senhor pois é tarde,
e a noite vem chegando”. E no pão que se parte e reparte, nos fortalecemos, e
voltamos com pressa á nossa comunidade, onde não há mais noite, mas na fé
caminhamos com os irmãos e irmãs, diante da luz sempre reluzente que é o
próprio Deus, presente em Cristo - Jesus! (Diácono José da Cruz – Paróquia
Nossa Senhora Consolata – Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
Diácono José da Cruz; linda reflexão. Que Deus continue te iluminando nesta bela caminhada.
ResponderExcluirDiácono José da Cruz; linda reflexão. Que Deus continue te iluminando nesta bela caminhada.
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